FAEP lança edital para vagas escolares gratuitas, que contemplarão pessoas trans
Medida faz parte de parceria da faculdade com o EJA (Educação de Jovens e Adultos) e vai contemplar a população carente, com reserva de 20% das vagas para a população trans
De acordo com
o Mapeamento de Pessoas Trans na Cidade de São Paulo, 58% dos entrevistados –
incluindo mulheres e homens trans, travestis e pessoas não-binárias – realizam
trabalho informal ou autônomo, com curta duração e sem contrato. Essa é a
segunda fase do estudo, divulgado em junho de 2021, que envolveu 1788
entrevistados e foi realizado pelo Centro de Estudos de Cultura Contemporânea
(Cedec) junto à Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania de São
Paulo.
A partir
desses dados, percebemos a necessidade de avançarmos e de eliminarmos barreiras
que impedem a ascensão profissional da comunidade LGBTQIA+. Pensando nisso, a
FAEP (Faculdade de Educação Paulistana), situada no bairro Parada de Taipas,
região noroeste de São Paulo, está desenvolvendo um projeto que visa oferecer
formação educacional gratuita para a população trans. É o Quebrada
Atualizada. Afinal, além dos entraves no mercado de trabalho, o
grupo também enfrenta barreiras no setor educacional, essencial para
qualificação e ingresso no mercado profissional. De acordo com dados divulgados
pela ANTRA (Associação Nacional de Travestis e Transexuais) em 2018, apenas
0,02% de travestis e transexuais estavam na universidade, 72% não possuíam
ensino médio e 56% não completaram o ensino fundamental.
Segundo Vânia
Aparecida da Costa, diretora acadêmica da FAEP, a ideia do projeto surgiu do
interesse em oferecer bolsas acadêmicas para pessoas trans. No entanto, Vânia
ressalta que, como muitas ainda não concluiram o ensino médio, a instituição
pretende oferecer formação escolar, inicialmente. Para isso, ela pretende
atendê-las por meio da parceria que a FAEP possui com o EJA (Educação de Jovens
e Adultos) – modalidade destinada a todos aqueles que não completaram,
abandonaram ou não tiveram acesso à educação básica –, a fim de oferecer
certificação do ensino médio.
A instituição
oferecerá 100 vagas gratuitas para a população de baixa renda, em seu entorno,
e reservará 20% das vagas para as pessoas trans. “A ideia da reserva é que a
formação seja um incentivo para que essas pessoas entrem no mundo acadêmico e
assim possamos oferecer bolsas de estudo a elas”, diz Vânia.
A parceria
FAEP-EJA acontece com o apoio do CIC Oeste (Centro de Integração da Cidadania),
programa da Secretaria da Justiça e Cidadania do Estado de São Paulo. Edilaine
Daniel, professora de Pedagogia da FAEP e diretora do CIC Oeste, é uma das
pessoas que está auxiliando no desenvolvimento do Quebrada Atualizada.
“O projeto vem atender uma demanda por escolaridade, principalmente dentro das
periferias, já que muitos indivíduos não conseguem preencher vagas no mercado
de trabalho, por não terem concluído nem a educação básica”, afirma Edilaine.
Além disso, a
professora ressalta que muitas pessoas associam a questão da empregabilidade
trans apenas a algumas profissões, como manicure e cabeleireira, no caso das
mulheres trans, o que é um equívoco, já que muitas manifestam a vontade de
ocupar outros espaços e cargos e, para isso, necessitam da escolaridade.
Reflexões que foram ainda mais reforçadas em outra ação promovida pela FAEP, no
dia 6 de outubro. A instituição realizou uma palestra online para todo o Brasil
sobre os desafios enfrentados pela população trans no mercado de
trabalho. O evento contou com grandes palestrantes convidados pela
professora e coordenadora dos cursos de Tecnologia da FAEP, Katia Cristina
Marcolino, como Neon – primeira mulher trans a denunciar violências na
Organização dos Estados Americanos - , T. Angel, trans não-binária, ativista de
direitos humanos e dos animais – e Junior Carvalho – coordena a frente de Projetos/Parcerias
e Empregabilidade na Casa 1 (República de Acolhida, Centro Cultural e Clínica
Social LGBT).
Para a
professora Kátia, nestes tempos tão conturbados e polarizados, há um
desinteresse de uma parte da população em se informar sobre questões, como as
necessidades das pessoas trans, ou ainda um acesso distorcido à informação,
contribuindo para fortalecer a discriminação. “Eu acredito que muitos
indivíduos não gostariam de ver certos grupos minoritários, para não refletir
sobre seus problemas, ou seja, ‘aquilo que não quero ver, eu mantenho distante
de mim’”, conclui.
As inscrições
do Quebrada Atualizada estão abertas até o dia 30 de
novembro. Para participar é necessário ter mais de 18 anos, ter concluído o
ensino fundamental em escolas públicas, e preencher um formulário para
avaliação. Acompanhe o edital na íntegra pelo link abaixo:
https://faculdadespaulistanas.edu.br/wp-content/uploads/2021/10/Projeto-EJA-FAEP.pdf
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