"Multimodalidade é o caminho"
O novo marco das ferrovias, que já começou a
autorizar as primeiras concessões em modelo de privatização, precisa de ajustes
para favorecer efetivamente o País, afirma o presidente da FerroFrente
José Manoel Ferreira Gonçalves,presidente da
FerroFrente (Frente Nacional pela volta das Ferrovias)
De acordo com a José Manoel
Ferreira Gonçalves, engenheiro e presidente da FerroFrente (Frente Nacional
pela volta das Ferrovias), que defende a volta dos trens de passageiros e a
ampliação da malha ferroviária para o transporte de cargas no Brasil, o Novo
Marco Legal das Ferrovias ainda não contempla as necessidades reais do
segmento. “Temos um país de dimensões continentais e não possuímos um
transporte ferroviário de passageiros consistente”, afirma José Manoel Ferreira
Gonçalves, engenheiro e presidente da FerroFrente.
“Apesar de termos essa
grandeza, continuamos só exportando commodities para os portos, em especial
para o Porto de Santos. Precisamos que criar centros de concentração de carga,
centros de distribuição de carga, e usar todo o nosso potencial de modalidade. Temos
que atender a um imenso mercado interno do Brasil com transporte de passageiros
de média e longa distância em cima dos trilhos, e também focar no transporte de
produtos que abasteçam o mercado interno, barateando o custo dos alimentos e
facilitando para que haja uma diminuição das desigualdades sociais”, enfatiza
José Manoel.
No último dia 9 de
dezembro, o governo federal assinou os primeiros contratos que autorizam
empresas a erguer projetos para ferrovias em um novo modelo privado. Os planos
são baseados nas regras do novo Marco Legal das Ferrovias, que está em
vigor desde o fim de agosto por meio de uma medida provisória editada. O texto
libera um novo regime ferroviário no País, chamado
de autorização. Nele, novos traçados são construídos exclusivamente pelo
interesse da iniciativa privada, sem licitação.
Modelo ainda não é o
ideal
Para alguns analistas
do setor, esse movimento representa um avanço e amplia possibilidades de
investimentos no setor.
Na opinião de José
Manoel Gonçalves, o Brasil realmente precisa expandir urgentemente sua malha
ferroviária. “No entanto, temos que ter multimodalidade para ampliar o sistema
existente de forma racional. Continuamos dependentes de modelos que não
valorizam a nossa capacidade”.
“Esse modelo escolhido
do novo marco não é o melhor para o Brasil. Ele atende ao que chamamos de
´shortlines´, que seriam linhas férreas pequenas, com autorização para
funcionar em cima de uma concessão já existente. Resolve o problema até certo
ponto. O que não está se tratando com profundidade é o chamado direito de
passagem. O modelo ideal seria o de concessão horizontal, com o Estado
participando do processo, orientando e definindo rumos, trazendo a livre
iniciativa, mas não deixando seu papel de lado”.
Dados apontam que as
ferrovias correspondem a somente 15% dos transportes de carga, ao passo que as
rodovias comportam em torno de 65% desse tipo de transporte. “A nossa
concentração da matriz de transportes ainda é muito grande em cima de pneus.
São Paulo tem pouco mais de 100 km de metrô, nós devíamos ter 500 km, pelo
menos. O Brasil precisa de um projeto que trate da mobilidade urbana de outra
forma. A política metroferroviária teria que estar conectada com a política
ferroviária. Falta esse bom senso”, salienta o presidente da FerroFrente.
“Nós temos que atender
um imenso mercado interno do Brasil com transporte de passageiros de média e
longa distância em cima dos trilhos”
“Nossa engenharia, por exemplo, não vai para frente, não produz alternativas, e ela já fez coisas maravilhosas pelo país. Nós poderíamos ter um grande banco de projetos para as ferrovias”, conclui.
Nenhum comentário