Fórum de Inovação relata aumento dos investimentos no agro brasileiro com agrotechs e agfintechs
Em apenas um ano algumas empresas do
agronegócio aumentaram em 50% o faturamento via aplicativos
O Brazil-Florida
Business Council (BFBC) – grupo empresarial independente, sediado em Tampa
(Flórida) - promoveu ontem (07/12) o webinar ‘Fórum de Inovação Brasil-Flórida
Painel 2: O Investimento do Brasil em Inovação Agrícola – Agricultura na Era
Digital’, em parceria com a PwC e AgTech Garage, e com patrocínio da Mosaic.
Ligados a importantes
empresas do setor de agronegócios, os painelistas apresentaram as tendências,
alternativas de investimento e os pontos de vista desses negócios inovadores,
com apresentação de novos produtos e soluções para a agricultura brasileira.
A moderação do evento
foi de Mauricio Moraes, parceiro e líder de Agribusiness na PwC. No grupo de
palestrantes convidados estavam presentes José Tomé, CEO e Cofundador da AgTech
Garage; Leonardo Gomes, CEO e cofundador da Biome4All Agriculture; Pilar
Varela, diretora de Digital da AgroGalaxy; e Marcell Salgado, CEO e sócio
fundador da E-ctare.
A presidente e
fundadora do Brazil-Florida Business Council, Sueli Bonaparte, abriu o evento
destacando que o agronegócio é carro chefe da economia brasileira e chama a
atenção dos investidores pelo seu processo de desenvolvimento, que envolve
aprimoramentos técnicos avançados, tecnológicos baseados em constantes
inovações.
“Partindo dessa
premissa o Brazil-Florida Business Council desenvolveu um webinar que focaliza
a agricultura brasileira na era digital. Este segundo painel Fórum de Inovação
Brasil-Flórida é uma iniciativa da entidade que pretende focalizar os segmentos
mais promissores do ecossistema de inovação que estão transformando o mercado
brasileiro, além de apresentar os investimentos neste setor”, resumiu ela.
Marcell Salgado, CEO e
sócio fundador da E-ctare, em seu painel ressaltou que o crédito é o principal
insumo do agronegócio, porque sem ele não se consegue conectar o produtor com
nenhuma das tecnologias que estão se multiplicando a sua frente. Segundo
Salgado, as agfintechs têm essa função de conectar o produtor com o investidor
principalmente ao crédito privado no Brasil.
Ocupação
“Hoje a área cultivada
no Brasil corresponde a 7,6% da área total agricultável. O país é um dos
produtores com menor ocupação de terra em áreas de cultivo. Há muito a ser
explorado e é natural que o mundo enxergue o Brasil como celeiro e maior
produtor de alimentos no futuro”, disse ele. “No entanto, há contradições
também. Existem 5 milhões de estabelecimentos agropecuários no País e desse
total cerca de 3,9 milhões são de agricultura familiar e que não acessa
crédito. Por outro lado, o segmento detém 23% da área cultivada. A parte mais
consolidada dos grandes produtores têm acesso a crédito de várias maneiras, mas
esse grupo desassistido que não é pequeno está esquecido no mercado de crédito
e tem sido necessário encontrar uma forma de pulverizar esse recurso”, defendeu
ele.
O crédito no Brasil
ficou restrito nos últimos cem anos ao governo. Com a queda da taxa Selic e
melhoria nos últimos 15 anos, com a redução dos juros e novas oportunidades de aplicação
de recursos, o crédito privado se direcionou nos últimos cinco anos. Até então,
ele não olhava o agronegócio como oportunidade.
Hoje, o investidor
observa o mercado para os bons projetos, mas o crédito público atende apenas
25% da necessidade financeira. Ou seja, a demanda de crédito é de R$ 1 trilhão,
porém o plano de financiamento é de apenas R$ 250 bilhões. O foco no crédito
público para o agronegócio deixou mercado de crédito privado sem informação e
referência e ele não consegue chegar a bons projetos. E crédito privado também
não consegue pulverizar o dinheiro para a base, que é a maioria, e não dá
acesso a todos por falta de informação e velocidade no processo.
As agfintechs, no
entanto, poderão suprir deficiências exatamente neste espaço, com mais
informações, construção de banco de dados, e análises com muito mais
velocidade, criando novos processos de crédito que atendam o produtor no tempo
certo. A ideia é aliar o calendário agrícola com as modalidades de
crédito, entendo as necessidades de dinheiro pelo lado do produtor, e não
apenas pelo lado das instituições credoras.
Transformação digital
Sobre as implementações
na área digital e como isso tem agregado valor na prática, Pilar Varela,
diretora de Digital da AgroGalaxy, afirmou que desde o final do ano passado ao
pensar na transformação digital sua empresa tem trabalhado em alguns pilares. O
primeiro foi a análise de processos de diferentes empresas a serem integradas,
fazendo toda integração e digitalização de processos, e principalmente
observado o que poderia ser feito pós-pandemia para gerar benefícios na jornada
do produtor. “Precisávamos pensar muito na relação entre produtor e vendedor,
que ficou distante", expôs ela.
A primeira ação fácil,
rápida e efetiva, de acordo com a executiva, foi a criação de um bot (robô
digital), que integrou não só a base de dados, mas criou uma jornada de
faturamento, que integrou o processo via whatsapp. “No ano passado no Brasil,
85% dessa base já se comunicava dentro do agronegócio por meio desse aplicativo,
mas era algo informal entre o produtor e o representante. Assim, criamos uma
linguagem própria, respeitando a jornada, que fosse automatizada”, descreveu.
