Sem consensos, agendamento de PEC da Reforma Tributária para terça surpreende e desagrada
A
convocação da CCJ no final de semana para apreciar a PEC 110 da Reforma
Tributária nesta terça (31/5) provocou surpresa em todos, seja pelas
dificuldades, seja pelas resistências que o tema suscita. A segunda será de
pressão de todos os lados sobre os senadores e entre eles.
A
informação corrente é que o presidente do Senado Rodrigo Pacheco estaria
entrando em contato com líderes, assim como o relator Sen. Roberto Rocha,
pedindo que o texto seja aprovado como está na CCJ e que ajustes seriam
feitos em plenário posteriormente. Líderes dos setores de Serviços acham
que a proposta não faz sentido, e que todos os ajustes precisam
ser acertados ainda na CCJ, sem açodamento, e que avance no momento
oportuno, e não às vésperas da eleição.
A PEC
110, de 2019, é a proposta de reforma tributária que faz mudanças profundas na
estrutura de impostos sobre o consumo no país e é objeto de muitas
controvérsias. De um lado, Indústria e importadores de bens se beneficiam
da mudança e apoiam a medida. Do outro, serviços ao consumidor,
medicamentos e até alimentos devem ter aumento de impostos e se
opõem, juntamente com os médios e grandes municípios.
A reforma
faz duas mudanças principais:
1) Unifica PIS e COFINS e cria a CBS - Contribuição sobre Bens e Serviços, de
âmbito Federal.
Já existe na Câmara o projeto de lei 3887/2020, que trata do assunto e aguarda
aprovação da PEC 110. No texto está previsto uma alíquota única de 12% para
todos os
bens e serviços.
2) Unifica ISS com ICMS para criar o IBS, que é o Imposto sobre Bens e
Serviços, que
também prevê uma alíquota única, deixando a possibilidade de alguns setores
terem
algum tipo de tratamento diferenciado em lei complementar. Porém, ainda não
existe
um projeto de Lei Complementar do IBS.
Setores
de Serviços e Agricultura rejeitam PEC 110
O motivo
da Rejeição de muitos setores de Serviços à PEC 110 é o pesado aumento de caga
que deverá atingir grande parte das empresas, em especial as que prestam
serviços ao consumidor final. Os alimentos e até medicamentos também devem
sofrer aumento de carga. No caso dos Serviços, isso ocorre porque, com a
alíquota única prevista para o IBS e para a CBS (no PL), atividades que
hoje recolhem pelo regime cumulativo 3,65% de PIS/COFINS e 2% a 5% de ISS,
deverão em regra ir para uma alíquota única de CBS de 12% (conforme PL) que se
somará a uma de IBS entre 15% e 20% (não há estimativas precisas).
Há uma
imensa variedade de situações, mas isso implicaria em um elevadíssimo aumento
de impostos sobre os Serviços. Se os tributos atuais de uma atividade for
a ilustrada acima, ao se somar os resíduos tributários e calcular por
fora, pode-se chegar a uma carga em torno de 9%, por exemplo, que se
passar a pagar 27%, sofrerá aumento de 200%! Se a carga for 14% e
passar para 28%, o aumento é de 100%!
Ainda que
o impacto sobre as empresas de Serviços que estão no Simples sejam objeto
de controvérsias, importante ressaltar que no setor de Serviços em geral,
75% dos empregos estão em empresas que estão no lucro real ou lucro
presumido.
A
mensalidade estudantil está próxima ao primeiro exemplo acima apresentado.
Fala-se na ideia de explicitar na PEC que o setor terá tratamento
diferenciado, mas a Educação, presentada pela ABMES, FENEP e outras
entidades não concorda com a mudança sem a garantia na Constituição de que
não haverá aumento de impostos com a reforma. Essa garantia, no geral, é a
mesma posição da maioria dos setores de serviços, representados pela
CEBRASSE, que tentou também buscar diálogo com o relator mas não se chegou a
qualquer avanço concreto.
A CNC
apresentou recentemente documento ao relator em que defende a adoção de
alíquotas variadas, sem aumento de carga sobre os setores, entre outras
medidas. A proposta se soma a outras que foram objeto de emendas e não
aceitas pelo relator. Sem avanços concretos nas negociações para equalizar
demandas e buscar mais consensos, setores como academias de ginástica,
transporte urbano, turismo, entre outros tem se colocado contrários a votação e
pela rejeição da Proposta.
O mesmo
ocorre com a Agricultura. A CNA reuniu essa semana seus presidentes de
Federações estaduais e resolveram reforçar o posicionamento contrário a
medida. A entidade teme prejuízos a base de produtores e forte aumento de
carga sobre parte dos alimentos. O relator da PEC 110, Roberto Rocha,
defende que a proposta irá simplificar o sistema de impostos e trará
ganhos de crescimento. Entretanto, não há estudos para dimensionar se
o crescimento seria semelhante se fossem feitas as mudanças no modelo e
adotassem alíquotas variadas ou outras soluções propostas. Rocha acredita
que os mais pobres consomem mais bens que serviços e a reforma os
beneficiária. Para os setores de Serviços, a eventual redução da carga
sobre os mais pobres não compensa a forte perda de emprego que esse estrato
da população teria com a perda dos empregos no setor de serviços, em razão
da forte queda da demanda. Para eles, a Reforma aumentaria a informalidade
e destruiria empregos em todo o
país e criaria em poucos estados.
Grandes e médios
munícipios também se posicionam contrários à PEC 110
A Frente
Nacional dos Prefeitos (FNP), que abrange as médias e grandes cidades e
representam 61% da população brasileira e 74% do PIB nacional, também se
coloca veementemente contra a medida, que acabaria com a autonomia
tributária dos municípios no ISS e provocaria perdas de arrecadação. A FNP
acredita que o sistema tributário deve ter melhorias progressivas e que a
proposta da PEC 110 é inadequada e insegura. A Frente soltou nota nesta segunda
contra a votação e o conteúdo da matéria.
Relatório enfrenta resistências
e proximidade das eleições atrapalha
O
relatório da PEC 110 foi lido na seção de 23 de fevereiro da CCJ pelo Senador
Roberto Rocha, mas tem sido objeto de grandes resistências. Na seção do
dia 16 de março, ocorreram intensos debates entre os Senadores e, diante
da eminente derrota, a votação foi adiada e as discussões encerradas.
Alguns senadores criticaram duramente os impactos sobre os serviços, os
reflexos no desenvolvimento regional, a ausência de uma minuta da Lei
Complementar que regulamenta e PEC, entre outros. Neste sentido, o Senador
Oriovisto afirmou que a PEC era um “salto no escuro” e precisaria ser
melhor avaliada.
Prevista então para votação em 23 de março, a sessão não ocorreu pela
dificuldade de avançar em acordos. A PEC voltou a pauta no dia 6 de abril,
mas novamente sem consensos, os senadores não deram quórum e não ocorreu a
sessão da CCJ. O tema manteve-se em evidência com o desejo do presidente
do Senado Rodrigo Pacheco de aprová-lo. Contudo, grande parte dos líderes
no Senado acredita que o momento pré-eleitoral não é adequado para votar
uma matéria desta dimensão e que isso deve ser tratado na
próxima legislatura, com o presidente eleito.
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