Perpetuidade da Empresa Familiar * Por Juliana Biolchi
Uma das principais ameaças à continuidade das empresas familiares é a inexistência (ou ineficiência) de sistemas adequados de solução de conflitos
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Há tempos já virou consenso a importância e a pujança dos negócios familiares, assim como sua vulnerabilidade e o aumentado grau de mortalidade, principalmente por questões de relacionamento e transições geracionais malconduzidas.
A empresa familiar guarda algumas peculiaridades, em especial quanto às dinâmicas comportamentais, que não podem ser capturadas por indicadores econômicos e financeiros. Serão percebidas neles, sim, mas como sintomas, sem que se dê a necessária visibilidade às causas. Essa realidade, porém, pode ser transformada quando se presta atenção a um aspecto relevantíssimo: a existência de sistemas de solução adequada de conflitos em franca operação.
Na teoria dos três círculos, que se consagrou como modelo para entendimento dos negócios tocados por famílias, recomenda-se adotar mecanismos que fomentem o diálogo. Entretanto, não basta que a conversa exista se ela não entrega o mais importante: a superação do conflito. Um modelo eficiente desvinculará a família da dependência da autoridade, e trará maturidade aos relacionamentos, pautando-os pelo respeito mútuo, diversidade e proteção do negócio.
Não basta um acordo de quotistas que dê regras prévias, para determinadas situações (na forma de cláusulas), ou encaminhe aquelas não solucionadas para canais alternativos ao Poder Judiciário (mediação e arbitragem, por exemplo), considerados mais rápidos e eficientes. É na convivência que se criam os pequenos problemas, que, se não superados, arruinarão o negócio – porque o diabo está nos detalhes.
A experiência mostra que não é incomum a completa perda da capacidade de diálogo, a tal ponto de não haver espaço para sequer ouvir o outro (com quem se tem reservas). Perde-se completamente a objetividade, e o pensamento não se molda mais pelo mercado, mas pelas mágoas e memórias que, não raro, nada tem a ver com o negócio. Nesses casos, disputas por afeto são a pauta oculta das reuniões de conselho.
Por isso, entendo que, quando se trata de empresa familiar, o foco não pode estar só em formalizar acordos, mas em fomentar a resolução dos pequenos conflitos, construindo uma cultura de cooperação, com treinamento e direcionamento – porque cooperar não é um talento, mas uma habilidade.
Há, para esse fim, inúmeras ferramentas importantes, cuja aproximação pode ser feita através do desenvolvimento pessoal de cada familiar, inobstante a posição que ocupe no ecossistema.
Afinal, a inteligência necessária para o diálogo maduro e produtivo não se encontra no destino, mas se constrói na jornada.
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