Menos reuniões, mais trabalho
Cada minuto gasto em uma reunião inútil consome
trabalho solo que é essencial para criatividade e eficiência
*Tatiany Melecchi e Ben
Laker
Nestes anos incertos e
complexos da pandemia, muitos profissionais têm se sentido sobrecarregados com
a quantidade de reuniões, e não é de se admirar: pesquisas recentes apontam
que, em média, eles passam quase de 85% do seu tempo envolvidos em encontros
intermináveis, em comparação com 23 horas por semana antes da pandemia e menos
de 10 horas na década de 1960.
Outra pesquisa
realizada pela Robert Half, consultoria de recrutamento especializada, com
2.800 profissionais aponta que os colaboradores remotos estão trabalhando mais,
passando muito mais tempo em reuniões e tendo que acompanhar mais canais de
comunicação.
Esses dados mostram que
quase 70% dos profissionais que fizeram a transição para o trabalho remoto por
conta da pandemia dizem que agora trabalham nos finais de semana e 45% dizem
que trabalham regularmente mais horas durante a semana do que antes.
Mesmo antes da
pandemia, uma pesquisa realizada com líderes sêniores em vários setores apontou
que 65% dos entrevistados disseram que as reuniões os impediam de concluir seu
próprio trabalho, 71% disseram que as reuniões são improdutivas e ineficientes
e 64% afirmam que as reuniões vêm à custa de um pensamento profundo.
Como resultado, muitas
organizações, incluindo o Facebook, estão adotando dias sem reuniões, durante
os quais as pessoas operam em seu próprio ritmo e colaboram com outras em um
horário conveniente para ambos.
Diante destes novos
cenários organizacionais, um time de pesquisadores resolveu avaliar o impacto
da redução de dias sem reunião nos índices de produtividade, engajamento e
satisfação dos colaboradores.
Essa pesquisa foi
realizada com mais de mil funcionários, em mais de 50 países e com 75
organizações, que introduziram de um a cinco dias sem reuniões por semana
(proibindo até mesmo reuniões individuais) nos últimos doze meses.
- Quase metade (47%) das empresas
reduziram as reuniões em 40% ao introduzir dois dias sem reuniões por
semana;
- As demais empresas tentaram
algo ainda mais ambicioso: 35% instituíram três dias sem reuniões;
- 11% implementaram quatro;
- Os 7% restantes erradicaram
completamente as reuniões.
Resultado de um dia sem
reunião
Quando um dia sem
reuniões por semana foi introduzido, a autonomia, a comunicação, o engajamento
e a satisfação melhoraram, resultando na diminuição do microgerenciamento e do
estresse, o que fez com que a produtividade aumentasse.
Resultado de dois dias
sem reunião
Quando as reuniões
foram reduzidas em 40% (o equivalente a dois dias por semana), descobriu-se que
a produtividade foi 71% maior porque os funcionários se sentiram mais
capacitados e autônomos. Em vez de ficarem presos a uma agenda, eles eram donos
de suas listas de tarefas e se responsabilizavam, o que consequentemente
aumentou a satisfação em 52%.
Resultado de três dias
sem reunião
A remoção de 60% das
reuniões, ou seja, o equivalente a três dias por semana aumentou a cooperação
em 55%. Os colaboradores substituíram as reuniões por formas melhores de se
conectarem individualmente, em um ritmo adequado para eles, geralmente usando
ferramentas de gerenciamento de projetos para auxiliar na comunicação. Com
isso, o risco de estresse diminuiu em 57%, o que melhorou o bem-estar
psicológico, físico e mental dos funcionários.
Resultado de quatro
dias sem reunião
Para as empresas que
instituíram quatro dias sem reuniões por semana, descobriu-se que o potencial
de microgerenciamento diminuiu em 74%: os colaboradores se sentiram
valorizados, confiáveis e 44% mais engajados e, consequentemente, trabalharam
mais pela empresa.
Resultado com zero
reunião
Com zero reuniões
ocorrendo quatro dias por semana, a comunicação foi 65% mais clara e
substancialmente mais eficaz. Houve muito menos mal-entendidos entre colegas;
as pessoas verificavam rapidamente uma conversa anterior do Slack ou um esboço
de projeto para revisar uma tarefa ou solicitação. Frases como “Achei que você
tinha me dito…” ou “Fiquei com a impressão de…” raramente eram usadas.
