Nesta quarta-feira (12/7), CCBB-BH inaugura a exposição de Walter Firmo, com mais de 150 fotografias de sua trajetória
REUNINDO DUAS CENTENAS DE FOTOGRAFIAS, NOVA EXPOSIÇÃO NO
CCBB BH APRESENTA RETROSPECTIVA DE UM DOS PRINCIPAIS NOMES DA FOTOGRAFIA
BRASILEIRA, CONHECIDO COMO “MESTRE DA COR”
O Centro
Cultural Banco do Brasil Belo Horizonte (CCBB BH)
recebe, entre os dias 12 de julho e 18
de setembro de 2023, a exposição
“Walter Firmo: No verbo do silêncio a síntese do grito”, que apresenta um
panorama dos mais de 70 anos de carreira do fotógrafo Walter Firmo. Nascido no
Rio de Janeiro, o artista é um dos principais nomes da fotografia brasileira. A
exposição apresenta duas centenas de fotos, produzidas desde o início da
carreira de Firmo, em 1950, até 2021. As imagens que integram a mostra retratam
e exaltam a população e a cultura negras de diversas regiões do país, em ritos,
festas populares e religiosas, além de cenas cotidianas. As fotografias
apresentadas registram a poética do artista, associada à experimentação e à
criação de imagens muitas vezes encenadas e dirigidas, com destaque para
ensaios aclamados, como do maestro Pixinguinha na cadeira de balanço e a série
com o artista Arthur Bispo do Rosário.
Resultante
de uma parceria entre o CCBB e o Instituto Moreira Salles (IMS), a exposição
“Walter Firmo: No verbo do silêncio a síntese do grito”, que estreou em São
Paulo, no IMS Paulista, passou pelas cidades do Rio de Janeiro e Brasília, com
patrocínio do Banco do Brasil, e agora chega à capital mineira. As imagens da
mostra comprovam a opção do fotógrafo pela figura humana, especialmente pela
pele negra, que aparece em todas as matizes, tanto nas fotos coloridas quanto
nas imagens em preto e branco.
“O
verbo do silêncio é a própria fotografia. Que você se encanta e quer traduzir
através do seu sentimento e inteligência. A síntese do grito é o registro”,
escreveu o fotógrafo Walter Firmo em 1988. Conhecido como “o mestre da cor”,
suas fotografias antecipam em mais de meio século a representação do negro na
sociedade brasileira e não necessariamente dentro de uma estética documental.
“Acabei colocando os negros numa atitude de referência no meu trabalho,
fotografando os músicos, os operários, as festas folclóricas, enfim, toda a
gente. A vertigem é em cima deles. De colocá-los como honrados, totens, como
homens que trabalham, que existem. Eles ajudaram a construir esse país para
chegar aonde ele chegou”, ressalta Walter Firmo.
Dividida
em núcleos temáticos, a mostra traz retratos memoráveis de grandes nomes da
música brasileira, como Cartola, Clementina de Jesus, Dona Yvone Lara e
Pixinguinha, além de imagens de brasileiros e brasileiras anônimos(as),
pescadores, vendedores ambulantes, mães de santo, brincantes, casais, noivas,
crianças e até a própria família do artista. A exposição lança luz ainda à
importante trajetória de Firmo como fotojornalista. Um dos destaques é a seção
dedicada à fotografia em preto e branco do artista, pouco conhecida e, em
grande parte, inédita.
“Walter
Firmo incorporou desde cedo em sua prática fotográfica a noção da síntese
narrativa de imagem única, elaborada através de imagens construídas, dirigidas
e, muitas vezes, até encenadas. Linguagem própria que, tendo como substrato sua
consciência de origem – social, cultural e racial – desenvolve-se amalgamada à
percepção da necessidade de se confrontar e se questionar os cânones e limites
da fotografia documental e do fotojornalismo. Num sentido mais amplo,
questionar a própria fotografia como verossimilhança ou mera mimese do real”,
afirma o curador Sergio Burgi, coordenador de fotografia do IMS, que assina a
curadoria ao lado de Janaina Damaceno Gomes, professora da UERJ e coordenadora
do grupo de pesquisa “Afrovisualidades: Estéticas e Políticas da Imagem Negra”.
