Uma nova crise do petróleo?
Estamos experimentando, desde fevereiro, preços internacionais de petróleo batendo a casa dos U$ 100 o barril, níveis estes não vistos desde meados de 2014.
Fonte: Roberto Tonietto
- Presidente da RodOil - Administrador de empresas, MBA em Gestão
Empresarial pela FGV
Estamos experimentando, desde fevereiro,
preços internacionais de petróleo batendo a casa dos U$ 100 o barril, níveis
estes não vistos desde meados de 2014.
Questões geopolíticas, principalmente
guerras ou sansões, são os principais influenciadores dos preços. Desta vez não
foi diferente, porém, a subida de preços começou um pouco antes, por um fator
atípico que não estávamos acostumados a ver: uma pandemia.
Até o final de 2019, antes da pandemia,
o petróleo oscilava na casa dos U$ 60. No meu ver, um preço equilibrado, que
incentiva o desenvolvimento de energias alternativas e não criava uma pressão
inflacionária nas economias.
A pandemia criou um desequilíbrio
econômico mundial e com o petróleo não foi diferente. Inicialmente, com os
lockdowns em praticamente todo o mundo, o consumo reduziu drasticamente. Como
consequência, o preço despencou, chegando a operar no negativo (literalmente
pagando pra vender) para evitar o desligamento (caríssimo) de processos de
prospecção e refino. A redução estrutural da produção foi inevitável. Com a
retomada da atividade, a produção não teve a mesma velocidade. A “onda verde”
que tomou conta do planeta, colaborou com a não retomada. Grandes fundos
fugiram de investimentos em fontes poluidoras. Saímos de um petróleo de U$ 60
pré pandemia para um petróleo de U$ 80 pós pandemia.
A guerra deu mais um gás nos preços. Não
porque o país atacado é um grande exportador de petróleo e sua produção foi
afetada, como ocorreu na guerra do Kuwait em 1990. Desta vez foi porque o país
que atacou (Rússia) virou uma ameaça ao mundo. Cerca de 11% da produção mundial
de petróleo é dela e os grandes líderes mundiais não querem financiar uma ameaça
real, comprando o principal produto do inimigo. Porém, simplesmente trocar este
fornecedor não é tarefa fácil. As principais opções seriam Venezuela e Irã, mas
não é tarefa simples. A Venezuela está com seu parque produtivo arcaico. A
retomada não é tão rápida. O Irã já avisou que não irá abrir mão de seus
projetos atômicos para voltar a participar deste mercado.
Outras armas disponíveis já foram
usadas, mas só conseguiram que os preços não subissem mais: a liberação das
reservas estratégicas dos EUA e também da AEI (Agência Internacional de
Energia). Com estas medidas, somados ao fato da entrada do verão no hemisfério
norte, que reduz o consumo de diesel para aquecimento, tiraram um pouco a
pressão, mas o problema é estrutural e não se tem uma solução a curto prazo,
mesmo com o fim da guerra.
Infelizmente, poderemos experimentar níveis de preços recordes de petróleo nos próximos meses, podendo chegar a U$ 130 dólares o barril, reascendendo o fantasma da inflação com uma economia estagnada.
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