Novo Ensino Médio: o que pais e estudantes podem esperar dessa mudança
Itinerários Formativos são grande desafio para escolas e vão dar a estudantes a chance de aprofundar conteúdos que fazem mais sentido para a trajetória do aluno
A flexibilidade curricular proposta com
as mudanças do Ensino Médio prevê que as escolas passem a oferecer para os
alunos novos caminhos que poderão ser trilhados com mais liberdade e com base
no que o próprio estudante entende que faz sentido para a sua trajetória. Esses
caminhos são os Itinerários Formativos, uma das grandes novidades dessa
reforma, com uma oferta maior de opções em relação ao currículo escolar que o
estudante terá ao longo dos três anos finais da Educação Básica.
O Novo Ensino Médio traz uma grade
curricular dividida em Formação Geral Básica (FGB) e Itinerários Formativos
(IFs). Na Formação Geral Básica, os componentes curriculares estão organizados
pelas áreas do conhecimento. Essa é a parte fixa do currículo que contempla as
habilidades e competências previstas na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e
compõe 60% da carga horária, com um máximo de 1.800 horas. Já os Itinerários
Formativos são o conjunto de temáticas que poderão ser oferecidas aos
estudantes por meio de projetos, oficinas e núcleos de estudo e que vão
aprofundar e ampliar os conteúdos da Formação Geral Básica. Eles são compostos
de unidades curriculares obrigatórias e eletivas e compõem 40% da carga
horária, com mínimo de 1.200 horas. São cinco Itinerários Formativos possíveis:
Linguagens e suas Tecnologias, Matemática e suas Tecnologias, Ciências da
Natureza e suas Tecnologias, Ciências Humanas e Sociais Aplicadas e Formação
Técnica e Profissional. Apesar da liberdade para a elaboração dos currículos
dos itinerários, todos devem ser estruturados a partir de quatro eixos
estruturantes: Investigação Científica, Mediação e Intervenção Sociocultural,
Processos Criativos e Empreendedorismo. As escolas não são obrigadas a oferecer
todos os percursos, nem disponibilizar a escolha de aprofundamento logo no
primeiro ano.
Além do status de novidade, os
Itinerários Formativos já se tornaram um dos grandes desafios de gestores de
educadores que têm pela frente a missão de implantar essas mudanças.
"Sabemos que a decisão sobre o que oferecer como Itinerário Formativo para
nossos alunos nos impõe uma enorme responsabilidade. Nossas escolhas e
definições podem impactar na trajetória de nossos jovens, influenciando até
mesmo as futuras escolhas profissionais deles", destaca Elieser Balieiro,
diretor administrativo do Colégio Horizonte, em Viradouro (SP). A instituição,
que está se preparando para oferecer o Novo Ensino Médio para o 1º ano em 2022,
está em fase de definição sobre quais serão os Itinerários Formativos ofertados
para os estudantes no próximo ano. "Estamos recebendo a ajuda de nosso
principal parceiro, o Sistema Positivo de Ensino, que está nos apontando o
caminho. Queremos que os Itinerários Formativos tenham real utilidade para
nossos alunos e, para isso, precisamos decidir considerando o contexto
econômico, social e cultural da comunidade e região em que nossa escola está
inserida", explica o diretor.
A flexibilização do currículo escolar
por meio dos Itinerários Formativos implica também na ampliação da carga
horária de uma instituição. Isso gera um impacto importante na estrutura da
escola, que precisa ocupar mais espaços e disponibilizar mais professores para
garantir uma oferta maior aos alunos. "Essa tem sido também uma das
principais preocupações das escolas na formação dos seus Itinerários
Formativos", explica a coordenadora editorial do Sistema Positivo de
Ensino, Milena Santiago Passos Lima. Para ela, o que precisa ficar claro é que
os Itinerários Formativos permitem que a escola olhe para o estudante
valorizando a sua trajetória de forma individual. "Isso não quer dizer,
necessariamente, que a escola tenha que oferecer ao aluno muitos caminhos,
muitas escolhas. Na verdade, ela tem que oportunizar diferentes vivências. Uma
escola que hoje já trabalha com diferentes projetos, que permite a ocupação de
diferentes espaços, já está praticando a proposta dos Itinerários Formativos,
que é realizar um trabalho de conduzir o aluno de forma personalizada",
explica.
Segundo a coordenadora, o que acontece é
que muitas vezes esse trabalho não está evidenciado no histórico escolar.
"Então, o Novo Ensino Médio desafia as escolas a olharem para aquilo que
já fazem e entender o que, entre tudo o que a escola já realiza e que
representa a sua identidade, poderá fazer parte deste currículo de forma
definitiva. Existem projetos, iniciativas valorosas dentro das escolas que hoje
não fazem parte do histórico escolar de cada aluno. E isso tudo precisa ser
considerado para que as escolas entendam que não precisam inchar seu currículo
e nem sobrecarregar sua estrutura para oferecer esses novos caminhos".
Para tentar se aproximar ao máximo do
que os próprios estudantes esperam, o Colégio Augusto Comte, de Salvador (BA),
fez uma consulta junto aos alunos e pais. "Decidimos ouvir nosso público
para identificar os reais anseios de nossa comunidade e o resultado apontou
para uma tendência significativa em relação à área de Ciências da Natureza, o que
nos deixou bastante tranquilos porque esse já era um dos caminhos considerados
pela escola", afirma Marcelo Silva Borges, gestor pedagógico do colégio.
"Entendemos que o importante nessa fase de implantação dos Itinerários
Formativos é a escola ter a autonomia na hora de definir o que será ofertado,
tendo em vista a leitura que a própria escola faz - melhor do que ninguém - do
seu público e do contexto em que está inserida", ressalta.
Uma dúvida crescente entre os estudantes
e seus pais é sobre como escolher os Itinerários Formativos, o que levar em
conta, quase como quem escolhe o curso superior. Para decidir qual caminho
seguir, é fundamental que o aluno esteja bem informado sobre o assunto. Segundo
Milena Santiago Passos Lima, a escola deve apresentar, de maneira detalhada, as
explicações sobre os itinerários, quais deles a instituição oferece e o que
cada um envolve. "Isso pode ser feito inicialmente em rodas de conversa e,
posteriormente, em caso de necessidade, em conversas individuais agendadas com
o aluno e seus responsáveis", destaca a coordenadora.
Ciente das informações, os estudantes
devem refletir sobre seus interesses, aptidões e objetivos. "A proposta do
Novo Ensino Médio é fazer com que as escolas olhem para o aluno que está
construindo a sua identidade e o ajude a encontrar o melhor caminho, de modo
que se reflita na trajetória que ele tem ou terá dentro da escola e no futuro.
Então o aluno, a partir de agora, tem a oportunidade de olhar para si, de
desenvolver as suas potencialidades e consolidar uma proposta que esteja de
acordo com a sua trajetória. A mesma coisa vale para a escola que, ao se
deparar com as escolhas que ela precisa fazer para os Itinerários Formativos,
ela também deve fazer essa caminhada. De olhar para si, olhar para a sua identidade,
para a sua trajetória, para o seu contexto e, a partir daí, definir os
Itinerários Formativos que mais lhe convém, construindo um currículo coeso e
consistente para os seus alunos", completa Milena.
Para ela, pais e estudantes podem
esperar um novo currículo e uma renovação necessária do ponto de vista de
vivências e de desenvolver as potencialidades de cada um. "Pode-se esperar
uma mudança gradativa na cultura escolar, em que o aluno terá mais voz e vez e
terá também mais espaço para atuar, produzir, criar e aprender", finaliza.
Sobre o Sistema Positivo de Ensino
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