Ciclo de Seminários consolida parceria entre Novartis e USP
Especialistas multissetoriais abordaram
aspectos sociais e econômicos relacionados à saúde cardiovascular
Colesterol alto, diabetes, hipertensão
arterial, obesidade: fatores de risco tão em voga nos últimos 18 meses devido à
pandemia de Covid-19 desde sempre estiveram na pauta de quem atua no cuidado e
na prevenção das doenças cardiovasculares. Não é à toa que o primeiro dia do
ciclo de seminários online “A Sociedade Brasileira e o Cuidado da Saúde
Cardiovascular”, debateu o tema “Sindemia: o impacto das doenças
cardiovasculares na sociedade pós-Covid-19”.
Promovido pelo Instituto de Estudos
Avançados da Universidade de São Paulo (IEA) em parceria com a farmacêutica
Novartis, o evento apresentou estudos multissetoriais com o objetivo de
estimular reflexões sobre o impacto das doenças cardiovasculares não apenas na
saúde das pessoas, mas também na qualidade de vida de toda a população, nos
sistemas de saúde do Brasil, seja no Sistema Único de Saúde (SUS) ou na Saúde
Suplementar, e também na economia nacional, abordando assuntos como longevidade
produtiva e previdência.
Para isso, foram realizados quatro
painéis, de 27 a 30 de outubro, transmitidos ao vivo das 17h às 19h no canal do
YouTube do IEA-USP, que além do pós pandemia abordaram também os temas “Saúde
das pessoas e a saúde cardiovascular”, “A desigualdade na doença cardiovascular
e as populações vulneráveis” e “Priorização de programas nacionais voltados ao
cenário das doenças cardiovasculares”. Os webinários reuniram 21 especialistas
multidisciplinares, entre representantes das três esferas de governo, como João Gabbardo,
Coordenador executivo do Centro de Contingência da Covid-19 em São Paulo e
Médico Auditor do Ministério da Saúde; e a deputada federal Mariana Carvalho
(PSDB-RO), médica e advogada; membros de organizações da Sociedade Civil, como
a Conselheira no Conselho Nacional de Saúde (CNS) Marlene Oliveira,
do Instituto Lado a Lado pela Vida; além de executivos, acadêmicos e
pesquisadores com atuação no Brasil e no exterior.
De acordo com o Diretor do IEA,
Guilherme Ary Plonski, o ciclo de seminários é um marco importante para
celebrar a aproximação entre o mundo acadêmico e o mundo empresarial. “A
articulação entre empresa, academia e sociedade é essencial para a criação de
inovação capaz de efetivamente endereçar os desafios da atualidade, como o do
aumento de eventos cardiovasculares nas populações”, disse o diretor, doutor e
livre-docente em Engenharia de Produção com vasta e reconhecida atuação
acadêmica.
Para o presidente do grupo Novartis no
Brasil, Renato Carvalho, é importante que a empresa seja um agente de saúde no
Brasil e não simplesmente uma companhia que quer vender o medicamento. Nos
últimos quatro anos, a Novartis investiu R$ 1 bilhão em pesquisas clínicas no
Brasil. “Temos orgulho de ser a empresa privada que mais trabalha com
universidades públicas no Brasil”, disse Carvalho, destacando o papel
fundamental da iniciativa privada ajudar o governo e a academia. “A gente quer
ajudar e isso passa por educação, prevenção, colaboração e parceria em busca um
objetivo maior. A Novartis acabou de assinar uma parceria muito interessante em
doenças cardiovasculares com o NHS (do inglês, National Health Service) o serviço de saúde
pública do Reino Unido, e vamos tentar fazer a mesa coisa aqui em nosso país”,
completou.
