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Ex-BBB Josy Oliveira, morre após AVC durante cirurgia para tratar Aneurisma Cerebral

Professor de Neurocirurgia da Unifesp, Dr. Feres Chaddad explica o quadro e o que fazer para identificar e tratar a condição

Josy, ex-participante do Big Brother Brasil 9 — Foto: TV Globo/Fabrício Mota - Reprodução G1

Josy Oliveira, psicóloga, cantora e ex-participante da nona edição do "Big Brother Brasil", morreu neste sábado (04) aos 43 anos, em São Paulo. A morte precoce ocorreu em virtude de um Acidente Vascular Cerebral (AVC), durante a realização de uma embolização para tratamento do aneurisma cerebral diagnosticado no início do ano.

“Aneurisma cerebral é uma dilatação anormal nas artérias cerebrais, que em algum momento pode vir a romper, causando hemorragia e lesões cerebrais. A prevalência na população oscila entre 2,8% a 3,2%, acometendo ligeiramente mais as mulheres. De maneira geral, aneurismas intracranianos podem e devem ser tratados. A escolha da abordagem considera fatores do paciente como idade e comorbidades, e características do próprio aneurisma, como tamanho e posição” - explica o Dr. Feres Chaddad, Professor e Chefe da Disciplina de Neurocirurgia da Unifesp, Chefe da Neurocirurgia do Hospital BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo.

Segundo familiares, o aneurisma foi descoberto no final de 2020, após o falecimento da mãe de Josy, em decorrência de um câncer de pulmão. Por indicação médica, as duas filhas foram submetidas a uma bateria de exames para avaliar a possível hereditariedade do quadro que acometeu a mãe. Desde a descoberta do aneurisma, Josy consultou 6 diferentes médicos e, em conjunto com sua equipe assistente,  optou pela realização da embolização em caráter de urgência, devido à irregularidade de seu aneurisma e o alto risco de vazamento.

O procedimento de embolização é realizado sob anestesia geral e é considerado seguro. Durante a cirurgia, cateteres-guia são inseridos na virilha e, através da artéria  femoral são conduzidos pela aorta até as artérias cerebrais. Um micro cateter é posicionado dentro do aneurisma e, em seguida, espirais metálicas de platina (“molas”), são depositadas para cessar a circulação sanguínea no aneurisma, eliminando o risco de sangramento.

A ex-BBB foi submetida ao procedimento na última terça-feira (31), no Hospital Santa Catarina Paulista, em São Paulo. Durante o procedimento, o quadro incorreu para um Acidente Vascular Cerebral, uma complicação grave e altamente letal, que causou inchaço cerebral e elevação da pressão intracraniana. 

Como parte da abordagem terapêutica, a cantora permaneceu em coma induzido, entubada e com o cateter para tentativa de estabilização. Após alguns dias ela foi retirada dos sedativos, mas, infelizmente, não resistiu às complicações e teve sua morte cerebral constatada.

“O caso de Josy apresentou uma complicação pouco comum com a ruptura do aneurisma durante a manipulação pela técnica endovascular de embolização. A ruptura exige a interrupção do fluxo sanguíneo para oclusão do mesmo e fechamento do furo. Neste caso, provavelmente ocorreu uma interrupção longa e ao mesmo tempo um vazamento de grande quantidade de sangue, causando um AVC grave” - comenta o Dr. Feres Chaddad.

Segundo informações da irmã, Jeanne Oliveira, os órgãos da ex-sister serão doados e  seu corpo cremado. As cinzas serão jogadas ao mar e a família organiza uma missa onde familiares, amigos e fãs poderão prestar suas últimas homenagens.

O QUE É E COMO DIAGNOSTICAR O ANEURISMA CEREBRAL?

Aneurisma cerebral é uma dilatação anormal nas artérias cerebrais, que em algum momento pode vir a romper, causando hemorragia e lesões cerebrais. A prevalência na população oscila entre 2,8% a 3,2%, sendo mais comuns alguns tipos de populações, como japoneses e finlandeses, acometendo ligeiramente mais as mulheres. 

