A democratização do sistema bancário e um novo mundo de possibilidades
*Por Julián Colombo
O Open Finance e toda a agenda de
inovação proposta pelas autarquias reguladoras estão contribuindo para as
mudanças na indústria financeira do País. É esperado que o Open Banking seja a
ação de maior impacto, principalmente falando em concorrência. Com o início da
quarta fase, no dia 15 de dezembro, as instituições participantes deverão
tornar públicas as informações sobre os produtos e serviços que disponibilizam
relacionados ao escopo divulgado. Esta etapa abrange dados sobre câmbio,
serviço de credenciamento, investimento, seguros e previdência, dando início,
na prática, ao sistema financeiro aberto.
Nascido na Europa, em 2015, o Open
Finance faz parte de um movimento regulatório que visa dar maior poder ao
utilizador de serviços financeiros por meio de um princípio simples:
reconhecê-lo como o proprietário dos seus próprios dados. Seu conceito indica a
transformação de todas as verticais do ecossistema financeiro, ou seja, além do
Open Banking, há também o Open Insurance e Open Investment. Juntos, eles estão
criando um novo mundo de possibilidades e cheios benefícios para todos, como a
melhoria nas ofertas de produtos e serviços, contribuição para a inclusão
financeira, e o principal: o aumento da concorrência no setor.
O Brasil, assim como toda a América
Latina, me parece ser a região com maior potencial para aproveitar esse
conceito. Isso porque há uma grande diferença entre a quantidade de pessoas com
smartphones e sem conta em banco. Para ser mais específico, 55% da população
latino-americana tem conta bancária, mas ao mesmo tempo 80% dos adultos da
região possuem telefone celular. E é essa diferença de 25% que atrai a atenção
de novas empresas, pois quanto maior a lacuna, mais atraente fica o
mercado.
Para entender melhor como isso vai
acontecer, precisamos falar sobre como funcionam as taxações nas instituições
financeiras. Quando um indivíduo pensa nos preços de serviços
financeiros, ele geralmente se concentra nas comissões que são cobradas por
suas contas ou cartões. Mas, há um componente denominado margem financeira,
também conhecido como spread, que
é gerado pela diferença entre os custos das quais ele capta e empresta
dinheiro. A taxa de juros cobrada em um empréstimo inclui muitos conceitos, mas
o mais importante e variável é a probabilidade de inadimplência do devedor. Se
o banco entender que o cliente é arriscado, ou seja, existe maior chance
estatística dele não pagar, maior será a taxa de juros cobrada.
Esses valores são produtos de um
algoritmo, portanto, não é o mesmo em todas as instituições e para todas as
pessoas. Mas para um banco ou fintech executar esse algoritmo, precisa ter
dados, como: qual era o salário do cliente há um ano? Quanto ele gasta no
supermercado? Tem reduzido gastos no dia a dia? As pessoas que trabalham na
mesma empresa estão inadimplentes? Quando você é o cliente de um banco por
anos, ele tem toda a informação e pode executar o algoritmo com muita precisão
na predição. Hoje, os concorrentes não conseguem fazer esta análise com a mesma
exatidão, já que seria necessário comparar o custo dos créditos, ou a
remuneração consultando vários bancos ao mesmo tempo. Isso faz com que eles
preencham cada dado com uma versão "pessimista" da realidade. É
claro, se você não sabe quem está te pedindo dinheiro emprestado, melhor falar
não ou cobrar caro.
O Open Banking muda radicalmente essa
equação, uma vez que seu conceito central é permitir que o cliente de um banco
possa autorizar outro banco a obter todas as suas informações, seja para cotar
um empréstimo ou adquirir qualquer outro produto. Toda instituição que você
autorizar terá direito a ver toda sua informação, executar o próprio algoritmo
e te oferecer um empréstimo com taxas mais adequadas com seu histórico. Isso
sempre conduzirá a maior concorrência. Quando um banco souber que um cliente
deu autorização para outro, ele pode agir preventivamente melhorando preços e
condições para evitar perdê-lo.
Este mesmo exemplo cabe perfeitamente a
todas as variáveis do Open Finance, seja em empresas de seguros ou
investimentos. A transformação que o movimento está trazendo é a chave que abre
as portas para um novo mundo, onde é possível a inclusão de milhares de pessoas
no sistema financeiro, acessando melhores ofertas de bens e serviços. Já os
bancos e outros atores do mercado poderão expandir seu portfólio de produtos
tendo avaliações mais precisas do público que desejam atingir. Nessa
competição, mais que melhores taxas, os consumidores terão melhores propostas
de valor, beneficiando todo sistema com inovação e transparência.
*Julián Colombo é economista com mais de 20 anos de carreira em banco, também é co-fundador e CEO da N5, empresa de software dedicada à transformação digital no setor financeiro.
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