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Precisamos agir imediatamente ou corremos risco de ver formada uma geração obesa, doente e esmorecida

Pesquisa do Ministério da Saúde indica que mais da metade da população brasileira está acima do peso, o combate a este mal deve começar cedo.

Por Joyce Capelli, Diretora Executiva e Presidente da Inmed Brasil


A pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), divulgada nesta semana pelo Ministério da Saúde confirmou o que há anos nossa organização, Inmed Brasil, identifica nos programas que incluem a tomada do IMC (Índice de Massa Corporal) nas comunidades que atendemos: o brasileiro está cada vez mais obeso.

Segundo a pesquisa Vigitel, em dez anos, a prevalência da obesidade passou de 11,8% em 2006 para 18,9% em 2016, atingindo um em cada cinco brasileiros. Isso é muito preocupante, pois obesidade é um dos principais fatores para o aumento de diabetes e hipertensão na população.

O problema é ainda mais aflitivo com relação ao sobrepeso. Mais da metade da nossa população está acima do peso. Nos últimos dez anos, o índice de pessoas acima do peso ideal saltou de 42,6% em 2006 para 53,8% em 2016.

Dados que coletamos na Inmed Brasil com nossos programas apontam para o mesmo problema de aumento do sobrepeso e da obesidade em escolares de todo o país nas últimas décadas. Resultados de exames demonstram que o sobrepeso chega até a preocupantes 42% na faixa etária de 6 anos na periferia de São Paulo. Os estados que mais apresentaram aumento foram São Paulo e Pernambuco.

A pesquisa do Ministério da Saúde ainda indica que o número de brasileiros diagnosticados com diabetes cresceu 61,8% e com hipertensão subiu 14,2%. Trata-se de um ciclo onde todos perdem: tanto os indivíduos, que perdem a saúde, quanto os sistemas de saúde que perdem milhões de reais para tratar esta epidemia insidiosa.

Não podemos ficar de braços cruzados, o combate à obesidade deve começar cedo, nas escolas e nas famílias. Informações sobre alimentação e vida saudável devem ser recorrentes desde os primeiros anos de educação das crianças. O quanto antes, elas têm que aprender o que é e o que não é bom para se comer, além da importância de se fazer atividades físicas.

A prova de que esta é uma questão educacional está na própria pesquisa recém-divulgada. O levantamento mostra que o excesso de peso é maior entre os que têm menor grau de escolaridade: 59,2% das pessoas que têm até oito anos de escolaridade apresentam excesso de peso, o índice cai para 53,3% entre os brasileiros com nove a 11 anos de estudo e para 48,8% entre os que estudaram 12 ou mais anos.

Temos programas na Inmed Brasil que há 20 anos trabalham questões que envolvem boa alimentação e bons hábitos para uma vida mais saudável, com melhores oportunidades para o futuro.

A pesquisa Vigitel revela que apenas um em cada três brasileiros adultos consome frutas e hortaliças em pelo menos cinco dias da semana. Recordatórios realizados com as crianças de vários estados no início de nossos programas demonstram que 63,64% das crianças não comem nenhuma verdura durante a semana e apenas 6,7% das crianças comem verduras quatro ou mais vezes por semana.

Por isso, agregamos ao nosso programa o módulo 'Horta Brasil', com o qual promovemos a montagem de hortas escolares para incrementar a merenda dos alunos e estimulamos a comunidade a produzir pequenas plantações caseiras.Histórias com final feliz são inúmeras ao longo de tantos anos de atividades. Os resultados são sempre animadores com este programa. Com a incorporação dos produtos das hortas escolares aumentamos em até 58% a oferta de verduras na merenda em até três vezes por semana

Já verificamos que em poucos anos e apenas com ações educativas conseguimos diminuir o sobrepeso e a obesidade em mais de 21% das crianças. Testes de conhecimentos realizados antes e após as intervenções também mostram que o conhecimento nutricional acompanha a introdução de hábitos saudáveis.

A questão é: se uma organização pode fazer tanto (com investimento restrito à participação de conscientes patrocinadores), imagine o quanto poderia fazer o poder público com boa vontade política. Não podemos esperar sentados por mudanças. Vamos agir imediatamente ou corremos risco de ver formada uma geração obesa, doente e esmorecida. Se isso é bom para uns poucos usurpadores, é péssimo para uma nação tão rica e promissora.

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