O diagnóstico de aneurisma, em geral, ocorre durante a investigação de doenças como cefaléia, enxaqueca, desmaios e crises convulsivas ou por uma busca direta de condições cerebrais, através de exames de imagem. Geralmente ocorre entre os 40 e 50 anos e tem seu crescimento e ruptura, em geral, relacionados a doenças associadas como hipertensão arterial, malformação arteriovenosa cerebral (MAV) e hábitos como tabagismo, sedentarismo e dietas pouco equilibradas.

QUAIS SÃO OS TRATAMENTOS?

Microcirurgia (cirurgia aberta) - Promove a dissecção do aneurisma através de microscópios cirúrgicos modernos, com o paciente monitorado por neurologista, além de softwares que garantem confirmação de perfeita resolução do aneurisma e viabilidade dos vasos através de angiografia intraoperatória. É a técnica mais consagrada e atual padrão ouro tanto pela sua segurança, quanto por permitir a resolução do aneurisma de forma  eficiente, imediata e duradoura. Conforme explicado pelo Dr. Feres Chaddad: “As microcirurgias para aneurisma incidental têm baixo risco de complicações. Quando ocorrem, as mais comuns são: infecção, fístula liquórica e déficits transitórios, raramente definitivos.”

Embolização (técnica endovascular) -  É realizada por meio de cateteres para chegar até o aneurisma e os manipula com a cabeça fechada. Impreterivelmente, em vigência de ruptura aneurismática ou obstrução de um vaso, o déficit neurológico é imperativo. Trata-se de técnica que permite uma abordagem terapêutica associada a menores taxas de morbidade e de mortalidade, porém exige exames de controle por angiografia semestrais e utilização de medicação antiagregante plaquetária. O procedimento é mais indicado para pacientes que não apresentam condições clínicas ou neurológicas para serem tratadas com microcirurgia.

A melhor escolha terapêutica entre as modalidades, aberta ou endovascular, deverá ser analisada de forma multidisciplinar, levando sempre em consideração o melhor tipo de abordagem para cada tipo de aneurisma e de paciente. Após a cirurgia, o paciente segue para reabilitação e em acompanhamento e controle de comorbidades que possam estar associadas ao risco mais elevado de reincidência do quadro.

CAUSAS DO ANEURISMA:

As causas mais comuns que levam ao Aneurisma são: 

  • Comorbidades: Aterosclerose, hipertensão arterial, níveis sanguíneos elevados de colesterol e triglicérides e diabetes descontrolado
  • Malformação Arteriovenosa (MAV) - O alto fluxo sanguíneo nas artérias desta doença, predispõem a formação de aneurismas cerebrais.
  • Histórico Familiar: 15% dos portadores da doença têm parentes diretos com essa dilatação em artérias cerebrais. Em casos raros, a lesão pode ser ainda congênita, como as doenças do colágeno e rins policísticos.
  • Estilo de vida: Tabagismo

O QUE É E QUAIS TIPOS DE AVC?

O AVC, hoje, é a segunda maior causa de morte no mundo, atrás apenas da doença isquêmica cardíaca, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, provocando inclusive impactos econômicos importantes no país.

O AVC hemorrágico ocorre quando vasos que levam sangue ao cérebro entopem e se rompem, provocando a paralisia da área cerebral que ficou sem circulação sanguínea. Os sintomas súbitos do AVC, como dor de cabeça, formigamento, perda da fala e/ou alteração da visão, podem durar de minutos até horas.

Já o AVC Isquêmico (AVCI), é causado pela falta de sangue em uma área do cérebro por conta da obstrução de uma artéria. Fraqueza ou adormecimento em apenas um lado do corpo, dificuldade para falar e/ou entender coisas simples, engolir, andar e enxergar, tontura, perda da força da musculatura do rosto ficando com a boca torta, dor de cabeça intensa e perda da coordenação motora. Os sinais acontecem de forma súbita e podem ser únicos ou combinados.

Quando não mata, o AVCI deixa sequelas que podem ser leves e passageiras ou graves e incapacitantes. As mais frequentes são paralisias em partes do corpo e problemas de visão, memória e fala. A falta do sangue, que carrega oxigênio e nutrientes, pode levar à morte neuronal em poucas horas. Por isso, o reconhecimento dos sintomas e encaminhamento rápido ao hospital são atitudes fundamentais.

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