Guerra da Ucrânia: uma analogia com o segmento de vendas
Por Alberto Júnior, especialista em vendas,
treina times de venda de alto desempenho. Criou o Sistema Integrado de Venda
sem Filtro (SIVE) e é CEO da holding Grupo Life Brasil.
Dúvida, insegurança,
medo, interesse, desejo e necessidade são sentimentos que estão presentes em
todo processo de venda. E, não coincidentemente, são os sentimentos que
permeiam a disputa entre a Rússia e a Ucrânia. Posso dizer com convicção, após
pouco mais de 28 anos atuando no segmento comercial, que atitudes simples e
diferentes na negociação poderiam ter evitado a catástrofe que assistimos nos
noticiários atuais.
De um lado, temos um
vendedor que oferece um produto - no caso, a Rússia quer que o cliente, a
Ucrânia, aceite uma aliança. Mas os interesses desse potencial comprador eram
outros, e ele nem estava propenso a aceitar qualquer oferta deste comerciante.
E aqui temos o nosso primeiro impasse, muito comum durante as vendas: o
conflito de interesses e disputa de egos, pois os benefícios do acordo (ou
compra) não foram aceitos.
O erro no processo está
no vendedor. A Ucrânia mostrou-se ser um cliente sem medo de falar não e nem
ser destruída. A Rússia, ao invés de explorar a situação, se mostrando mais
empática na oferta, parte para a ameaça e retaliação. Normalmente, quando um
cliente se mostra resistente, os comerciantes se adaptam à sua realidade e
oferecem condições mais atrativas, partem para planos B, C, D ou quantos forem
necessários para persuadir. Mas ao querer mostrar seu poder com a invasão, só
deixou claro que, infelizmente, seu método de negociação é amador.
Várias etapas de vendas
foram desrespeitadas nessa trajetória. A primeira foi a preparação: a Rússia se
preparou por bastante tempo para essa ação e mostrou que planejamento a longo
prazo não significa execução perfeita. As estratégias para efetivar uma venda
precisam ser vistas e revistas, antes, durante e depois, com análise cuidadosa
dos pontos sensíveis que possam gerar uma reação negativa e como contorná-la.
Se tem algo que o
sistema de vendas exige é que o cliente tenha, no mínimo, confiança no
vendedor. E a Ucrânia não tem isso com a Rússia há muito tempo. Muito pelo
contrário: o comprador conhece a fama desse vendedor, que não é ilibado e muito
menos leal - essa é a reputação que os comerciantes prezam no mercado e, para
ser bem-visto por outros potenciais clientes, dependem da indicação dos antigos
que foram bem atendidos.
Como especialista,
desenvolvi o método 3, 2, 1, que pode ser aplicado em vários segmentos além das
vendas. Na primeira negativa de um cliente, espere dois meses para se
reaproximar e, caso haja novamente a recusa, dali um mês fale com ele de novo.
Quem sabe ele estará mais flexível?! A Rússia precisava de uma resposta
imediata, caso contrário, apertaria o temido “botãozinho vermelho”.
Podemos concluir que a
Rússia, enquanto vendedora, não procurou conhecer melhor seu cliente e nem
avaliou os efeitos colaterais de uma ação impetuosa. Mesmo tendo tempo, não
desenhou uma estratégia de persuasão assertiva. Sua reputação negativa perante
outras nações e situações fez com que a potencial compradora, Ucrânia, já
estivesse preparada para uma abordagem agressiva.
A Rússia foi fraca no
processo de descoberta dos interesses, desejos, necessidades, dúvidas,
inseguranças e medos do cliente. Ao coagir e subestimar a Ucrânia, mostrou um
perfil frágil e apressado para negociações, prejudicando, ainda, sua imagem
perante os outros países (potenciais novos clientes no futuro).
Essa análise é uma forma de percebermos como tudo na vida é venda e como isto influencia a política, a economia, a saúde e a sociedade no geral. É necessário ser resiliente, paciente e persistente e deixar marcas positivas em todas as negociações da vida.
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