O que representam as eleições na OAB
Por Francisco Gomes Júnior
No mês de novembro ocorrerão as eleições
para as Seccionais da Ordem dos Advogados do Brasil. Como advogado e
eleitor, gostaria de contribuir com o debate, trazendo alguns aspectos que
merecem reflexão. Vislumbra-se até o momento um pleito repetido e
enfadonho como sempre, exceto para quem é candidato ou compõe alguma das
chapas concorrentes.
A advocacia paulista não está mobilizada
pelas eleições e muitos sequer sabem que ocorrerão ou quando, se não houver
motivação a abstenção pode ser alta. Nos últimos anos, a OAB paulista
apagou-se, sumiu do cenário e dos assuntos no meio jurídico. Uma gestão
frustrante que decepcionou até mesmo seus aliados e foi
inerte, insignificante para os advogados paulistas. Nos últimos anos nos
acostumamos a “não ter OAB”.
Mas como muitos advogados não querem
saber muito de OAB e a enxergam apenas como um bureau burocrático que
emite carteirinhas, certidões e realiza uma questionável prova aos
bacharéis, a chapa da situação apresenta-se candidata à reeleição e pode
ter chances. É uma eleição setorial, valem os conhecimentos e contatos
feitos todos os dias e isso favorece a chapa da situação. Em
eleições passadas muitas vezes a situação se reelegeu, o instituto da
reeleição é consolidado e pode se repetir.
As principais chapas de oposição
lançadas até o momento possuem também um modus operandi tradicional.
Encabeçam as chapas profissionais competentes e de gabarito
inquestionável, com uma conduta profissional e ética irreprimíveis. Mas
essa valorosa qualidade basta para garantir uma boa gestão?
A resposta óbvia é que não. Então é
necessário estruturar-se em alguns pilares, a saber, composição da chapa
(alianças e representatividade); proposta para a OAB no próximo triênio e
a forma de campanha.
Na composição das chapas, busca-se o
apoio de velhos “caciques” e componentes de gestões passadas. Os apoios
são por amizade, crença na moral e ética do candidato e até gênero. E, se
agora parece ser de bom tom uma presidente mulher na OAB, lancemos
candidatas para nos adequarmos ao momento. E volto a dizer,
melhores candidatas não poderia haver, não é esse o ponto.
Quanto a proposta para o próximo
triênio, desnecessário dizer que não se gere uma entidade do tamanho da
OAB com palavras de ordem. Valorizar o advogado, priorizar a inserção do
jovem advogado no mercado de trabalho, defender de forma
intransigente nossas prerrogativas, etc, tudo isso é de suma importância,
mas não são pontos de proposta para a gestão do dia a dia.
O que ouço de muitos colegas e
compartilho são questões como:
(i) A ordem será gerida como uma
entidade corporativa, quase sindical ou de forma empresarial?
(ii) Como os candidatos avaliam a gestão
financeira da OAB nos últimos anos e como mudar?
(iii) Na era digital, com tudo online se
justifica o patrimônio imobiliário que a OAB mantém?
(iv) Pode-se melhorar a situação
orçamentária a ponto de permitir a isenção das mensalidades por um ou dois
anos para os jovens advogados?
(v) Quais os planos para tornar a OAB
digital, eliminando papéis e requerimentos por esse meio físico e
permitindo que tudo seja realizado pelo site?
Enfim, boa parte dos advogados têm essas
preocupações que esperamos sejam respondidas ao longo das campanhas. Ainda
não tenho candidato, tenho grandes amigos em todas as chapas e respeito
por todos. Mas entendo que estamos diante de uma grande oportunidade de
mudança efetiva na OAB de São Paulo e para isso, temos que saber como será
a gestão a partir do primeiro dia do empossamento.Na hora que a festa
acabar, quais serão as primeiras medidas?
Francisco Gomes Júnior - Advogado Especialista em Direito Digital. Presidente da Associação de Defesa de Dados Pessoais e do Consumidor (ADDP). Coautor da obra “Contratos Empresariais em nossos Tribunais”. Instagram: fgjr
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