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O momento atual e as perspectivas do mercado de venture capital


*Por André Zogbi 

No início de 2020, anunciávamos o primeiro fechamento do terceiro fundo da Mindset Ventures quando a pandemia se iniciou. Em meio ao novo cenário, grandes fundos de venture capital congelaram seus investimentos, forçando o mercado a ajustar os preços e abrindo portas para investirmos em companhias excepcionais sob condições extremamente atrativas. Tal janela de oportunidades perdurou por pouco tempo devido a duas razões: primeiramente, investidores tendem a superestimar as notícias, o que se reflete na volatilidade de curto prazo dos preços de mercado. Além disso, naquele momento, os fundos de VC que interromperam seus investimentos se depararam, em pouco tempo, com certa pressão para cumprirem o prazo estabelecido para finalizarem seus investimentos.

De lá até o final de 2021, o mercado de venture capital bateu novos recordes de volume de investimento, dando origem a uma única discussão: estaríamos vivendo uma bolha? Em julho de 2021, a Forbes publicou um artigo expondo a fala de um autor anônimo que resume o contexto da época:

“Não estávamos captando, até que um investidor antecipou nossa rodada e agora estamos levantando um Series A de US$ 15 milhões a US$ 150 milhões de valuation pre-money com praticamente nenhuma geração de receita.”

Tamanha euforia não perdurou por muito tempo. Ao final de 2021, começamos a notar os primeiros sinais de uma desaceleração.

As oportunidades estão nas conturbações

Até o final de 2021, os valuations pareciam abusivos sem qualquer razão além da disponibilidade excessiva de dry powder. Encontrar boas empresas para investir não tem sido problema para nós há um bom tempo, mas, opostamente ao que vivemos há pouco mais de um ano, preços razoáveis se tornaram escassos. Com isso em mente, decidimos desacelerar nosso ritmo de investimento, buscando entender quando um ajuste geral de preços voltaria a ocorrer.

Não demorou até surgirem os primeiros sinais de um novo reajuste. Com o aumento de juros dos EUA, as consequências da guerra na Ucrânia surgindo e a inflação global atingindo outro patamar, o mercado entrou em uma espiral descendente penalizando bigtechs de capital aberto antes de quaisquer outras empresas de tecnologia, atingindo startups late-stage em um segundo momento e deixando as empresas early-stage para o final. O mercado foi inundado com notícias negativas, com a CNBC afirmando que “os bons momentos chegaram no fim”, o Crunchbase News expondo a primeira queda de investimentos de fundos de VC em um ano e o Tiger Global declarando a perda de 70% do que acumulou nos últimos 21 anos.

Os preços no mercado acionários parecem ter sido em grande parte ajustados e os valuations de empresas late-stage também sofreram grande corte, mas os de startups early-stage acabaram de começar a sofrer ajuste, restando espaço para maiores correções. Segundo a Carta, as rodadas Series C do 1T22 levantaram, em média, 23% menos recursos se comparadas ao 4º trimestre de 2021. Rodadas Series A e B foram menos afetadas, mas podem sofrer maior impacto em breve. Mais uma vez, os investidores ganharam poder de barganha nas negociações pela falta de capital disponível para empreendedores. Kyle Stanford, do Pitchbook, indicou que mais proteções a favor dos investidores devem voltar aos contratos de investimento antes que down rounds passem a ocorrer mais frequentemente. Eis o cenário perfeito para investimentos de longo-prazo, similar ao momento pandêmico em que acessamos oportunidades excepcionais cujos resultados já começaram a surgir em pouquíssimo tempo.

Curando as feridas

Fundos de venture capital precisam lidar com um extenso conjunto de variáveis, sendo duas delas a disponibilidade de capital para investimento e o prazo do fundo. Atualmente, a maioria dos fundos parece estar apreensiva em investir, esperando o mercado voltar a se recuperar para retomar a atividade. Ou seja, uma quantidade excessiva de capital deve ser investida em um intervalo curto de tempo em algum momento devido à pressão da aproximação do prazo final dos fundos, esticando os preços novamente em algum momento.

Nós, da Mindset Ventures, temos nos preparado para lidar com este cenário há algum tempo. Com um processo de investimento robusto implementado e inúmeras boas oportunidades de investimento a preços razoáveis na iminência de surgirem nos próximos meses, estamos ansiosos para voltarmos a investir!

*André Zogbi é responsável pela atividade de relações com investidores da Mindset Ventures. Formado em administração de empresas pela Fundação Getulio Vargas (FGV), Zogbi possui experiência em empreendedorismo e nos mercados financeiro e de investimentos alternativos, tendo passado por instituições como Banco Plural, Pátria Investimentos e XP Investimentos.

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