Criptomoedas: golpes tornam regulamentação no Brasil urgente
Legislação e conhecimento ao investidor são essenciais para mudar cenário de incertezas com as moedas digitais
Os debates acerca da regulamentação das
criptomoedas no Brasil seguem envolvendo, ainda de maneira tímida, diversas
frentes, como o Congresso Nacional, os reguladores do mercado financeiro e de
capitais, as instituições financeiras e os consumidores. Recentemente, o
assunto ganhou as manchetes de forma bastante negativa, com a deflagração de
golpes, sendo o mais escandaloso o caso ‘Novo Egito’, de Cabo Frio (RJ). Para
José Luiz Rodrigues, especialista em regulação da JL
Rodrigues & Consultores Associados, considerando as
tantas fragilidades na supervisão das transações e que esses ativos vieram para
ficar, já passou da hora dos órgãos públicos priorizarem a regulamentação do
segmento.
“É importante separarmos o lado bom, que
são as exchanges que operam aqui no Brasil dentro das regras que já existem,
que são do COAF (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) e da Receita
Federal, e se utilizam de elevados padrões de governança e regras rígidas,
daquelas que agem na irregularidade, e que acabam por dar espaço para o
aparecimento de casos como o das pirâmides financeiras. Práticas nocivas acabam
afetando negativamente a imagem das exchanges que operam com criptomoedas. Esse
preconceito atrasa o processo de regulamentação e a ausência de regulação dá
espaço para golpes”, pontua o especialista.
Sobre o caso ‘Novo Egito”,
resumidamente, a empresa GAS Consultoria e Tecnologia Ltda oferecia ao público
investimento coletivo em criptomoedas, com promessa de rentabilidade de 10% ao
mês, algo impossível de se garantir, principalmente em um mercado volátil como
o de criptomoedas. Esta operação captou mais de R$ 38 bilhões, que transitaram
em quatro exchanges que operam no País, mas não têm sede aqui e são conhecidas
por desrespeitarem as regras locais. A maior delas, que detém 34% do mercado de
criptos no Brasil, já foi inclusive proibida de operar nos Estados Unidos e no
Reino Unido e recebeu ‘stop order’ da CVM (Comissão de Valores Mobiliários)
para interromper a captação de clientes no Brasil.
“Além das questões que envolvem
segurança, é importante que os reguladores se atentem para as oportunidades que
surgem a partir da tecnologia utilizada no mercado cripto, e que muitas vezes
vêm em forma de produtos que agregam aos modelos tradicionais novas oportunidades
de investimentos, como a modernização de ativos tradicionais por meio de
tokenização, das DeFi e de outros recursos que tendem a trazer segurança,
reduzir custos e dar mais rapidez a processos”, complementa José Luiz.
Golpes: de avestruz à criptomoedas
José Luiz explica que a falta de
educação financeira é, hoje, um dos principais fatores que fazem com que a
população seja vítima de golpes. “As pessoas caem em arapucas porque acreditam
que o seu dinheiro pode render extraordinariamente. As narrativas dos golpes
prometem ganhos exorbitantes, hoje usando o nome das criptomoedas. Mas, se
considerarmos a história financeira do país, essa narrativa foi e poderia ser
relacionada a qualquer outro ativo, como ouro, dólar, terrenos e até avestruz,
como já aconteceu. Os golpes sempre existiram, eles apenas se utilizam de
produtos diferentes em diferentes tempos e contextos”.
No passado, este golpe usou até
investimentos na cesta de atletas dos times Palmeiras, Guarani e Santa Cruz. “É
um tipo de prática que alia falta de conhecimento com atitudes fora da
regulamentação. Esse golpe não é novo. Se hoje utiliza Bitcoin, utilizava
arroba de boi gordo anos atrás. Infelizmente, à medida que a tecnologia evolui,
evoluem também as práticas irregulares. E o melhor caminho contra essas
práticas é a legislação”, detalha.
Basicamente, a legislação é a base para
os operadores que atuam com criptomoedas. “Se eu tiver um operador regulado,
colocando uma regra básica, é possível separar o mercado e delimitar o papel de
cada entidade envolvida. O ideal é que apenas entidades autorizadas possam
operar com criptomoedas no mercado, seja uma corretora, uma distribuidora ou
outra instituição autorizada com matriz de risco própria para esta atividade,
controles de lavagem de dinheiro, etc. E o que mais se aproxima do papel das
exchanges no Brasil, que são as operadoras das criptomoedas, são as corretoras,
que já possuem regulação no país".
O Congresso Nacional já trata do assunto
nas duas Casas. No Senado, tramita o PL nº 3825/2019 e seus apensados, que
estão em fase de relatoria da CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) e a
tendência é que o relator, o senador Irajá Silvestre Filho, apresente o
relatório para votação em novembro. Já na Câmara dos Deputados, o PL nº
2303/2015 também tramita com dois apensados e está em fase de avaliação pela
Comissão Especial instaurada para apreciar o projeto.
Informação: antídoto para golpes
Para o especialista, atuar com
criptomoedas é lidar com riscos, como já ocorre com outras formas de
investimentos. “No mercado tradicional, já existe a possibilidade do investidor
ganhar um pouco além da rentabilidade da renda fixa, e isso envolve correr
riscos. Entretanto, é um risco dentro de um mercado regulado, como o de renda
variável, com papéis que flutuam conforme a variação do mercado, e que são
vistos, autorizados e regulados pelas autoridades brasileiras”.
“Quando a gente fala que um papel é
autorizado e regulado, essa autorização e regulação tem como pressuposto trazer
o operador ou ofertante dar publicidade, informação para que o investidor saiba
a que está se sujeitando.”
Ao ser regulado, o mercado define um
padrão mínimo de informação para que as pessoas tomem decisões de forma
consciente. Isso não significa que o investidor não possa perder dinheiro, mas sim
que ele entenda que pode correr este risco pelas característica do ativo, mas
não pela insegurança imposta pelas entidades que operam esses ativos. É esse
nível de transparência que o mercado regulado terá que dar às criptomoedas”,
completa o especialista.
“É importante que o investidor entenda
os riscos, ou seja, as volatilidades que são correspondentes a este tipo de
investimento. Afinal, se de um lado há um alto rendimento nas criptomoedas de
forma geral, do outro existe a volatilidade. E cabe à pessoa, ciente das
condições, decidir se vai aplicar seu dinheiro ou não”, conclui José Luiz.
Sobre a JL Rodrigues & Consultores
Associados
Há vinte e três anos no mercado, a JL
Rodrigues & Consultores Associados (https://jlrodrigues.com.br/)
é uma consultoria especializada em regulação, organização, supervisão e acesso
ao Sistema Financeiro e ao Mercado de Capitais, com foco no atendimento a
empresas e instituições financeiras brasileiras e estrangeiras, que atuam ou
pretendem atuar nesses ambientes.
Também atende instituições que atuam em
atividades relacionadas como, por exemplo, instituições de pagamentos, fintechs
de crédito, consórcios e outros modelos de negócios ligados ao Sistema de
Pagamentos Brasileiro, como as de Infraestruturas de Mercado.
A consultoria representa seus clientes
perante os órgãos reguladores pertinentes, para propor soluções eficazes no
âmbito administrativo, institucional, regulamentar e contábil, que preservem
seus legítimos interesses econômicos, financeiros e comerciais.
José Luiz Rodrigues, sócio titular da
empresa, é também membro do Conselho da ABFintechs (Associação Brasileira de
Fintechs) o que faz com que a Consultoria esteja inserida nesse ecossistema de
forma ativa.
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