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Desafio nas redes sociais: causando sérios danos à saúde mental de crianças e adolescentes

 Cada vez mais jovens se dedicam a fazer desafios propostos em redes sociais. O problema é que muitos deles podem trazer uma série de problemas que os pais ainda não perceberam, observa neurocientista.

Divulgação 

Uma mania nas redes sociais acendeu o sinal de alerta em pais de adolescentes e médicos. Chamado de desafio Roacutan, a febre do momento é publicar vídeos instigando os jovens a tomarem o remédio para afinar o nariz, pois ele diminui as glândulas sebáceas. O problema é que a medicação é recomendada para o tratamento de acne, e por isso não deve ser usada de forma indiscriminada como a proposta sugere.

 

Além da questão fisiológica do fármaco, o que chama a atenção é os efeitos desta moda para a saúde mental dos adolescentes e o alcance em que esta tendência se propaga tão rapidamente neste público. Para se ter ideia, até o momento os vídeos com essa “brincadeira” já tiveram mais de 17 milhões de visualizações no TikTok. Para o PhD, neurocientista, psicanalista e biólogo Fabiano de Abreu, isso acontece porque “esta rede social tem um alcance muito amplo, com intenso engajamento. Além disso, as pessoas se lançam nesta mania despreparadas e desconhecem os efeitos colaterais danosos à saúde que este medicamento possui”.

 

Do ponto de vista relacionado à saúde mental, Fabiano explica que “ao serem instigados a realizar os desafios propostos na plataforma, o organismo dos jovens libera a dopamina, que é um neurotransmissor responsável pelo sentimento de recompensa. O grande problema é que ele é viciante e dá uma sensação de bem-estar, e assim a pessoa fica cada vez mais com vontade de se ‘alimentar’ deste desejo, aumentando a ansiedade. E quanto mais conquista os desafios propostos, mais ela buscará outros desafios, como um ciclo intermitente”, detalha.

 

Enquanto isso, a pandemia obrigou muitas crianças e adolescentes a passarem mais tempo em casa, longe da escola e do contato presencial com os amigos, o que agravou este problema, observa o neurocientista. “Ao ficar mais tempo em casa acessando as redes sociais, o jovem fica mais ansioso pela rede em si, pela mudança da rotina e devido aos acontecimentos da pandemia. E quanto mais ocioso, maior a ansiedade para mais liberação da dopamina como mecanismo de satisfação oposto ao da negatividade que a ansiedade também traz, trazendo um ‘alívio’ para aquela situação. O problema é que com isso se abre um ciclo sem fim, pois cada vez mais a pessoa fica refém daquela sensação aqui descrita”, acrescenta. Até que chega a um ponto em que a saúde mental fica prejudicada, lamenta o neurocientista: “Quando se ultrapassa o limite a pessoa passa a ter uma disfunção no sistema límbico, que é onde se regula a emoção no cérebro. A pessoa perde a racionalidade, porque o córtex pré-frontal, que fica na região do lobo frontal, passa a não funcionar corretamente”.

 

Mas, por que cada vez mais jovens aceitam fazer desafios como estes? Para Fabiano, "isso tudo é uma necessidade de querer ser visto e lembrado. É uma espécie de narcisismo, tanto que isso aumenta esse desejo de ser aceito e acaba se tornando uma espécie de competição, pois o jovem passa a querer cada vez mais ser aceito pelos outros. Existe uma ideia já culturalmente enraizada de que, quem tem seguidores nas redes sociais é quem é mais bem sucedido, que é algo totalmente equivocado. Por isso eu posso afirmar que a rede social é um dos maiores males, se não o maior, da atualidade, e poderá se converter ainda em uma série de problemas futuros”, completa.

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