O 'S' do ESG começa com a confiança dos colaboradores
*Claudia Elisa Soares, especialista em ESG
Se 30 anos atrás alguém
me contasse que estaríamos vivendo um período em que empresas que lucram estão
associadas a uma atuação social e ambiental, seria difícil acreditar. Isso
porque a atuação social era vista como exclusividade do poder público e de
ONGs. No entanto, hoje, praticamente toda organização tem interesse ou
necessidade de se aprofundar na agenda ESG, que engloba tópicos sociais, de
proteção ambiental e de ética e transparência.
A agenda ESG com foco
na sustentabilidade ambiental é a mais disseminada e com mais previsibilidade
de investimento. Recentemente, o Gartner, líder mundial em pesquisa e
aconselhamento para empresas, anunciou as 10 principais tendências tecnológicas
que as organizações poderão explorar em 2023, sendo a sustentabilidade a
primeira da lista.
O curioso é que,
segundo o que a BNP Paribas destacou, cerca de 51% dos investidores consultados
consideraram a sigla “S” do ESG a mais difícil de ser analisada e incorporada
às estratégias de investimento e a mais deixada de lado. E do que são feitas as
organizações, senão, de pessoas?
O aspecto social está
focado nas relações da empresa com o entorno: comunidade, colaboradores e
clientes. Ele traz práticas que visam construir um espaço de trabalho justo e
digno para todos. A seguir estão alguns exemplos de ações:
- Cadeia
de produção com pagamento justo para fornecedores e colaboradores
- Incentivo
e apoio ao desenvolvimento da comunidade local
- Recusa
ao trabalho escravo e infantil
- Proteção
aos dados dos clientes (LGPD)
- Valorização
da diversidade cultural, étnica e de gênero nos times
- Respeito
às leis trabalhistas
Para entregar a solução
de uma organização com inovação e pioneirismo não há outro caminho senão por
meio de uma política estruturada de governança social, pois o maior ativo de
uma empresa é sua rede de colaboradores. São deles que surgem os melhores
produtos e soluções. Se a companhia não está olhando para dentro de casa, ela
pode perder um importante diferencial competitivo.
Estamos sendo
impactados por expectativas da sociedade e regulamentações, que se traduzem no
posicionamento compartilhado de aplicar recursos éticos com os colaboradores
como prioridade nas próximas agendas.
Das três letras do ESG,
sabemos mais claramente identificar as ações do “G” e do “E”, mas o “S” acaba
por ser muito mais difuso porque ele clama por ações relacionadas a pessoas que
estão dentro e fora do âmbito da empresa.
Nesta visão, tudo
começa com a confiança dos colaboradores, o que acaba trazendo mais
inovação à empresa, impulsionando melhores produtos e serviços e conquistando a
confiança dos consumidores.
Assim, os processos
acima aumentarão a reputação da empresa no mercado e trarão melhores resultados
sustentáveis. Estes retornos ajudarão a companhia a fazer novos investimentos
(inclusive sociais e de impacto), o que fará com que o negócio alavanque sua
reputação na sociedade.
Se a empresa está com
dificuldades de alavancar o negócio e contribuir com a comunidade, é importante
entender, primeiramente, a natureza de sua atividade e priorizar o olhar para
dentro, com foco em desenvolver a confiança dos colaboradores. Este é, a meu
ver, o pontapé inicial de uma visão sistêmica de governança social, com
inúmeros benefícios a longo prazo.
*Claudia Elisa Soares é especialista em ESG e transformação de negócios e líderes e conselheira em companhias abertas e familiares — Camil, IBGC, Tupy, Even, Grupo Cassol, Bernoulli Educação e Gouvêa Ecosystem
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