A Coordenadora do Grupo de Estudo de
Espaço Urbano e Saúde do Instituto, Ligia Vizeu Barrozo, participou ativamente
das quatro mesas e aproveitou o evento para divulgar um estudo realizado na
capital paulista que mostra o risco relativo e a mortalidade por doenças do
aparelho circulatório. “São Paulo é uma cidade altamente segregada e as áreas
com maior risco de morte por doenças cardiovasculares são as mesmas do risco de
morte por Covid, e ambos são bem maiores na periferia, nos bairros com
moradores de menor poder aquisitivo”, explicou ela. Coordenadora do grupo de
estudos Espaço Urbano e Saúde do IEA, Ligia destacou a necessidade de a
sociedade entender que o desafio da redução da mortalidade por doenças
cardiovasculares é uma questão intersetorial e interdisciplinar, a qual
extrapola a abordagem puramente clínica. “As condições socioeconômicas e os
chamados determinantes sociais em saúde tem um papel fundamental, e estamos
nesse ciclo para envolver toda a sociedade no enfrentamento desse desafio.
Precisamos reduzir essas mortes, principalmente as que ocorrem de forma
prematura, abaixo dos 70 anos”, disse.
Envelhecimento – Consultor da Organização das Nações
Unidas (ONU) para temas como doenças crônicas e envelhecimento, o economista
André Medici explicou como os investimentos na prevenção e no tratamento
precoce de doenças cardiovasculares impactam positivamente a economia de um
país. Em sua apresentação, no segundo dia do evento, ele mostrou dados que
comparavam, por exemplo, como mais investimentos na prevenção de doenças
coronarianas significavam menos custos com pacientes enfartados.
Segundo Medici, o grande desafio do
século 21 é justamente o envelhecimento, e para enfrentá-lo, será preciso mudar
todo um processo para as pessoas chegarem à velhice com mais saúde. “Isso
inclui não apenas investimentos em saúde, mas também em educação e
desenvolvimento social. Precisa haver a integração de políticas públicas e a
prevenção terá que começar mais cedo”, completou.
Na prática – A Novartis Foundation possui um
projeto global focado na prevenção de doenças cardiovasculares viabilizado no
Brasil em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo. “Essa
parceria acontece há quatro anos e agora foi estendida por mais dois anos”,
explicou a nutricionista Yara Baxter, doutora pela USP e Consultora local da
Fundação Novartis desde 2017.
Mais de 300 mil pessoas já foram
impactadas pelo projeto, que analisou mais de 7 mil prontuários para saber se
os profissionais das Unidades Básicas de Saúde conhecem os hipertensos do
entorno. Os resultados do projeto são animadores: em quatro anos, o registro da
pressão arterial nas fichas dos pacientes aumentou de 36% para 80%.
“A principal barreira de implementação
do nosso projeto é a capacitação. Compreensão da importância de registros como
esse, de gestão de números com avaliação de impacto”, completou ela.
O seminário apresentou, ainda, diversas
iniciativas focadas em educação que podem ser referência para o desafio de
enfrentar as doenças cardiovasculares no país, entre elas o ImunizaSUS,
apresentado por Marcela Alvarenga, Mestre em Saúde Coletiva do Conselho
Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (CONASEMS), no quarto dia do
seminário. Segundo a enfermeira, o projeto que nasceu de uma necessidade
imposta pela pandemia em 2020 (a de capacitar profissionais em ações de
imunização em todos os municípios do país), ganhou espaço e ferramentas, foi
consolidado em 2021 e agora já utiliza sua estrutura para ensinar como funciona
a gestão dentro do SUS. “Já temos 9 mil alunos participantes, e nossa intenção
é ter um curso fixo para fortalecer esses processos”, explicou.
Consenso geral entre todos os especialistas participantes do evento foi em relação ao impacto, da pandemia de Covid-19 que trouxe uma oportunidade de “chacoalhar o sistema de saúde” para a relevância da atenção primária tratar pacientes com diabetes, colesterol alto, hipertensão e outros fatores de risco. “Mas isso precisa ser bem coordenado, espera-se agora tecnologia e um projeto organizado e induzido”, explica o cardiologista José Eduardo Krieger, professor da Faculdade de Medicina da USP, que moderou uma das mesas.
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