ESGoto: saneamento como alavanca de transformação
André Salcedo, diretor de Transformação da Iguá
Divulgação
André Salcedo*
O esgoto é o mais emblemático rejeito da
cultura humana. Ironicamente, as letras que iniciam o termo concentram os pilares
ESG - Environmental, Social and Governance. Uma coincidência adequada à
importância do esgotamento sanitário para transformações econômicas, ambientais
e sociais.
Com apenas 54% da população brasileira
com acesso à coleta de esgoto, abraçar a agenda do saneamento, significaria
reduzir danos ambientais e desigualdades sociais. Para isso são necessários
investimentos e capacidade de execução além do que o Estado tem sido capaz de
fornecer com a urgência que a situação pede.
As perspectivas são positivas: novos
projetos vêm se multiplicando, em especial pelo envolvimento do BNDES e da
Caixa Econômica Federal na sua estruturação. E há um aumento relevante da
participação e interesse de operadores privados e investidores após a aprovação
do Novo Marco do Saneamento.
O déficit do saneamento revela uma
oportunidade de investimento no segmento de infraestrutura que mais reúne
Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis (ODS) da ONU. Dos 17 ODS, o setor é
diretamente representado no objetivo 6 (Água potável e Saneamento), além de
contribuir com outros onze temas ligados à saúde, educação, desenvolvimento
socioeconômico sustentável e consumo consciente. A agenda ESG tem capital
abundante disponível pelo mundo.
Rumo à universalização, o setor
demonstra o seu potencial transformador na redução do impacto ambiental
decorrente da presença humana, no fortalecimento de padrões de governança e
transparência, e gerando benefícios sociais.
É inegável seu papel no combate às
desigualdades e na promoção da dignidade. O saneamento reduz riscos de
desenvolvimento das doenças de veiculação hídrica, responsáveis por 230 mil
internações no Sistema Único de Saúde em 2018, segundo o DATASUS.
Há ainda efeitos no desenvolvimento
educacional e na renda da população. Estudos do Instituto Trata Brasil apontam
que pessoas sem acesso à coleta de esgoto e água tratada têm renda 52,4% menor
e impacto de 25% na escolaridade.
Neste sentido, concessões como a do Rio
de Janeiro, que trazem compromissos de universalizar o saneamento, conjugados
com investimentos relevantes na recuperação ambiental e em áreas irregulares,
contribuem em diversos sentidos para a redução de passivos ambientais
históricos e de desigualdades sociais crônicas.
O Novo Marco pavimenta o caminho para
que o setor amplie sua transparência e a governança regulatória. Com o papel da
Agência Nacional de Águas reformulado, espera-se maior uniformidade de
critérios e segurança jurídica.
Os últimos leilões demonstram alta
capacidade de atração de capital de qualidade para o setor, que, por sua vez,
trazem consigo políticas rígidas de conduta, conformidade, ética e
transparência.
O pilar ambiental está no cerne do
saneamento. É sua função primeira garantir a qualidade da água, o tratamento
adequado dos resíduos devolvidos à natureza e o uso eficiente dos recursos
hídricos.
Voltando ao Rio de Janeiro, a
despoluição do sistema lagunar da Barra da Tijuca será uma das contribuições
mais significativas que o setor pode garantir à capital carioca. Interromper o
despejo de esgoto não tratado e atuar na recuperação do passivo ambiental é
fundamental para a regeneração desses ecossistemas.
Os investimentos no saneamento
impulsionam as alavancas da preservação ambiental e do desenvolvimento
socioeconômico. Potencial que deve atrair recursos na ordem de R$750 bilhões
para viabilizar a universalização até 2033, segundo levantamento da Abcon,
associação do setor. É um dos maiores investimentos ESG em escala global e
caracteriza a força do setor na transformação do País.
*André Salcedo é diretor executivo de
Transformação da Iguá Saneamento
Biografia do autor:
Diretor Executivo de Transformação da
Iguá Saneamento, André Salcedo é graduado e mestre em Engenharia, com ênfase em
Estatísticas e Finanças, pela PUC-Rio, e possui MBA em Parceria Público-Privada
e Concessões pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo. Atuou
no BNDES por mais de 16 anos, passando por diversas áreas, onde foi head da
Divisão de Mercado de Capitais. Foi membro dos conselhos de administração da
FAPES/BNDES, da Ligth, da Ourofino Saúde Animal e da Iochpe Maxion S/A. André é
consultor independente e autor do relatório Destravando o Potencial de
Investimentos Verdes para Agricultura no Brasil com suporte da Iniciativa
Brasileira de Finanças Verdes, da Climate Bonds Iniciative.
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