O impacto da crise energética para as pequenas e médias empresas
Por Luiz Ribeiro
O Brasil tem passado por uma intensa crise
hídrica e subsequente crise energética nos últimos meses. A situação acomete
desde grandes indústrias até pequenas e médias empresas e seus consumidores
finais. De acordo com levantamento realizado pelo Serviço Brasileiro de Apoio
às Micro e Pequenas Empresas – Sebrae, a conta
de energia representava em 2019, 15% dos custos operacionais das micro e
pequenas empresas, mas desde 2020, este gasto já passou a ser a principal
despesa para 28% dos pequenos empreendedores. É preciso lembrar ainda de um
agravante: a maior parte dos negócios estão faturando menos do que antes em
decorrência do isolamento social.
Uma pesquisa realizada em junho pelo
Sindicato das Micro e Pequenas Indústrias do Estado de São Paulo – Simpi, apurou
que 62% das micro e pequenas indústrias paulistas arcaram com aumentos
sucessivos em suas contas de energia elétrica ao longo de 2021, sendo que em
maio, a proporção de empresas que relataram esse problema era de 51%. A partir
de julho, a bandeira tarifária foi reajustada para o patamar 2, o que deve
piorar ainda mais os resultados, agravando a crise atual.
O fato é que a crise energética chega
exatamente no momento em que as indústrias deveriam estar se recuperando
economicamente da crise ocasionada pelo Covid-19 em 2020 e retomando suas
atividades no mercado. Pela primeira vez desde o início de 2021, mais da metade
das empresas industriais paulistas (52%) voltaram plenamente com suas
atividades, segundo o estudo do Simpi. Das empresas que estão em funcionamento,
69% afirmaram que seus gastos com produção, como matérias-primas, água e
energia elétrica aumentaram.
As diversas fontes de energia disponíveis
no país
Dentro deste cenário, o Brasil, que ainda é
um país muito dependente da energia hidrelétrica, a qual é responsável por mais
de 60% de sua capacidade elétrica, precisa se reinventar para que as pequenas e
médias empresas não sejam obrigadas a parar suas operações por falta de
energia. O país passa por uma escassez de chuva, principalmente em áreas de
mananciais, impulsionando a crise hídrica, além de falta de investimentos em
outras matrizes energéticas, como a eólica, que só ocorrem em tempos de
instabilidade, sendo suspensos na sequência. No caso da energia solar, o
governo estuda tributar sua geração, inclusive doméstica, e nesse caso, o
investimento fica menos atrativo.
A pesquisa do Simpi apontou que, como consequência
da crise hídrica, 59% das pequenas e médias indústrias brasileiras parariam
totalmente sua produção por falta de energia elétrica. Em caso de racionamento
de energia, oito em cada dez PMEs teriam prejuízos, sendo que em 48% delas o
dispêndio seria considerado alto. Apenas 20% não seriam prejudicadas,
exatamente por utilizarem outra fonte de energia na linha de produção, não
dependendo da energia hidrelétrica.
É possível estabelecer que uma maior
tranquilidade em relação ao abastecimento de energia apenas acontecerá quando a
representatividade hídrica no Brasil for inferior a 40%. A energia solar não é
mais uma novidade e, com o avanço da tecnologia, tornou-se mais acessível,
inclusive para uso doméstico. Existem, por exemplo, grandes empresas investindo
em fazendas de geração de energia solar ou eólica. A biomassa foi outra
diversificação importante que avançou consideravelmente na última década.
Outrora a geração de energia pelo bagaço de cana era um sub-produto do etanol e
utilizado apenas para manter usinas trabalhando, atualmente já existe muita
oferta de venda dessa energia gerada em usinas.
Como lidar com a crise energética?
A economia de energia é o preceito básico
neste momento de crise energética, a fim de manter a produtividade e os custos
sob controle, evitando desta maneira um apagão. Na mesma direção, é essencial
a economia de água por parte da população e das empresas, a fim de que o
período de recomposição dos reservatórios seja menor. Além disso, um
investimento e incentivo público maior destinado à área de energias renováveis,
como biomassa, energia solar e eólica, torna-se imprescindível para mitigar a
dependência da matriz hidrelétrica.
Esta não é a primeira e não será a última
crise energética no país. Ainda falta planejamento de longo prazo, uma vez que
só é pensado nessa questão quando uma nova crise aparece. As empresas sempre
buscam produtividade e redução de custos de modo geral. Agora, com a tarifa
extra de energia, o investimento em eficiência energética torna-se mais
necessário, uma vez que os custos deste recurso serão inflacionados, impactando
os orçamentos atuais.
O estudo do Sebrae indica que os setores
que usam máquinas e equipamentos na produção, especialmente na pequena e média
indústria, tendem a ser os mais afetados. Portanto, com o crescimento
inevitável nos custos de energia, a saída é avançar em eficiência energética.
Para isso, é fundamental diagnosticar os pontos de desperdício
para identificar onde realizar as manutenções, ampliar o uso de luz natural,
utilizar geração própria de energia, dividir o sistema de iluminação em
circuitos, entre outros.
Atualmente já existe tecnologia capaz de
medir a qualidade de energia, totalmente acessível para as pequenas e médias
indústrias. As empresas brasileiras estão atentas aos novos desafios do mercado
e, por isso, têm desenvolvido equipamentos cada vez mais sofisticados para
realizar medições complexas de forma rápida, precisa e segura. Além de
equipamentos, a cada dia são disponibilizados novos conjuntos de acessórios e
softwares para auxiliar no trabalho com as próprias ferramentas, facilitando
assim o uso desses instrumentos em qualquer situação de medição de qualidade de energia.
Somente entendendo e atuando na origem do desperdício de
energia é possível tomar decisões inteligentes sobre formas eficientes de
reduzir o consumo e, consequentemente, os custos. No final das contas, a melhor
maneira de lidar com a crise energética e utilizar a energia de forma eficiente,
por meio da conscientização, do investimento em conhecimento na divulgação dos
benefícios da aplicação das energias renováveis e inovação tecnológica. Com
isso, será possível projetar um crescimento de mercado sustentável no país.
Luiz Ribeiro é General Manager Latin
America da Fluke
do Brasil, companhia líder mundial em ferramentas de teste e medição presente
em diversos segmentos da indústria.
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