Pandemia transforma a linha que divide as gerações Z e Alpha em uma muralha
Quando os primeiros representantes de uma nova geração começam a ganhar voz, o mercado começa a tentar compreender como se dará essa transição. Normalmente, ela acontece de forma gradual e temos anos de transição com características que se misturam de uma e de outra geração, como aconteceu com os chamados Zillennials (transição dos Millennials para a geração Z). Um grupo na faixa dos 25 anos e que compreender o seu comportamento, aspirações e necessidades ainda é muito importante para alguns tipos de negócios e produtos, por exemplo, bancos e investimentos.
Até 2019, o mercado que atua com adolescentes e pré-adolescentes se preparava para a história se repetir e um novo grupo de transição turvo no qual tendências e comportamentos se misturam, se anulam e se confundem. Poderíamos classificar essa fase, entre as gerações Z (nascidos de 1996 a 2016) e Alpha (que ainda agrupará nascidos até 2025), de ZAlpha.
Contudo, entramos em uma pandemia que sacudiu o planeta e quem ainda espera pelos ZAlphas sem rever seus conceitos pode fracassar ao tentar impactar e penetrar nesse público, pois ele se dissolveu. Isso, porque o coronavírus e a privação da convivência transformou o que era uma linha tênue, muito fina e que permitira essa intersecção em uma verdadeira muralha. Densa e poucas vezes penetrável. Estamos começando a presenciar uma quebra brusca de tendências de comportamento como nunca vista antes.
Esse fenômeno já era esperado, porém, a longo prazo como um reflexo da tecnologia e essa evolução cada vez mais veloz das coisas. Acreditávamos que essa parede entre as gerações fosse ganhando mais concreto aos poucos. Até que fomos surpreendidos pela biologia. No fim, foi a natureza que nos jogou de uma vez para o futuro e de cara com essa muralha entre as gerações.
O que esperar, a partir de agora, da geração Alpha?
Em uma pesquisa rápida na internet é facilmente possível encontrar uma infinidade de artigos, estudos, palestras respondendo a essa pergunta e antecipando tendências. No entanto, o que os profissionais do marketing precisam agora é a consciência de, no pós-pandemia, saber questionar o que ainda segue pelo mesmo caminho e o que precisa ser revisto ou, até mesmo, descartado.
Hoje, os mais velhos da geração Alpha têm entre 10 e 11 anos. Na geração Z, essa idade ainda era considerada fora do mercado de consumo. Será que é possível fazer essa mesma interpretação nos dias de hoje, com jovens que nasceram conectados e com um degrau imenso de diferença entre a familiaridade com a tecnologia entre eles e seus pais. Um gap tão grande que,
mesmo com os adultos tendo cada vez mais ferramentas para controlar a presença online das crianças, elas ainda têm uma independência de navegação e consumo de conteúdo online muito grande e acabam usando toda essa informação armazenada em seus cérebros potentes para exercer maior poder nas decisões de compra da família.
Veja como isso funciona como um círculo vicioso. Na época da geração X (1960 a 1980) e dos Babyboomers (1940 a 1960) empresas tentavam conquistar as crianças para vender produtos infantis e, até mesmo, itens que atendiam aos pais. Elas tinham esse poder de influência na decisão de compra.
Com o abuso dessa estratégia e estudos mostrando seu lado negativo no desenvolvimento das crianças, vieram as restrições legais para esse tipo de prática na publicidade e no marketing que se tornaram cada vez mais rígidas.
Quando as marcas começam a aprender a trabalhar com essa nova realidade, a tecnologia começa a devolver às crianças uma liberdade que, novamente, rompe com o rumo das coisas. E agora, com a muralha imposta pela pandemia e pelo isolamento social, joga esse poder de uma vez no colo, ou nas telas dos dispositivos, dos Alphas.
Enquanto isso, a geração Z...
Ao mesmo tempo em que os Alphas desbravam a internet com suas aulas online desde o jardim da infância, a geração Z, mais adulta e que outrora foi conhecida por fazer parte dessa revolução digital, sente saudade da convivência orgânica.
O isolamento social imposto pela pandemia do coronavírus trouxe uma hipervalorização da vida em sociedade. Surgem as dúvidas se alguém na faixa dos 20 a 30 anos já consegue, realmente, substituir um passeio no shopping e os corredores de um supermercado, onde a decisão de compra é de momento ao observar vitrines ou gôndolas, por um aplicativo em seu smartphone. Como vão agir quando retomarem sua liberdade de circulação?
Essa pergunta e todas as provocações levantadas aqui não possuem uma resposta 100% certa ou errada. O desafio é desenvolver profissionais que estejam preparados para questionar e tentar interpretar a tendência de seu público, estarem abertos a um aprendizado constante e terem flexibilidade para se adaptar rápido às mudanças. Afinal, quem garante que outro fenômeno que mude o mundo como o conhecemos de forma tão brusca não aconteça novamente e o “novo normal”, quando nos dermos conta, já esteja ultrapassado
Andréa Pitta: Paulistana, formada em Direito e Jornalismo, é CEO da Fibra.AG, sendo uma das únicas mulheres negras no Brasil a ocupar cargos de destaque em grandes agências de comunicação. Na liderança de grandes agências de live marketing e comunicação há mais de 20 anos, a executiva é uma das embaixadoras do projeto Mulheres Inspiradoras da Money Report.
Nenhum comentário