Mandetta, Dra. Luana Araújo e outros especialistas participam de encontro sobre a Covid-19 em BH
ESPECIALISTAS
CONVERSAM SOBRE ERROS E ACERTOS NO ENFRENTAMENTO
DA
COVID-19 NO BRASIL
Evento realizado na
Faminas deu voz aos profissionais que estiveram na linha de frente da pandemia
e apontaram os aprendizados e consequências deste período
A
Faminas, um dos principais ecossistemas de educação na área da Saúde de Belo
Horizonte, realizou nesta semana o encontro “Lições de uma pandemia: dúvidas e certezas no hoje e
amanhã”, que reuniu nomes importantes para o enfrentamento da
Covid-19 no Brasil, como Luiz Henrique Mandetta, ex-ministro da saúde e a Dra.
Luana Araújo, médica infectologista, que ganhou notoriedade depois do
depoimento contundente dado à CPI da COVID-19.
Durante
a abertura do evento, na noite de quarta-feira (10), Mandetta falou para uma
plateia de cerca de 700 pessoas sobre a gestão da pandemia no país. Ministro do
governo federal na época, o médico relembrou os desafios enfrentados desde o
surgimento dos primeiros casos até a sua saída do cargo. “O vírus veio para nos
passar algumas lições. Entendemos que ele não ataca apenas o indivíduo, mas a
sociedade como um todo. Afeta o sistema de saúde, a educação, o transporte, a
economia mundial e seus líderes. Percebemos que havia uma concentração da
produção de itens de saúde em um único local, a China. Algo arriscado e que
podia comprometer o abastecimento mundial em situações extremas como a que
vivemos. E, principalmente, aprendemos que a Saúde não é coisa, é ar, é algo
essencial e são as pessoas que a fazem acontecer”, afirmou.
Dra. Maria de Fátima Sá |
Já
ontem (11), o evento começou discutindo aspectos diversos e fundamentais para a
gestão da COVID-19 na prática. A dra. Sarah Gomes, médica paliativista, abriu a
programação falando sobre a importância dos cuidados paliativos e da criação de
uma força nacional para garantir o apoio aos pacientes e seus familiares. “A
pandemia escancarou a necessidade de investimentos nos cuidados paliativos e
conseguimos superar alguns deles. Mesmo sem a possibilidade do contato físico,
nos mantivemos próximos de pacientes e familiares, de forma virtual, colocando
em prática uma comunicação compassiva, controlando os sintomas e apoiando o
luto. O mundo se uniu para desenvolver guide
lines que preparassem as equipes para esta dinâmica, mesmo em
cidades distantes dos grandes centros”, revelou.
Em
seguida, Maria Flávia Bastos, doutora em Administração com foco em Negócios
Sociais pela PUC/MG, autora e colabora para o desenvolvimento da humanização
nas práticas de gestão, apresentou o painel “Aprender, desaprender e
reaprender” dando ênfase ao papel do indivíduo e sua saúde mental. “Nós
precisamos assimilar as mudanças com a leveza necessária para viver. Precisamos
de utopia e esperança para seguir em frente e nos reencontrar em meio ao caos.
É momento de acolhimento e aprendizado, de entender que isso tudo nos
modificou”, enfatizou.
Na
sequência, Maria de Fátima Freire de Sá, doutora em direito pela UFMG e
especialista em biodireito, falou sobre o “Direito de dizer Adeus”, garantido
por lei federal (14.198) no Brasil desde setembro. O artigo da legislação
garante a realização de videochamadas entre os pacientes internados em serviços
de saúde, impossibilitados de receber visitas, e seus familiares. “A lei,
infelizmente, chegou tarde! Muitas pessoas viveram esse processo de forma muito
solitária, no último ano. Mas, ela é importante para minimizar um pouco da dor
pela distância do parente. O paciente tem direito a uma videochamada diária,
mesmo em estado inconsciente, desde que observado o cuidado com a imagem das
outras pessoas e a autorização prévia dos profissionais”, explica.
O
ponto alto do dia na Faminas foi a palestra da infectologista Dra. Luana
Araújo, que apontou os maiores desafios enfrentados durante a pandemia e o que
ainda tem pela frente no mundo pós-pandemia. "Um dos maiores desafios
talvez tenha sido perder pessoas próximas, seja um colega, um amigo, um
parente, mesmo que apenas conhecidos, foi muito triste lidar com isso. E também
as informações erradas e até a falta delas. O que vulnerabilizou e colocou as
pessoas em risco. O fato de ter que repetir todos os dias a mesma coisa e
explicar de maneira que entendam, permanece sendo desafiador, conta.
Dra Luana continuou falando do momento vivido agora: "é
difícil falar em pós Covid quando ainda estamos vivendo o durante. É preciso
extrair os aprendizados deste momento". Ela conclui deixando um alerta:
"O Brasil é um dos possíveis nascedouros de futuras pandemias e esta, com
certeza, não será a última que vamos ver. Precisamos estar em alerta, pois
diversas situações expõem à vulnerabilidade dos humanos, como o
desmatamento, que tira do ciclo natural animais e alguns microorganismos",
reforça.
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