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As naus dos insensatos

Por Marcos Gouvêa de Souza*

A ação de políticos no Congresso Nacional aprovando o programa de repasse de recursos para resgate das finanças públicas nos Estados sem contrapartidas, e da Câmara de Vereadores de São Paulo – a mais importante do Brasil –, aprovando aumento generalizado de salários dos vereadores e funcionários no momento atual do país, com número recorde de desempregados e uma crise econômico-financeira sem precedentes na história recente, mostra que ao invés de uma Nau dos Insensatos temos uma flotilha de naus, desafiando o bom senso e a paciência da população e da sociedade como um todo.

A Nau dos Insensatos foi escrito em 1494, pelo alemão Sebastian Brant (1457-1521), como poema satírico, com viés moralizante, onde se denunciam as falhas e vícios, tanto da nobreza quanto de outros segmentos, não poupando Igreja, Justiça, universidades e outras instituições. Com 112 capítulos, cada um dedicado a um tipo de insensato ou louco, o autor censura os excessos e o desleixo, a avidez por dinheiro e a falta de escrúpulos, a perda da fé e o desinteresse pelo cultivo do intelecto. Diferente dos sábios e prudentes, os insensatos são apresentados nas páginas do texto deixando evidente sua arrogância, grosseria, leviandade, indolência, gula, mentira, violência... Enfim, sua falta de juízo e ponderação.

O texto do final do século XV revelava um panorama dos costumes da época, mas se mostra incrivelmente atual e o título, multiplicado por muitas naus, ainda mais oportuno para descrever o que temos visto no Brasil neste momento, pilotado por políticos igualmente arrogantes, levianos, mentirosos e com falta de juízo e ponderação.

Um grupo de políticos inconsequentes está brincando com coisa muito mais séria do que sonha sua vã irresponsabilidade no Congresso Nacional e na mais importante Câmara Municipal do país.

O estado de espírito da população está prestes a explodir a qualquer momento, asfixiado pela falta de emprego, pelas taxas de juros das mais altas do mundo, pela falta de perspectivas e por um quadro de pressão financeira sem limites depois de três anos de retração e constatação da podridão dominante na gestão da coisa pública. Aliás, já começou o processo com Câmaras Municipais sendo cercadas e políticos só podendo sair protegidos pela polícia.

Todo esse cenário é especialmente sensibilizado pelo desprezo gerado com o que é apurado e apresentado envolvendo o quadro sintomático de corrupção e mau uso dos recursos públicos que grassa pelo país. O que se desconfiava é agora mostrado e quantificado e a moeda da corrupção é baseada em milhões de reais, atingindo um total de bilhões desviados de obras públicas, educação, saneamento, segurança e bem-estar coletivo.

Já se foi longe demais ao assumir que o crime e a corrupção compensam. Não mais.

Existe um sentimento brotando em todo o país, que se manifestou parcialmente nas últimas eleições municipais, querendo desalojar aqueles que vinham desafiando o bom senso confiando no sentimento coletivo de impunidade e na política paroquial que se praticava.

Esse sentimento é agora desafiado de todas as formas e se não houver respostas críveis, rápidas e objetivas, corremos o risco de explodirem manifestações mais hostis e inclusivas clamando por mudanças de ampla aplicação.

As naus dos insensatos que insistirem em irem ao largo poderão ser colocadas a pique pelo clamor popular e por ações mais diretas de revolta da população que não suporta mais tanta insensibilidade.

O equilíbrio está por um fio, desafiado pela inconsequência daqueles que voltam as costas para a realidade e provocam a ira até dos mais ponderados e sensatos.

Sobre o autor

Marcos Gouvêa de Souza é fundador e diretor-geral do Grupo GS& Gouvêa de Souza, holding que integra 12 unidades de negócios, produtos e serviços para o Varejo, Franquias, Shopping Centers, E-commerce e Food Service. É membro do conselho do Ebeltoft Group, aliança global de empresas de consultoria em varejo presente em 26 países. Membro do conselho do IDV - Instituto para o Desenvolvimento do Varejo, e do IFB - Instituto Food Service Brasil, organização de fornecedores, distribuidores e operadores do segmento de Food Service, presidente do LIDE Comércio e participa também do FIRAE (Forum for International Retail Association Executives).

Sobre o Grupo GS& Gouvêa de Souza

Desde 1989, o Grupo GS& - Gouvêa de Souza contribui para a expansão e transformação do mercado de varejo brasileiro com uma plataforma estratégica de unidades de negócios, produtos e serviços nas áreas de Consultoria, Inteligência de Mercado & Big Data, Shopping Center, Franchising, Retail Real Estate, Varejo Digital & Cross Channel, Marketing Digital, Food Service, Eventos & Conteúdo, Treinamento & Desenvolvimento, Sustentabilidade, Clube de Compras Corporativo e Viagens & Experiências. Compõem o Grupo GS& Gouvêa de Souza: BITTENCOURT, Clube Loja, GS&BGH, GS&BW, GS&COMM, GS&Consult, GS&Friedman, GS&Inteligência, GS&MD – Eventos & Conteúdo, GS&P3, Primetour, Primetravel e wroi+lúcida.

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