A
exposição é uma oportunidade para o público conhecer em profundidade a obra de
um dos maiores fotógrafos brasileiros, que mantém até hoje seu compromisso com
o fazer artístico: “Aí está o meu relato, a história de uma vida dedicada ao
fazer fotográfico, dias encantados, anos dourados. Qual a minha melhor imagem?
Certamente aquela que em vida ainda poderei fazer. Emoções, demais”, conclui
Walter Firmo.
A
EXPOSIÇÃO
“Walter
Firmo: no verbo do silêncio a síntese do grito” está dividida em cinco núcleos
temáticos: Abertura/ Negritude, subúrbio e periferia/ Retratos; Encantamentos e
experimentações/ Diáspora; Cronologia /Início de carreira; Preto e branco.
No
primeiro, o público encontra cerca de 20 imagens em cores, de grande formato,
produzidas ao longo de toda a sua carreira. Há fotos feitas em Salvador (BA),
como o registro de uma jovem noiva na favela de Alagados (2002); em Cachoeira
(BA), como o retrato da Mãe Filhinha (1904-2014), que fez parte da Irmandade da
Boa Morte durante 70 anos; e em Conceição da Barra (ES), onde o fotógrafo
retratou o quilombola Gaudêncio da Conceição (1928-2020), integrante da
Comunidade do Angelim e do grupo Ticumbi, dança de raízes africanas; entre
outras.
O
segundo núcleo, Encantamentos e Experimentações, apresenta a biografia do
artista, abordando os seus primeiros anos de atuação na imprensa, quando
registrou temas do noticiário, em imagens em preto e branco. O conjunto inclui
uma fotografia do jogador Garrincha, feita em 1957; imagens de figuras
proeminentes da política nacional, como Jânio Quadros e Juscelino Kubitschek;
além de registros de ensaios de escolas de samba do Rio de Janeiro. Também há
fotografias feitas para a reportagem “100 dias na Amazônia de ninguém”,
publicada em 1964 no Jornal do Brasil, pela qual Firmo recebeu o Prêmio Esso de
Reportagem.
Nas
seções seguintes, a retrospectiva evidencia como, no decorrer de sua carreira,
Firmo passou a se distanciar do fotojornalismo documental e direto, tendo como
base a ideia da fotografia como encantamento, encenação e teatralidade, em
diálogo com a pintura e o cinema. Isso fica evidente no ensaio realizado em
1985 com seus pais (José Baptista e Maria de Lourdes) e seus filhos (Eduardo e
Aloísio Firmo), no qual José aparece vestindo seu traje de fuzileiro naval,
função que desempenhou ao longo da vida, ao lado de Maria de Lourdes, que usa
um vestido longo, florido e elegante. O ensaio faz alusão às pinturas “Os
noivos” (1937) e “Família do fuzileiro naval” (1935), do artista Alberto da
Veiga Guignard (1896-1962).
Como
destaque, a exposição apresenta retratos de músicos produzidos por Firmo,
principalmente a partir da década de 1970. Nas imagens, que ilustram inúmeras
capas de discos, estão nomes como Dona Ivone Lara, Cartola, Clementina de
Jesus, Paulinho da Viola, Gilberto Gil, Martinho da Vila, Maria Bethânia,
Caetano Veloso, Milton Nascimento, Djavan e Chico Buarque. Nesse conjunto, está
também a famosa série de fotografias de Pixinguinha feita em 1967, quando Firmo
acompanhou o jornalista Muniz Sodré em uma pauta na casa do compositor. Após o
término da conversa, o fotógrafo pegou uma cadeira de balanço que ficava na
sala da residência, colocou no quintal, ao lado de uma mangueira, e propôs que
Pixinguinha se sentasse nela com o saxofone no colo. Assim registrou o músico,
em uma série de imagens que se tornaram icônicas.
