Deixa a vida me levar?
Júlio Correia Neto, coach e gestor de mudanças
Vivemos uma existência aonde grande parte das pessoas tem o seu tempo conduzido no automático. Por exemplo, ficam 10, 12 horas ou mais fora de casa por dia, na grande maioria das vezes, realizando tarefas automáticas e repetitivas em empregos com baixa remuneração. Vivem num sistema que sugam suas energias e tempo, ao invés de dedicarem a si mesmos e à família.
Por outro lado, há pessoas que já possuem o suficiente e, mesmo assim, ficam preocupadas o tempo todo em querer mais e mais. Em acumular, acumular, ao invés de pensar em apreciar e contemplar a vida.
Em um planeta onde bilhões estão mergulhados em miséria, doenças e fome, quem já tem um teto para morar, comida para se alimentar e um trabalho para sobreviver, não precisa ficar pensando quase 100% do tempo em ter mais e mais. Acreditam que não há nada na vida que tenha mais valor do que entesourar bens e guardar fortunas.
Porém, muitos se esquecem que a vida é de ganhos e perdas e de surpresas constantes ao longo da trajetória.
Eu fico me questionando como há aqueles que destroem não só suas vidas como de pessoas próximas, de famílias, mergulhando em dívidas impagáveis, destruindo patrimônios, por conta de espíritos pequenos e mal resolvidos que só sabem ser vaidosos, orgulhosos. Vivem de pompa, de luxúria e de aparência.
Pelos inúmeros relacionamentos que tenho no mundo corporativo, observo comportamentos de empresários que vieram do nada, que construíram impérios, mas que continuam com almas pobres, apegados à avareza. Costumo dizer que eles ‘saíram da pobreza, mas a pobreza não saiu de dentro deles’. Isso não só de empresários, mas de muitos que conseguiram vencer na vida.
Só pensam em acumular terras, propriedades. Só pensam em ostentar vinhos caros, restaurantes e hotéis VIPs. São verdadeiros reféns da matéria, com suas teses pré-históricas, alimentadas pelo colonialismo.
Além disso, há aqueles que buscam o dinheiro por outras vias. Hoje observamos aqueles que ‘prostituem’ as suas vidas em troca de fama, de dinheiro fácil, de riqueza e do sucesso. Para eles, o importante é aparecer, é ser o tal, é se mostrar, não importa como.
Não se interessam se a fama foi pela venda do corpo escultural ou se foi furtando, fraudando ou poluindo a mente de milhões de pessoas. No final das contas, o que importa é quanto de dinheiro terá na conta para continuar a saga de luxúria e futilidade consumista.
Como costumo dizer para pessoas próximas: tudo isso cansa. Cansa por termos nos tornado robôs repetidores de rotinas, rotinas estas, na grande maioria, impostas por terceiros.
Cansa estar ao lado de pessoas que agem e pensam assim, embora tentem de toda a forma nos induzirem a acreditar que é o melhor caminho.
Afinal, cada um sabe de suas escolhas e saberá o preço a ser pago lá na frente. O mundo é uma bola e nunca saberemos que fim teremos no dia de amanhã. Mas pouquíssimos se importam com isso. Preferem viver alucinadamente o hoje.
Entra ano, sai ano, e tudo continua, na maioria das vezes, da mesma forma. Repetido e repetido. Quem rompe com esta corrente é logo taxado de louco, sem falta de temperança e equilíbrio. Tudo isso me cansa.
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