Embora os dados
destaquem a importância de adotar uma política de não reuniões por causa dos
benefícios, também existem algumas consequências não intencionais causadas pela
lei dos retornos decrescentes. Portanto, os gerentes precisam entender o que
funciona para seus contextos exclusivos com a finalidade de maximizar todos os
benefícios de uma estratégia sem reuniões. As vantagens dos períodos sem
reuniões começam a se estabilizar depois que esses encontros são reduzidos em
60% e, na verdade, diminuem além disso. Por exemplo, satisfação, produtividade,
engajamento e cooperação diminuem quando as reuniões são totalmente eliminadas.
Embora possa parecer
contraintuitivo, a pesquisa concluiu que ter muitas reuniões prejudica a
colaboração eficaz, atrapalha os funcionários durante suas horas mais
produtivas e interrompe a linha de pensamento das pessoas.
Consequentemente, a
conclusão foi que o número ideal de dias livres de reuniões são três, deixando
dois dias por semana disponíveis para reuniões por dois motivos: manter
conexões sociais e gerenciar agendas semanais.
As reuniões oferecem
uma oportunidade de socializar. Um período sem reuniões é uma remoção implícita
de oportunidades de conexão — mesmo que as reuniões não sejam a maneira
orgânica pela qual os humanos interagem uns com os outros. Em ambientes de
trabalho remoto, o risco de isolamento é excepcionalmente alto e, portanto, os gerentes
devem criar deliberadamente oportunidades de socialização. Reuniões informais e
sem agenda podem efetivamente atender à necessidade humana de contato social.
Não importa o
cronograma proposto, a transição para um número limitado de dias de reuniões
exigirá alguma criatividade de agendamento. Isso ocorre porque esses tipos de hacks de produtividade no
trabalho, se não forem levados a sério, podem simplesmente levar as pessoas a
empurrar as reuniões para um dia diferente. Se não for tratado, esse efeito de
transbordamento pode resultar em sobrecarga de agendamento e se tornar um
estressor regular para você e seus funcionários. Não se reunir em alguns dias e
empacotar todas as reuniões em outro dia não resolve nada.
Implementando uma
prática sem reuniões
Se você deseja
implantar uma política de não reuniões ou ajustar a já existente, é preciso se
conectar com a sua equipe. Separei alguns passos:
- Conecte-se
com a sua equipe
Solicite feedback antes de iniciar as
alterações nas práticas atuais de reunião. Você pode fazer isso circulando a
premissa por trás e raciocinando por períodos sem reuniões. Aqueles que
trabalham de forma multifuncional em projetos podem causar algum retrocesso,
portanto, ofereça uma razão clara e convincente para introduzir essa nova
política nas agendas semanais de todos. Talvez vários membros da equipe estejam
trabalhando em projetos complexos que exigem mais tempo para pensar nos
desafios — ou talvez as agendas de todos estejam muito cheias de reuniões para
cumprir prazos de trabalho rigorosos.
- Incentive a
informalidade
Os humanos são
contadores de histórias, então permita que os membros de sua equipe sejam quem
eles são. Nossa pesquisa considerou benéfico que memes, assuntos atuais,
esportes, notícias de celebridades, planos de férias e emojis sejam
compartilhados e discutidos em plataformas de comunicação interna. Os
funcionários veem essas interações informais como extensões de si mesmos e
acreditam que o ambiente de trabalho deve permitir que expressem a totalidade
de quem são. Quando as conversas informais fluem em sua empresa, as barreiras
da formalidade são removidas; a maioria das perguntas (87%) é respondida no
bebedouro virtual — como um quadro de mensagens — ou em uma plataforma de
mensagens diretas, como Slack ou Teams, e as reuniões se tornam coisa do
passado. Fornecer um fórum para desabafar social, contar histórias ou relaxar
juntos é sempre apreciado, descobrimos.
- Pratique
melhor a higiene das reuniões
O principal desafio das
empresas ao fazer essa transição é encontrar uma maneira nova e organizada de
colaborar. Pode ser fácil voltar a padrões antigos, portanto, forneça regras
básicas para ajudar os funcionários a se adaptarem à nova abordagem.
- Tenha
objetivos claros
Certifique-se de que
cada reunião tenha uma agenda clara e o resultado esperado. As reuniões que não
possuem esses dois elementos provavelmente não foram bem pensadas e,
provavelmente, o problema poderia ter sido resolvido apenas em um e-mail.
Incentive sua equipe a cancelar reuniões que não sejam o melhor uso de seu
tempo; ser criterioso sobre quais reuniões agregam valor e quais não agregam
pode ajudar a liberar ainda mais seus calendários.