A
exposição traz também um ensaio com fotografias do artista Arthur Bispo do
Rosário para a revista IstoÉ, em 1985, feitas na antiga Colônia Juliano
Moreira, onde Bispo ficou confinado e criou seu acervo ao longo de cerca de 25
anos.
A retrospectiva
apresenta diversos registros produzidos durante celebrações tradicionais
brasileiras, como a Festa de Bom Jesus da Lapa, a Festa de Iemanjá e o próprio
Carnaval do Rio de Janeiro. Há também um núcleo com fotos de personagens da
diáspora, feitas em outros países, como Cuba, Jamaica e Cabo Verde.
Na
mostra, o público poderá assistir, ainda, ao curta-metragem “Pequena África”
(2002), do cineasta Zózimo Bulbul, no qual Firmo trabalhou como diretor de
fotografia e que trata da história da região que recebeu milhões de africanos
escravizados. Também há um núcleo dedicado à fotografia em preto e branco,
ainda pouco conhecida e em grande parte inédita, cujo destaque é a série de
imagens feitas na praia de Piatã, em Salvador, entre o final dos anos 1990 e o
início dos anos 2000.
SOBRE O ARTISTA
Walter
Firmo nasceu em 1937 no bairro do Irajá, no Rio de Janeiro, e foi criado no
subúrbio carioca. É filho único de paraenses – seu pai, de família negra e
ribeirinha do Baixo Amazonas, e sua mãe, de família branca portuguesa, nascida
em Belém. Firmo começou a fotografar cedo, após ganhar uma câmera de seu pai.
Em 1955, então com 18 anos, passou a integrar a equipe do jornal Última Hora,
após estudar na Associação Brasileira de Arte Fotográfica (Abaf), no Rio. Mais
tarde, trabalharia no Jornal do Brasil e, em seguida, na revista Realidade,
como um dos primeiros fotógrafos da revista. Em 1967, já pela revista Manchete,
foi correspondente, durante cerca de seis meses, da Editora Bloch em Nova York.
Neste
período no exterior, o artista teve contato com o movimento Black is Beautiful
e as discussões em torno dos direitos civis, que marcariam todo seu trabalho
posterior. De volta ao Brasil, trabalhou em outros veículos da imprensa e
começou a fotografar para a indústria fonográfica. Iniciou ainda sua pesquisa
sobre as festas populares, sagradas e profanas, em todo o território
brasileiro, em direção a uma produção cada vez mais autoral.
Circuito
Liberdade
O
CCBB BH é integrante do Circuito Liberdade, complexo cultural sob gestão da
Secretaria de Estado de Cultura e Turismo (Secult), que reúne diversos espaços
com as mais variadas formas de manifestação de arte e cultura em
transversalidade com o turismo. Trabalhando em rede, as atividades dos
equipamentos parceiros ao Circuito buscam desenvolvimento humano, cultural,
turístico, social e econômico, com foco na economia criativa como mecanismo de
geração de emprego e renda, além da democratização e ampliação do acesso da
população às atividades propostas.
SERVIÇO
Walter
Firmo: No
verbo do silêncio a síntese do grito
Data:
de
12 de julho a 18 de setembro de 2023
Local: Galerias do Térreo - Centro Cultural
Banco do Brasil Belo Horizonte (Praça da Liberdade, 450 – Funcionários).
Horários
de visitação: de quarta a segunda, das 10h às 22h.
Ingressos
gratuitos, retirados pelo site bb.com.br/cultura ou na bilheteria física do CCBB.
Classificação
Indicativa: Livre
Mais
informações: 31 3431 9400 – bb.com.br/cultura
E-mail: ccbbbh@bb.com.br
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