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Reflexões sobre o legado de Paulo Freire

Foto/Divulgação

(*) Dulce de Almeida Torres

“Aprender é um processo vivo e dinâmico. Que ensinar também seja”. É com essa consideração de Paulo Freire que inicio abordagem sobre a vida e obra desse ícone da Educação Brasileira que lutou pelo diálogo e pela liberdade na educação. Paulo Reglus Neves Freire nasceu em Recife, Pernambuco, em 19 de setembro de 1921. Teve uma infância tranquila até que, com a aposentadoria do pai por invalidez, a crise financeira atingiu a sua família e Freire conheceu a pobreza e suas agruras até então desconhecidas.

Daí em diante a família passou a depender da contribuição dos três irmãos que já trabalhavam, e da mãe. A ele não foi permitido trabalhar, seu dever era estudar, e para isso contou com a mãe que, conhecendo a capacidade do filho, conseguiu uma bolsa de estudo para que ele pudesse levar adiante o seu sonho. Por meio de um convite para ministrar aulas de Língua Portuguesa que Freire iniciou sua sonhada carreira de educador.

Mas ele não queria só dar aula. Queria fazer descobertas que pudessem ajudar muitas pessoas a alcançar uma educação mais aprimorada. Foi assim que, certo dia, ao passear com seu filho de dois anos reparou que o menino, ao ver uma propaganda de achocolatado relacionou a imagem a outra propaganda que era veiculada, e conseguiu tanto ler a palavra quanto cantar a música relacionada ao tema. Este episódio trouxe um esclarecimento ao educador: era possível ensinar partindo da realidade dos alunos, de suas vivências, de objetos com os quais eram habituados e faziam sentido às suas vidas.

Baseado nessa experiência ele criou a Metodologia Paulo Freire e passou a ser conhecido mundialmente. Para efetivar esse projeto foi escolhida a cidade de Angico, no Rio Grande do Norte – e o convite foi feito pelo governador da época ao próprio Freire –, por tratar-se de um povoado extremamente pobre e com alta taxa de analfabetismo. A experiência de Angico foi tão positiva que o então Ministro da Educação, Paulo de Tarso, convidou Paulo Freire para coordenar uma ação nacional de alfabetização de adultos. A meta seria alfabetizar 5 milhões de pessoas que, através do projeto, também passariam a ter direito ao voto, o que aumentaria em 40% o número de eleitores no país.

Infelizmente para nós, brasileiros, essa ação tão valiosa chamada de PNA (Programa Nacional de Alfabetização) foi vista por setores mais conservadores sob um outro prisma que apontava para o comunismo. Freire tentou explicar que não tinha interesse por ideologias, porém não conseguiu convencer a massa conservadora e acabou sendo preso por duas vezes, tendo a sua família ameaçada também. Desse modo, deixou o Brasil e pediu asilo na Bolívia que lhe havia feito um convite para trabalhar lá com educação. Contudo, sua saúde não resistiu à altitude boliviana e ele teve que se mudar para o Chile, passando a atuar no INDAP (Instituto de Desarollo Agropecuario). Lá ele desenvolveu ações educativas com os camponeses e só muitos anos depois voltou ao Brasil.

Sendo assim, perdemos a grande fase de um valoroso educador brasileiro por causa de ideologia sem sentido e arrogância de quem não soube distinguir a paixão de um educador de uma ideia política medíocre e descabida. No entanto, apesar de tentativas de desvalorizar as contribuições tão importantes de Paulo Freire para a educação brasileira, seu legado é mais forte. Patrono da educação do nosso país, ele é reconhecido aqui e no exterior por seus estudos sobre a questão da alfabetização no Brasil. Que continuemos na luta proposta por ele, pautados no diálogo e enraizados na liberdade.

(*) Dulce de Almeida Torres é graduada em Letras Inglês, Mestre em Ciências da Educação e é professora da Área de Linguagens e Sociedade da Escola Superior de Educação do Centro Universitário Internacional UNINTER

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