Consumer-to-Manufacturer: a produção baseada em dados que revoluciona o e-commerce
*Por Alisson Aguiar
A opinião do consumidor se propaga com
rapidez entre os meios, sejam eles físicos ou digitais. O mercado de e-commerce
colhe os bons e maus frutos de suas decisões de negócios de forma cada vez mais
imediata, de acordo com a percepção das comunidades. Com isso, as empresas
encontraram nos feedbacks
e nas interações do consumidor, sobretudo os mais jovens, uma fonte de dados
abundante que permite vender com base no engajamento e na influência exercida
pelos consumidores em suas comunidades virtuais. Entra em cena, então, um novo
modelo de e-commerce: o Customer-to-Manufacturer,
ou C2M.
Surgido na China, maior ecossistema de
e-commerce do mundo, o novo modelo - que deve gerar US$ 5,9 bilhões em receita
até 2022 de acordo com a iResearch - tem como premissa conectar o desejo do
consumidor de forma invisível diretamente às manufaturas por meio dos dados
analisados por tecnologias computacionais como inteligência artificial, machine learning e big data. No entanto, as
plataformas de C2M dependem totalmente da tecnologia para mapear e entregar às
fábricas dados sobre a demanda para que o planejamento da produção – do design
à embalagem – seja levado adiante.
Sem barra de pesquisa, é necessário que
a personalização da experiência exista para que haja conversão. Ter dados que
permitam o mapeamento das preferências determina detalhes tão específicos
quanto a disposição das mercadorias na próxima tela a ser apresentada, produtos
correlatos ou mesmo a apresentação de produtos que são tendência de acordo com
um determinado local onde o consumidor está interagindo com a plataforma. Como
em uma rede social, o consumidor não necessariamente busca por um produto
específico: a plataforma entrega aquilo que interessa de maneira totalmente
personalizada.
Outro ponto-chave para o rápido
desenvolvimento do modelo é a satisfação do consumidor. Dados da chinesa JD
mostram que, embora apenas 12% dos consumidores saibam o que é C2M, os índices
de satisfação com os produtos vendidos atingem 92%. Há, ainda, o efeito da
personalização: embora não sejam exclusivos, os produtos oferecidos com base
nas preferências – “perfeitos” para o consumidor – tendem a ter taxas de
conversão mais altas.
Essa forma de vender pela internet está
alinhada com o consumo de massa baseado puramente em feedback, e cumpre uma
demanda atual do mercado de consumo: o imediatismo. Antes, tendências e
lançamentos seguiam um caminho óbvio. Designers analisavam os sucessos
anteriores e concebiam um produto novo, que era promovido pelo marketing e, só
então, vendido. Todo esse processo, em indústrias tradicionais, pode levar mais
de um ano!
Com as novas formas de obter insights sobre o
comportamento e as preferências do cliente na internet, o caminho se inverteu e
se tornou mais curto. Isso ocorre pois os dados coletados durante as interações
dos consumidores nas plataformas de e-commerce C2M substituem o processo normal
de pesquisa e desenvolvimento, encurtando consideravelmente o tempo entre a
ideia e a execução.
Embora dificilmente o C2M desbanque o
modelos tradicionais de e-commerce como o Direct-to-Customer
(D2C) ou mesmo o tradicional de B2C, há um grande potencial de aceleração para
a inovação com base nas percepções dos consumidores. Por exemplo, já existem
inúmeros produtos no mercado desenvolvidos inteiramente com base em comentários
nas plataformas C2M a respeito de itens similares. É o dado (novo) permitindo o
lançamento de produtos cada vez mais aderentes às necessidades dos consumidores
de uma forma absurdamente rápida.
Além disso, o desenvolvimento baseado em
análise de dados possibilita pesquisar com profundidade necessidades
específicas de determinados grupos, com recortes detalhados de demografia,
preferências e precificação, preenchendo nichos desatendidos de mercado com
mais facilidade. Imagine uma fábrica escolhendo que produto ela quer fabricar a
partir dos dados que mostram que determinado local demanda consumo cujos
insumos de matéria prima ou logística sejam de fácil acesso ou de baixo custo
para esta indústria. Essa situação pode trazer uma vantagem competitiva enorme
para esta manufatura frente aos seus concorrentes. E o melhor: ela ainda estará
criando e distribuindo um produto cuja demanda já se provou viável através dos
dados. Até quando? Até que a próxima análise mostre que há outro nicho cuja operação
seja mais rentável ou que a tendência anteriormente confirmada iniciou seu
declínio.
O C2M tem alto potencial de revolucionar
o e-commerce mundial, desde compras de supermercado até o mercado de luxo. O
uso do processamento de dados para monitorar tendências de consumo demonstra o
poder inexplorado das interações e do engajamento dos consumidores para
impulsionar tais mercados. Em um momento no qual as opiniões nunca foram tão
importantes, a tecnologia põe o consumidor no controle.
*Alisson Aguiar é head of Digital Commerce na Compasso
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