Manejo apícola no entorno de áreas agrícolas
Por Heber Luiz Pereira, apicultor, doutor em zootecnia, consultor da HP Agroconsultoria e do Colmeia Viva, programa do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg).
A criação de
abelhas favorece a polinização dos cultivos dependentes e beneficiados por esse
processo, sendo de extrema importância para a produção de alimentos. Além
disso, a apicultura também gera renda para o apicultor, sendo hoje considerada
uma atividade pecuária lucrativa que pode ser realizada tanto por grandes
criadores, quanto por pequenos produtores ligados à agricultura familiar. Nesse
cenário, muito tem se falado sobre a importância das abelhas para as culturas
agrícolas, mas pouco se aborda o benefício inverso: a relevância das áreas de
cultivo para a apicultura.
Atualmente, a
maior concentração de apicultores está próxima de plantações e não em áreas
como a floresta Amazônica. Você já parou para pensar por que isso ocorre? Para
iniciar a nossa resposta, basta dizer que a florada silvestre é muito
valorizada pelos apicultores, mas eles também estão sempre de olho em áreas com
culturas como citrus, canola, nabo forrageiro e eucalipto, por exemplo.
Os motivos para
o interesse e a proximidade da criação de abelhas com as culturas agrícolas
começam pelo fato de que, para o apicultor atingir seu objetivo de produção de
mel e demais produtos, é necessária uma grande disponibilidade de flores em um
período de clima favorável ao trabalho das abelhas, além da diversidade de
plantas que floresçam em diferentes épocas, garantindo fonte de alimento o ano
todo para as abelhas. Como na agricultura tudo é bem planejado, a época de
plantio busca favorecer o ciclo produtivo, o que significa que uma fase
importante como a da floração irá coincidir – na maioria dos casos – com um
momento de clima favorável à produção, sendo igualmente positivo às abelhas.
A partir dessa
relação, as plantas que dependem ou são beneficiadas pelas abelhas, oferecem
recursos como recompensa para os polinizadores. Com isso, surge uma boa
disponibilidade de néctar, que resulta do crescimento das colônias e produção
de mel. Com isso, o objetivo é, então, alcançado, gerando lucro na colheita de
mel e colônias fortes para a próxima florada.
Quando a
cultura não oferta recursos suficientes para a produção de mel ou o crescimento
das colônias, é comum que as abelhas sejam levadas para outro pasto apícola,
com maior oferta de alimentos durante aquele período. Dessa forma, para
complementar sua renda, o criador de abelhas pode usufruir dos serviços de
polinização por meio do aluguel de colmeias, com a função de maximizar o
potencial produtivo dos cultivos.
As áreas
agrícolas, por serem habitadas, conferem uma maior segurança contra furtos de
colmeias, se comparadas a áreas de matas com pouco fluxo de pessoas. Porém,
caso não haja comunicação entre os agricultores e apicultores, existe o risco
de operações agrícolas para o combate de pragas atingirem organismos não-alvo
como as abelhas. Vale lembrar que a coexistência é possível, pois se não fosse,
estas atividades não estariam tão próximas ao longo de tantos anos. A pergunta
que fica é: o que faz os apicultores profissionais conseguirem se manter
próximos de culturas agrícolas?
A seguir,
listamos as principais práticas ou manejos apícolas que são a chave do sucesso
no entorno de áreas agrícolas.
- Escolha do local do apiário e formalização: a instalação de um apiário marca o início da atividade
e o fator de maior influência sobre a produção. É necessário escolher um
local protegido, sendo ideal existir alguma barreira vegetal, quando o
lugar for muito próximo a uma cultura convencional. Deve haver
disponibilidade de água com qualidade o mais próximo possível do apiário.
Conhecer as culturas plantadas dentro do raio de alcance das abelhas,
saber quais os manejos agrícolas aplicados e a época em que são
realizados, manter contato e ser reconhecido pela vizinhança também é
fundamental para o sucesso da produção e a segurança das abelhas.
- Alimentação suplementar: colônias de abelhas, quando bem alimentadas, são menos
vulneráveis a doenças, pragas e agentes estressores. Mesmo um ambiente com
vegetação abundante e diversificada pode em algum momento apresentar
escassez de recursos, pois para os recursos florais ficarem disponíveis
para as abelhas, eles dependem de boas condições climáticas, fator não
controlável. Sob privação alimentar, as abelhas podem visitar fontes
pobres de nutrientes ou fontes que contenham algum contaminante. Além
disso, a suplementação estimulante antes de uma florada importante garante
uma grande população, com maior capacidade de estocar mel.
- Troca de rainhas e favos velhos: a troca de abelhas-rainhas, quando associada à seleção
dos melhores indivíduos, garante colônias populosas, resistentes a doenças
e mais produtivas. A troca dos favos velhos é um importante manejo para se
ter abelhas mais saudáveis e robustas. Outro ponto de destaque, que
garante a saúde dos polinizadores, é que a substituição de favos velhos
reduz resíduos prejudiciais às abelhas.
As áreas agrícolas proporcionam uma grande densidade de flores e podem ser muito valiosas para apicultores que manejam bem suas colônias. A profissionalização não está relacionada ao porte da atividade: um apicultor pode ser profissional possuindo apenas cinco colmeias e obter lucro dessa atividade. Uma postura profissional é a nova cara do agronegócio brasileiro – e um ator importante nesse cenário é o pecuarista de abelhas.
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