Em última análise, as
políticas de ausência de reuniões permitem uma colaboração eficiente, ao mesmo
tempo em que evitam que o trabalho focado e direto seja interrompido.
Observamos que os funcionários apreciam essas políticas, que permitem que eles
se destaquem sem quebrar seu ímpeto. Após um período de ajuste, a maioria das
equipes vê o valor de tornar as reuniões uma ocorrência pouco frequente,
principalmente se ocorrerem apenas dois dias por semana. Com as reuniões
gerando tão pouco retorno sobre o investimento de tempo, o custo de
oportunidade é muito alto para não agir agora.
Por um lado, o tempo é
soma zero. Cada minuto gasto em uma reunião inútil consome tempo para trabalho
solo que é igualmente essencial para criatividade e eficiência. Entretanto,
agendas repletas de reuniões interrompem o “trabalho profundo” — um termo que o
professor de ciência da computação de Georgetown, Cal Newport, usa para
descrever a capacidade de se concentrar sem distração em uma tarefa
cognitivamente exigente. Em um estudo recente, gerentes em geral nos Estados
Unidos e na China nos disseram que isso acontece “com muita frequência!”. Como
consequência, as pessoas tendem a chegar cedo ao trabalho, ficar até tarde ou
usar os fins de semana para descansar... de forma concentrada.
Nesses anos de
pandemia, quantas vezes você acordou mais cedo para trabalhar e fazer suas
entregas antes do horário do trabalho ou ficou trabalhando depois do jantar e
finais de semana porque passou praticamente a semana inteira em reuniões
virtuais?
Certamente, as reuniões
são essenciais para permitir a colaboração, a criatividade e a inovação. Elas
geralmente promovem relacionamentos e garantem a troca de informações adequada,
além de fornecer benefícios reais. Mas por que alguém argumentaria em defesa de
reuniões excessivas, especialmente quando ninguém gosta muito delas?
Porque os executivos
querem ser bons soldados. Quando eles sacrificam seu próprio tempo e bem-estar
para reuniões, eles assumem que estão fazendo o que é melhor para os negócios —
e não veem os custos para a organização. Eles ignoram o custo coletivo da
produtividade, foco e engajamento.
Cada minuto gasto em
uma reunião inútil consome trabalho solo que é essencial para criatividade e
eficiência. Agendas cortadas interrompem o pensamento profundo, de modo que as
pessoas chegam ao trabalho mais cedo, ficam até tarde ou usam os fins de semana
como momentos de silêncio para se concentrar. E comportamentos disfuncionais em
reuniões estão associados a níveis mais baixos de participação de mercado,
inovação e estabilidade no emprego.
SOBRE OS AUTORES
Ben Laker (@drbenlaker)
é professor de liderança na Henley Business School da University of Reading.
Vijay Pereira é professor de gestão estratégica e internacional de capital
humano na NEOMA Business School. Pawan Budhwar é o Professor do 50º Aniversário
de Gestão Internacional de Recursos Humanos na Aston Business School da Aston
University. Ashish Malik (@maliknewcas) é professor associado de gestão
estratégica de recursos humanos na Newcastle Business School da Universidade de
Newcastle.
Sobre Tatiany Melecchi
Tatiany Melecchi é
mestre em Marketing pela Massey University, Nova Zelândia, a primeira
brasileira certificada como Professional in Talent Development pela
ATD
(Association for Talent and Development) nos EUA, Coach ACC pela ICF pela International
Coach Federation e Facilitadora Internacional Certificada pela LTEN (Life
Sciences Trainers & Educators Network) nos EUA e facilitadora Internacional
certificada em Neurociência da Gestão da Mudança pela 7th Mind, Inc nos EUA.
Top performer em Vendas
na indústria farmacêutica no Brasil e Nova Zelândia, Tatiany Melecchi reúne
mais de 20 anos de experiência nas áreas de vendas, marketing e treinamento e
desenvolvimento de times comerciais em empresas globais com resultados
expressivos no Brasil, Nova Zelândia & Estados Unidos.
Atualmente é autora da ATD Sales Enablement Community of Practice e CEO Fundadora da Consultoria Transforma People & Performance, onde dedica a sua carreira à pesquisa e desenvolvimento de metodologias e soluções inovadoras de aprendizagem. que visam facilitar a transferência do aprendizado para prática nas organizações e consequentemente maximizar a performance e resultados.
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