Instalação de mineradora no norte de Minas Gerais é questionada por Defensorias
Ação Civil Pública (ACP) quer garantir o
direito de consulta e regularização fundiária dos povos geraizeiros que vivem
na região
A Defensoria Pública da União (DPU) e a
Defensoria Pública do Estado de Minas Gerais (DPMG) ajuizaram uma Ação Civil
Pública (ACP) para garantir o direito à consulta das comunidades tradicionais
geraizeiras do Vale das Cancelas, antes da implantação de empreendimento para
extração de minério de ferro no local. As comunidades ficam localizadas nos
territórios de Grão Mogol, Josenópolis e Padre Carvalho, na região Norte de
Minas Gerais.
A ACP foi proposta contra o estado de
Minas Gerais, a Agência Nacional de Águas (ANA), o Instituto Brasileiro de Meio
Ambiente (Ibama), a empresa Sul Americana de Metais S/A (SAM) e a Lótus Brasil
Logística e Comércio (Lotus), sob o fundamento de que essas entidades têm
violado o direito de comunidades tradicionais ao tentar implementar
empreendimento minerário de grande porte, sem garantir a este público
específico o direito à consulta e ao consentimento livre, prévio, informado e
de boa-fé, em conformidade com a Convenção 169, da Organização Internacional do
Trabalho (OIT).
Além de pedir a regularização fundiária
do território tradicional do Vale das Cancelas, nos termos da legislação
vigente, a ação requer a suspensão do licenciamento do processo da empresa SAM,
até que seja concluída a regularização fundiária do território; que seja
garantido o procedimento de consulta prévia junto às comunidades; que o estudo
de impactos ambientais (EIA/RIMA) da empresa seja refeito considerando o
direito à consulta; e a condenação dos réus em dano moral coletivo, pela
violação de direitos.
Entenda o caso
Desde 2009, a SAM tenta licenciar
empreendimento para exploração de minério de ferro na região. Em 2019, a
empresa e o governo de Minas Gerais assinaram um protocolo de intenções para o
início das obras. Em novembro desse ano, as defensorias expediram a
recomendação conjunta 002/2021, onde destacaram que o projeto ”viola direitos
dos povos e comunidades tradicionais, povos indígenas e quilombolas, situados
nos estados de Minas Gerais e Bahia, competindo às defensorias públicas a
responsabilidade de promover a defesa dos direitos territoriais, dos costumes,
crenças e tradições dos vulnerabilizados/necessitados da respectiva defesa”.
Segundo a Comissão Nacional para o Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais (CEPCT-MG), 73 comunidades tradicionais devidamente certificadas vivem na região, totalizando cerca de 2.230 famílias. Os geraizeiros são as populações que habitam os campos do norte de Minas Gerais. Seu modo de vida é alinhado às características do cerrado, de onde retiram o que é necessário para sobreviver, por meio da criação de animais, plantações e extrativismo.
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