Setembro Amarelo: ansiedade e estresse deixam trânsito brasileiro mais violento
Combinação de imprudência, com excesso de velocidade e desrespeito às regras aumentou letalidade dos acidentes no Brasil
Desde 2017 o
Brasil lidera o ranking dos países com maior índice de pessoas com transtornos
de ansiedade. Após a pandemia, esse quadro piorou: 86,5% dos entrevistados em
uma pesquisa do Ministério da Saúde estavam enquadrados em algum tipo de
ansiedade patológica. Os reflexos do aumento da ansiedade, depressão e estresse
impactam de forma direta no trânsito.
“O comportamento mais agressivo do motorista pode ser comprovado no aumento do
excesso de velocidade nas rodovias e da letalidade nos acidentes, sem contar as
brigas de trânsito, que acontecem com uma frequência cada vez maior”, afirma o
diretor científico da Associação Mineira de Medicina de Tráfego (Ammetra),
Alysson Coimbra.
Estudo do
instituto de pesquisa WRI Brasil mostrou que embora o número de acidentes tenha
diminuído no Brasil durante a pandemia, a gravidade deles aumentou. O motivo é
uma combinação letal de imprudência com excesso de velocidade. Ainda segundo
dados divulgados pelo instituto, um atropelamento a 60 km/h equivale a uma
queda do sexto andar, e o pedestre tem 2% de chance de sobreviver. A 30 km/h, a
chance sobe para 90%. “A
comunidade científica já alertou que uma redução de até 5% na velocidade média
do veículo pode diminuir em 30% os acidentes com morte. Então, num momento
em que se intensifica o comportamento agressivo do motorista, é urgente
intensificar a fiscalização e até reduzir os limites de velocidades em vias
onde haja grande fluxo de pedestres”, afirma o diretor
científico da Ammetra.
Em quase dois
anos de pandemia, médicos e psicólogos especialistas em Tráfego que atendem
motoristas que pleiteiam a renovação e obtenção da Carteira Nacional de
Habilitação (CNH) viram de perto as mudanças que a ansiedade provocou nos
candidatos. “Percebemos
um grau de desatenção maior durante a realização do exame, manifestado pela
dificuldade de compreender comandos simples, despertando reações impacientes e
agressivas. Inegavelmente as condições mentais e psicológicas têm um impacto na
capacidade desses motoristas dirigirem em segurança, e a replicação desse
comportamento no trânsito induz à Falha de Atenção ao Conduzir (FAC), gerando
risco também para os demais integrantes do Sistema Nacional de Trânsito”,
completa Coimbra.
Segundo o
diretor científico da Ammetra, o aumento de 30% nos acidentes graves com
ciclistas, revelado por meio de um estudo da Associação Brasileira de Medicina
do Tráfego (Abramet), é outro fator decorrente das alterações no comportamento
dos motoristas. “Esse
novo perfil do motorista brasileiro traz graves consequências para os elos mais
frágeis, que são os pedestres e ciclistas. É urgente o investimento em
campanhas de educação paralelamente ao aumento da fiscalização e punição de
atos infracionais, pois a cada hora pelo menos cinco pessoas perdem a vida em
decorrência da violência do trânsito brasileiro”, completa
Coimbra.
Gravidade dos acidentes aumentou durante a pandemia
(Foto:Jefferson Santos/Fotos Públicas)
Drogas
Outro
reflexo da piora na saúde mental do brasileiro é o aumento do consumo de
substâncias psicoativas. Segundo dados fornecidos pela Polícia Rodoviária
Federal (PRF), nos últimos dois anos o número de autuações por dirigir sob o
efeito de substâncias psicoativas praticamente dobrou nas rodovias federais
brasileiras. No ano passado foram aplicadas 1.872 multas contra as 939
registradas em 2018.
Somente nos
quatro primeiros meses de 2021, a PRF aplicou 390 autuações por esse tipo de
infração. “Diante desse cenário, a avaliação psicológica ganha ainda mais
importância na análise biopsicosocial dos motoristas, identificando
precocemente sinais de agressividade, excitabilidade, impulsividade, indícios
de comportamento infrator, além do uso abusivo de álcool e drogas. É preciso
readequar urgentemente a periodicidade da realização desses exames por nossos
motoristas”, avalia Angélica Reis, especialista em Psicologia do Tráfego.
O diretor científico da Ammetra Alysson Coimbra
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