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Combate ao bullying como compromisso educacional

Dia 20/10 é o dia do Combate Mundial ao Bullying, um dos grandes desafios no setor de educação


Ana Paula Yazbek

O bullying em escolas é um tema que vem sendo discutido de maneira mais profunda entre professores (as) e pedagogos (as) nos últimos anos. Infelizmente, é uma daquelas práticas entranhadas na sociedade e que durante anos não era considerado como um problema de responsabilidade das escolas. Felizmente, este assunto entrou nas rodas de discussões pedagógicas como algo a ser combatido, diante dos danos graves que causa aos envolvidos e envolvidas. Muitas ações já têm sido feitas para combater este problema, mas ainda temos muito o que caminhar. Considerando que dia 20/10 é o Dia do Combate Mundial ao Bullying, é mais do que válido utilizar esse espaço para tratar de um assunto tão importante e desafiador na área de educação, especialmente quando falamos de crianças. O primeiro ponto que se coloca é a maneira como esse combate é feito. Obviamente, é necessário que as escolas busquem formas de mitigar problemas causados pela prática do bullying, seja sobre como lidar com a criança agressora, quanto com aquela que é agredida. Mas, é muito importante aprofundar essa discussão e entender os motivos que levam a naturalização dessas agressões. Afinal, que cultura é essa que valoriza algumas pessoas em detrimentos de outras?

Em pleno ano de 2022, já é mais do que hora de repensar valores, conceitos e posicionamentos que a sociedade adota como padrões estéticos e “normais”. Tudo isso pode levar aos casos de crianças que ameaçam, intimidam, descriminam ou humilham outras.

Estamos quase que 24 horas por dia sob um intenso bombardeio de padrões que devem ser seguidos, seja por meio de propagandas, novelas, séries, desenhos, redes sociais, ou rodas de conversas informais. Os padrões de beleza, por exemplo, são muito delimitados. Uma criança mais gordinha, com nariz grande, ou que possua uma cicatriz é considerada diferente pelas outras, já que estão fora dos padrões perpetuados pela sociedade.

Existe ainda uma disparidade entre o tipo de “vantagem” que se coloca entre homens e mulheres. Historicamente, os meninos são elogiados como fortes e corajosos, enquanto as meninas devem se portar como fofas e delicadas. Recomendo fortemente o documentário “Repense o elogio”, produzido pela Avon em parceria com a ONU Mulheres, lançado em 2017, que mostra justamente como esse tratamento diferenciado para meninos e meninas é um dos fatores que desencadeia a prática do bullying. O objetivo da obra é mostrar como estes padrões de elogios pressionam os jovens a atender às expectativas. Nem todas as meninas querem o rótulo de delicadas, mas preferem ser chamadas de corajosas. Ao mesmo tempo, muitos meninos não fazem questão de parecerem fortes, mas preferem ser reconhecidos pela inteligência. Não existe qualquer problema em uma menina parecer uma “princesa”, ou um menino ser um bom jogador de futebol. O problema é justamente quando se reduz a identidade de criança a isso, como se tanto os meninos quanto as meninas não tivessem outra opção a não ser aquilo que a sociedade obriga. Justamente por isso, é urgente repensar os elogios que são feitos, já que nem sempre eles são positivos. Logicamente, os educadores devem estar sempre atentos aos sinais dados pelas crianças de que algo errado está acontecendo com elas, como por exemplo: problemas de aprendizagem, machucados, agressividade, autoestima prejudicada, ou isolamento. Essencial ainda observar se algum boato está sendo disseminado sobre algum aluno ou aluna. Quanto mais cedo o “gatilho” do bullying for identificado, mas rápido é possível interrompê-lo.

Insisto, entretanto, que o foco principal não deve ser cuidar dos trágicos resultados depois que o bullying se instaura. Devemos, sim, prevenir que ele se manifeste. A escola deve se tornar o espaço ideal e privilegiado para discutir essa questão e evitar que essa prática se perpetue nas próximas gerações. Para isso, é importante discutir padrões que a sociedade enxerga como ideais e trabalhar isso com as crianças em formação.

É importante instaurar um ambiente colaborativo e participativo, no qual as diferenças sejam inseridas como algo positivo e propositivo, pois devem ser acolhidas e não ridicularizadas. As escolas devem ter práticas de combate ao racismo, ao preconceito e à opressão. Devem propor conversas e debates sobre padrões estéticos e valorizar a diversidade. Deste modo, podemos dar um passo a mais para mudança e combate ao bullying.

*Ana Paula Yazbek é pedagoga, formada pela Faculdade de Educação da USP, com especialização em Educação de Crianças de zero a três anos pelo Instituto Singularidades, com mestrado em Educação pela Faculdade de Educação da USP. É Diretora Pedagógica do espaço ekoa, casada com Marcos Mourão com quem tem dois filhos, Marina e Pedro.

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