O ciclo opressor
A história da opressão em nossa
sociedade vem sendo perpetuada de geração em geração, uma consciência
possessiva de mundo transmitida ao longo dos séculos. Na época em que vivemos,
tudo é transformado em mercadoria, inclusive as pessoas, cujo valor é
aquilatado de acordo com a sua capacidade de trabalho.
O processo opressor está diretamente
associado à má distribuição da autoestima, às estruturas sociais e emocionais
responsáveis por uma distribuição desigual de privilégios, uma realidade
tangível, que vitimiza boa parte da humanidade – a famigerada luta de classes
que, ora evidente, ora latente, está sempre presente no campo de batalha que é
a nossa sociedade.
Os meios de produção são a principal
fonte desta tensão. Quem os detém, determina a exploração e a pobreza daqueles
que possuem para sobreviver apenas a força de trabalho. A cultura religiosa,
por sua vez, também tem um papel relevante neste processo de submissão. Sua
influência contribui para criar um universo mítico, capaz de aprisionar a
consciência do oprimido e vincular o seu destino à vontade de Deus.
Uma significativa parcela de culpa
também recai sobre o Estado. Através da aparelhagem governamental – forças
policiais, mecanismos de burocratização e de políticas públicas –, a população,
em especial os grupos minoritários e as classes menos abastadas, é mantida sob
constante estado de submissão psicológica ou, quando não, de dependência
econômica, indiscutivelmente o principal fator que leva a este estado de
sufocação e angústia.
Outro instrumento de opressão é a
autodesvalia. Sejam através de palavras claras, ou de gestos dissimulados, as
crenças do opressor, acerca das limitações do oprimido, acabam se introjetando
no inconsciente coletivo, como aquela mentira que, de tão repetida, acaba se
tornando uma verdade inquestionável. Tal situação também gera um fenômeno
curioso em que, muitas vezes, o próprio oprimido acaba buscando para si um
modelo de vida idêntico ao do opressor, encerrando-se em um ciclo vicioso que o
impede de lutar pela própria libertação.
A opressão, conquanto, não é um tipo de
violência capaz de afetar a integridade física das pessoas, como a repressão.
Seu dano é de caráter, sobretudo, subjetivo, no plano das ideias, projetos e
significados de vida. A chave para se libertar de tudo isso perpassa,
necessariamente, por uma educação libertadora, formadora de indivíduos críticos
e capazes de romper com este ciclo vicioso.
* Aroldo Veiga é professor e escritor,
autor do livro “Trono de Cangalha”.
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