Relações trabalhistas pós-pandemia: devemos ser otimistas?
Por: Dra. Bruna Cavalcante Kauer
Desde a última recessão de 2015/2016, já era notada uma mudança estrutural do mercado de trabalho, com aumento da flexibilidade, migrações do regime celetista para outras formas contratuais e acomodações no mercado informal.
A pandemia de
coronavírus intensificou esse processo e afetou, principalmente, os
trabalhadores com menor proteção social e baixa escolaridade, ou seja,
trabalhadores informais foram mais atingidos que os formais, gerando um impacto
profundo no mercado de trabalho.
O futuro das relações
trabalhistas neste contexto é bastante complexo e, portanto, podemos esperar
que alguns setores fiquem muito diferentes do que eram anteriormente a este novo
cenário. Vejamos: houve uma adaptação das funções que envolvam teletrabalho, o
que pode levar à adoção permanente das videoconferências, esvaziando pontes
aéreas pelo país com menos fluxo de passageiros, o que afeta diretamente o
setor de aviação, por outro lado, em relação ao comércio houve aquecimento e
crescimento do e-commerce, o que pode prejudicar os resultados do varejo
presencial.
Antes mesmo da pandemia
já havia indícios de novas tendências na relação entre empregador e empregado.
O compartilhamento de cargos, a adoção do trabalho remoto como
padrão, a diminuição do número de dias trabalhados são alguns dos formatos que
já são realidade para muitos trabalhadores.
É importante deixar
claro que as questões das relações trabalhistas envolvem diretamente a situação
econômica, num país em que temos uma situação fiscal complicada, o tamanho da
dívida pública é muito grande e não é esperado um crescimento vigoroso da
economia. Desta forma, as perspectivas em curto prazo não são animadoras.
Em um futuro próximo,
segundo estudos de projeções a longo prazo, teremos quatro grandes grupos de
trabalhadores: deslocados, redundantes, essenciais e remotos.
Os “deslocados” são os
que se afastaram das suas funções em curto prazo e que fazem parte dos setores
mais afetados pela pandemia, como comércio e serviços, hospitalidade, varejo e
turismo.
Os
"redundantes" são os que terão que ter conhecimento tecnológico e
digital, como, por exemplo, professores para ministrar aulas online e médicos
cirurgiões para realizarem cirurgias robotizadas.
Os trabalhadores
"essenciais", também conhecidos popularmente como os “linha de
frente“ são os entregadores, enfermeiros, coletores de lixo, profissionais da
saúde, de supermercados, da agricultura e da indústria, que continuarão suas atividades
normalmente.
Por fim, os
"remotos" integram a categoria que pode trabalhar remotamente e que
terão a possibilidade de manterem seus empregos.
Há uma grande tendência
de um trabalho mais híbrido, dividido entre a residência do trabalhador e
o local da prestação de serviços, as empresas terão que se reinventar trazendo
novas tendências e proporcionando maior qualidade de vida, flexibilidade e
comodidade aos seus colaboradores.
Apesar disso, haverá
maior concorrência profissional, alteração de forma de contratação, supressão
de direitos trabalhistas...
Concluímos que o futuro
das relações trabalhistas não se limita ao home office e nem às ferramentas
tecnológicas.
Organização,
criatividade, colaboração e aprendizado são elementos fundamentais para nortear
as tomadas de decisões tanto para o empregador como para o empregado.
Sobre a Dra. Bruna
Cavalcante Kauer
Bruna Cavalcante Kauer é
Bacharel em Direito pela Universidade de São Francisco (USF), desde 2005,
pós-graduanda em Direito do Trabalho e Processo do Trabalho pela Faculdade
Legale.
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