“Houve uma aproximação
do produtor pela conversa ou escrita com o bot, como solicitação de visita e
comunicação com a central. Teve início também os processos de solicitação de
faturamento e de calendarização dos pedidos dentro da revenda, que foram
previamente planejados para a safra e safrinha. A jornada que era manual ficou
extremamente digitalizada”, acrescentou Pilar.
Segundo a executiva, de
outubro a dezembro de 2020, por meio do bot, houve R$ 535 milhões de
faturamento em insumos somente com essa jornada digitalizada. E todo o processo
de logística pela calendarização foi regularizado também, o que é extremamente
importante dentro da logística do agronegócio.
No começo deste ano foi
lançado um app para relacionamento bancário e agricultura de precisão. O
recurso foi implementado a partir da criação da agrocare, uma vertical dentro
do digital, que une todo o setor de algoritmos, inteligência de dados e
agricultura de precisão, que abrange aspectos como fertilidade de solo,
sensoriamento remoto, e o processo de barter, aquela negociação que acontece
entre o produtor rural, a distribuidora de insumos agrícolas e a trading. Outra
alternativa como o seguro também irá entrar em breve nesse universo.
Apps e bots
“Nossa proposta é
sermos uma stopshop. Hoje 78% da calendarização dos faturamentos é feita dentro
da própria empresa pelo app, abrangendo produtor e representante. O aplicativo
é muito fácil e proporciona alertas de campanha, pedidos em carteira,
faturamentos, alertas de commodities regionalizadas, análises de imagens por
satélite, entre outras possibilidades”, disse. “Atualmente, 50% do faturamento
da empresa é feita pelos meios digitais e no próximo ano haverá uma loja online
na palma da mão”.
O moderador do painel
Mauricio Moraes, parceiro e líder de Agribusiness na PwC, sublinhou que quando
escuta pessoas falarem que está havendo uma revolução no campo, muita gente não
tem dimensão de que há muitas ferramentas novas aparecendo. “Em um ano quanto
coisa pode mudar. Imaginar que esse volume enorme de vendas pelo app é algo que
talvez dois anos atrás alguns não acreditassem que pudesse acontecer. A
inovação está aí e as pessoas estão propícias a ela”, declarou.
De acordo com José
Tomé, CEO e Cofundador da AgTech Garage, hoje já há mais de 900 startups
conectadas a sua empresa. Para ele esses negócios estão entendendo que não é um
grande recurso estar apenas monetizado. “Posso ter dinheiro, mas não ter
velocidade. Essa prática de ir para fora, conectar com atores e conseguir
trazer para dentro parcerias e modelos de negócios, além de dar escala está se
tornando cada vez mais comum”, observou.
Tomé ressaltou que
organizações como a sua não existiam cinco anos atrás. No último ano seu
negócio de inovação aberta (uso de fluxos de entrada e saída de conhecimento
para acelerar a inovação interna e expandir os mercados) praticamente dobrou em
parceiros e no número de startups. As empresas estão vindo para os hubs (pontos
centrais de convergência) com entendimento melhor do que fazer e por que fazer.
No nível estratégico e corporativo essas inovações estão sendo mais assimiladas
não ficando restritas apenas com um entusiasta de uma área específica.
Cada vez mais estão sendo estruturadas e se nota de forma crescente o conceito
de gestão da inovação.
Gestão da inovação
“Para alcançar as
oportunidades e acelerar a transformação digital e fazer ela acontecer será
necessária a gestão da inovação. Não é possível apenas com um ou dois projetos
por ano com tanta coisa que há para ser feita para ser competitivo. Quem fizer
apenas poucas coisas por ano vai perder competividade”, analisou.
Na sua visão, há uma
exigência de práticas de gestão da inovação e o Brasil está liderando esse
movimento de colaboração com esse ecossistema. O empresário observou
multinacionais no Brasil que revelaram a situação na qual suas respectivas
matrizes nos países de origem não estão implementando ainda essa prática. “Há
interesse do comando das companhias internacionais, mas elas próprias ainda não
desenvolvem o que suas filiais fazem no Brasil. Por isso, nas negociações das
novas operações haverá ainda uma etapa de convencimento e entendimento”, expôs
o executivo.
O projeto Agrobioma
Brasil é um exemplo de uma das grandes inovações do agronegócio no País. Ele
tem como propósito trazer evidências práticas sobre ganho de eficiência,
produtividade e biodiversidade por intermédio da compreensão das estratégias de
administração do solo baseadas na compreensão de sua microbiota (população de
micro-organismos) em diferentes biomas. “Nada melhor do que trazer evidências
econômicas que melhorem a produtividade para o produtor, que proporciona
sustentabilidade e que vai trazer ganhos ao longo das próximas safras”,
explicou Leonardo Gomes, CEO e cofundador da Biome4All Agriculture.
O projeto que começou
em setembro deste ano avaliará mais de 50 culturas em nove mercados em sua
maior parte na América Latina em uma área de avaliação de aproximadamente de 10
milhões de hectares. Para isso foram firmados acordos com 110 parceiros como
cooperativas, consultorias agronômicas e institutos de pesquisa, porque eles
têm a interface com os produtores rurais. Serão eles que vão identificar áreas,
culturas e os chamados contrastes, aquelas respostas que nunca foram dadas
com base em outras estratégias de análise.
Difusão da tecnologia
Muitas informações e dados tabulados trarão respostas com comprovações científicas sobre ganhos de produtividade e efetividade da estratégia de manejo em três ciclos anuais de cultura. A adesão do produtor rural será com base estatística e científica. Já há dois parceiros na Argentina e negociações com muitos outros potenciais parceiros. O objetivo é acelerar a difusão da tecnologia, trazer indicadores concretos sobre benefícios, sabendo que é possível aliar produtividade, eficiência com sustentabilidade, especialmente neste momento em que o planeta passa por uma crise de insumos, com base química, que estão em falta ou encarecendo.
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