O impacto do ‘Pivô digital’ no Brasil, muito além da pandemia
O impacto da COVID-19 impulsionou a transformação digital em todo o país e de forma permanente
Por Eduardo Borda,
Vice-presidente Softline Brasil*
A disseminação da pandemia da Covid-19 em todo o Brasil
deixou seu rastro através de impactos sociais e econômicos
sem precedentes. Enquanto – em termos “macro” – o Fundo Monetário Internacional
registrou um declínio de 4,1% na produção anual de 2020 (em comparação a
2019), o custo humano individual foi ainda mais acentuado. As estimativas
sugerem que mais de um quarto da população ativa foi empurrada para um “estado
de vulnerabilidade” pela crise, enquanto a taxa oficial de desemprego atingiu
um recorde de 14,7% em março com o início da segunda onda da pandemia.
Portanto, por trás de cada um desses pontos de dados ‘macro’ está
uma história individual – ‘micro’, não apenas de dificuldades mas, em muitos
casos, de resiliência. A história de todo o país é uma prova da nossa
capacidade de adaptação, improvisação, normalização do não convencional; e, ao
mesmo tempo, de fazer deste momento de dificuldade uma virtude.
Nossa cultura, nossa música e até mesmo nossa obsessão pelo
futebol refletem nossa capacidade de sintetizar conceitos e qualidades (sejam
elas indígenas, africanas , europeias ou outras) que em circunstâncias
“normais” pareciam incompatíveis. Logo, como brasileiro, estou orgulhoso da
maneira como esse espírito de pragmatismo já está remodelando a maneira como
vivemos e trabalhamos em face a esta pandemia.
Durante os primeiros 12 meses da pandemia (desde março de
2020), por exemplo, de forma surpreendente, 91% da população fez pelo menos uma
compra online; um aumento de 5% em relação ao ano anterior. Os volumes de
entrega de alimentos aumentaram para 55% (de 34% no ano passado) e as compras
online de alimentos aumentaram de 9% para 30% da população durante o mesmo
período. Certamente, o comércio eletrônico veio para ficar.
No primeiro trimestre deste ano, as vendas online registraram um
aumento impressionante de 72% em relação ao ano anterior. Essas tendências
online não se limitam ao setor de varejo. De acordo com uma pesquisa da
McKinsey, mais da metade dos tomadores de decisão B2B do Brasil está aberta a
fazer compras online superiores a US $50.000, enquanto 21% estariam preparados
para gastar mais de US $500.000 remotamente. Para um país que tradicionalmente
dá tanta importância ao contato pessoal e aos relacionamentos (principalmente
nas transações B2B), essa descoberta é absolutamente radical. Não estou
sugerindo que as relações pessoais não contam mais nos negócios, mas
simplesmente que as empresas brasileiras se adaptaram rapidamente a uma
realidade em que as reuniões presenciais podem ser menos comuns do que antes.
Essa flexibilidade se refletiu em outro lugar. As transações de
bancos móveis/digitais no Brasil atingiram um recorde histórico em 2020 como
resultado direto da Covid-19; representaram mais da metade (51%) de todas
as transações bancárias realizadas no ano passado. Isso é o equivalente a 52,9
bilhões de operações, em comparação com apenas 37 bilhões em 2019.
Evidências do ‘pivô digital’ no Brasil são abundantes. No setor de
saúde, no ano passado, o Dr. Consulta conectou mais de 2 milhões de pacientes
online com especialistas que usam algoritmos treinados em IA para dar suporte
em suas avaliações clínicas. Isso sem falar nos serviços públicos: mais
de 54 milhões de cidadãos acessaram o Gov.br em março do ano passado (10% acima
do mês anterior); nas primeiras duas semanas do mês seguinte, mais de 31
milhões de consultas foram feitas. Esta é a essência do ‘pivô digital’ no
Brasil – um momento único na história, que impulsiona a atualização digital em
todo o país.
Logo, ressalto que estamos trabalhando no centro dessa mudança,
desde a reação imediata que as empresas tiveram que adotar no ano passado até a
atual modernização da infraestrutura para preencher as lacunas técnicas
existentes hoje em dia. Em um ano, 100% dos nossos clientes tiveram que se
adaptar rapidamente ao trabalho remoto. Ajudamos mais de cem empresas a adotar
e implantar soluções em nuvem em menos de três meses. Trabalhar de “qualquer
lugar” exige acesso seguro e, na maioria dos casos, monitoramento de
dispositivos.
Implementamos soluções para capacitar 2 milhões de usuários de
escritório nos últimos 12 meses. Assim, nossa oferta “Total Voice”, que é voz
sobre IP baseada no Microsoft Teams, pode trazer o PABX do cliente para a nuvem
com pouco esforço, permitindo que cada funcionário tenha um ramal direto em
qualquer lugar. Tal tecnologia já foi implementada em vários clientes nos
últimos quatro meses e muitas outras implementações ainda estão em andamento
pela alta demanda e necessidade das empresas em adaptar-se ao novo cenário que
nos foi exigido.
Como empregadores, passamos a adotar muitas outras tecnologias e
vejo uma incrível capacidade de adaptação dos colaboradores – 100% estiveram
trabalhando de casa nos últimos 15 meses e usando conexões seguras para
sistemas corporativos. Mais de 90% dos documentos foram assinados digitalmente
(apenas algumas exceções exigem assinatura física, que são entregues por
correio). Reuniões diárias são organizadas para sincronizar as atividades e o
ritmo do negócio e 100% das reuniões online foram voltadas para clientes para
colaborar com o distanciamento social.
Assim, o ‘fruto’ do ‘pivô digital’ no Brasil está maduro para a
colheita. A catástrofe global da saúde pode sinalizar o surgimento de um
renascimento digital em toda a região, com base em novas experiências de
clientes e modelos de negócios alternativos. O Brasil foi atingido de forma
particularmente dura por esta pandemia, mas demonstramos nossa capacidade de
improvisar e nos adaptarmos rapidamente à ‘nova normalidade’. A chave será
moldar o futuro de forma que todos os segmentos da sociedade e do comércio
sejam beneficiados – dos consumidores aos funcionários, das empresas às
comunidades locais. Este é o verdadeiro desafio – e oportunidade – do nosso
‘pivô digital’.
*Eduardo
Borda é vice-presidente da Softline Brasil.
É um gestor com mais de 20 anos de experiência em empresas de Tecnologia da
Informação com foco consistente em negócios e na experiência do desenvolvimento
de pessoal e na criação de uma forte rede de líderes e clientes de TI. Eduardo
ingressou na Softline em maio de 2018 com a missão de
expandir o portfólio de ofertas e serviços da empresa.
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