Pedagoga avalia os impactos na alfabetização infantil causados pela pandemia
Evelyn Camponucci Cassillo, professora do curso
de Pedagogia da Unicid e da Pós-Graduação em Alfabetização e Letramento,
analisa a importância do acompanhamento presencial com crianças e que os
processos de alfabetização precisam ser respeitados e feitos individualmente
São Paulo, 10 de novembro de 2021 –
Os desafios diante
da alfabetização no Brasil foram potencializados por conta da pandemia e o
distanciamento social. Muitas crianças e adolescentes interromperam os estudos
e a totalidade das escolas permaneceu fechada no período como medida sanitária.
Entretanto, a partir deste segundo
semestre de 2021, as aulas presenciais estão sendo retomadas, e com isso,
segundo a professora de Pedagogia, da Universidade Cidade de São Paulo
(Unicid), Evelyn Camponucci Cassillo Rosa, surgem as preocupações de docentes
em recuperar a defasagem do ensino, principalmente nos anos iniciais.
A especialista explica que a
alfabetização é um processo que requer mediação e intervenção do professor o
tempo todo e, com o ensino remoto, isso não foi possível ser feito. “Na
educação infantil, precisamos trabalhar a consciência fonológica (a consciência
dos sons da língua) com a criança, e fazer um trabalho com muita oralidade,
onde é preciso acompanhar de perto, ajudar e ensinar a criança sobre o sistema
de escrita”, avalia.
Para Evelyn, as aulas remotas afetaram o
desenvolvimento das crianças, pois impactou todas as áreas do conhecimento que
normalmente são trabalhados em sala de aula, entre elas, a interação e
socialização, que são a base para as atividades concretas com experiências que
auxiliam no aprendizado.
“Outro fator relevante, é sobre a
interferência de algumas famílias durante os processos de ensino-aprendizagem,
em que os pais acabavam por intervir nas respostas de seus filhos, por exemplo,
fator que dificulta tanto o desenvolvimento da autonomia da criança, quanto o
diagnóstico real da aprendizagem do aluno. Por outro lado, tivemos também
algumas famílias que não se fizeram presente em vários momentos cruciais para o
aprendizado.
“Em sala de aula, essas crianças
normalmente trabalham em pares ou em agrupamentos produtivos, que são pensados
previamente pelo professor de acordo com o nível em que cada aluno está. Tais
agrupamentos vão se complementando durante a alfabetização na interação e troca
e vão avançando juntos na hipótese de escrita. Só por isso já é possível
perceber o quanto esse ensino remoto mexeu no processo de alfabetização”,
ressalta a pedagoga.
Para a pedagoga, o isolamento social,
por conta da pandemia, acentuou ainda mais a desigualdade social no Brasil,
afetando negativamente os processos de alfabetização. “Temos crianças que não
tiveram o mínimo de acesso às aulas em casa e acabaram prejudicadas, além
disso, tivemos as que não estavam matriculadas nas escolas e ficaram ainda mais
distantes de usufruir o direito que elas têm. Vale ressaltar que o Brasil teve
um crescimento de mais de 4 milhões de crianças e adolescentes sem acesso à
educação, sendo que 40% desse número são crianças que estão na faixa etária de
6 a 10 anos, fase de alfabetização e consolidação da leitura, escrita,
fundamentos matemáticos, etc.”, analisa a educadora.
Desafios dos professores na
alfabetização
Evelyn orienta que nesse retorno
presencial, as escolas precisam realizar um planejamento e um trabalho
diagnóstico de cada aluno, de forma cuidadosa para dar andamento no processo de
ensino dessas crianças.
A mentora destaca que antes de qualquer
coisa, os professores precisam manter a calma para não atropelar os processos
de recuperação da alfabetização.
“A impressão que a sociedade tem, é que agora os profissionais devem atingir em um mês, todos os objetivos que foram perdidos em um ano, o que não é bem assim, visto que as etapas de alfabetização não acontecem de uma hora para outra, e devem ser feitas individualmente. A partir da análise diagnóstica, será possível realizar um trabalho intenso com cada aluno, sendo importante muita leitura e reflexão para aprofundar a alfabetização dessas crianças”, argumenta.
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