Tudo o que profissionais do Comércio Exterior precisam saber sobre Big Data e Inteligência de Mercado
*Kauana Pacheco
Provavelmente você já
ouviu falar de Big Data, não é? Ou talvez tenha noção de que é importante, mas
ainda está um pouco perdido sobre o que isso significa para seu negócio? Essa é
minha área de especialização, em novembro conclui minha pós-graduação em Big
Data & Market Intelligence na FAE Business School e posso garantir que esse
assunto é relevante para qualquer tipo de negócio, principalmente Comércio e
Negócios Internacionais. Neste artigo você entenderá de forma simples e
objetiva os principais conceitos e como você pode aplicar isso na sua empresa.
Então vamos começar do começo e embarcar nesse maravilhoso mundo dos dados.
A importância do Big
Data para o Comércio Exterior brasileiro
Crise 2020-2021 no
Comércio Exterior
O Brasil
representa apenas 1% da movimentação mundial de importação e exportação e esse
é um fato preocupante, uma vez que o país possui um vasto território
continental, além de capacidade e necessidade para participar ainda mais do
comércio mundial.
A pandemia
provocada pelo coronavírus escancarou um dos maiores gargalos já vistos na
logística: a escassez de container, o aumento do frete internacional e
congestionamentos nos maiores portos do mundo na Ásia, Estados Unidos e Europa.
Com a crise logística
longe do fim essa situação se torna ainda mais preocupante, uma vez que com a
baixa representação nas importações e exportações, o Brasil não é uma rota
atrativa para os armadores que visam o lucro e assim o frete internacional se
torna ainda mais oneroso. Diversos estados relatam prejuízos bilionários por
não conseguirem exportar seus produtos, como é o caso do Espírito Santo, cuja
economia é sustentada pelas operações de importação e exportação e os
exportadores não conseguem equipamento (container) para rochas e café, sofrendo
prejuízos pelos estoques parados.
O ano de 2021 está
sendo desafiador para o comércio mundial: além dos desafios provocados pela
pandemia, players do comércio internacional precisaram lidar com incidentes
como o fechamento do Canal de Suez, interrompendo a passagem entre Ásia e
Europa, as adversidades climáticas (ciclones e tufões) na China que
interromperam diversas vezes atividades logísticas de todos os modais e
provocaram ainda mais congestionamentos, causando a incerteza se os produtos de
Black Friday e do Natal chegarão a tempo e, ainda, como se não bastasse,
apagões em diversas cidades interrompendo totalmente a produção.
Setores que superaram a
crise
Por outro
lado, testemunhamos o grande superávit brasileiro (mais exportações do que
importações, ou seja, maior entrada de capital estrangeiro no país) na balança
comercial, que bateu recordes por diversos meses consecutivos principalmente em
commodities como soja e diferentes tipos de carne, e isso se dá principalmente
pela alta demanda do gigante asiático.
E-commerce, eletrônicos
e infraestrutura
O Brasil
nunca importou tantos eletrônicos e o e-commerce potencializou o consumo desses
aparelhos. Apenas no primeiro semestre do ano foram mais de US$1bilhão em
celulares (70,35% deles oriundos da China e via transporte aéreo). O alto
volume de compras realizadas pela internet fez com que as empresas de comércio
eletrônico investissem em Hubs logísticos e novos centros de distribuição,
gerando assim mais emprego, renda e desenvolvimento para muitos estados
brasileiros.
Bebidas
O Brasil é
um grande importador de vinhos e aumentou ainda mais a compra dos queridinhos
chilenos, mas o que surpreendeu foi que as exportações de vinhos provenientes
do Brasil também aumentaram em 200%. Percebeu-se também marcas estrangeiras de
cervejas investindo em fábricas no Brasil, como é o caso da cerveja espanhola
Estrella Galicia.
Com os desafios
logísticos a nível mundial, as empresas precisam reinventar suas estratégias:
uma empresa brasileira resolveu fugir do habitual e optou por exportar 9 toneladas
de café no modal aéreo para Londres, mesmo com a operação mais cara o objetivo
era que o café chegasse até o seu destino no tempo esperado – e chegou!
A Coca-Cola, por sua
vez, driblou a crise de container e falta de espaço em navios optando pela
modalidade Break Bulk e afretou 3 navios graneleiros.
Mercado Pet
O mercado
pet está se destacando em todo o mundo e o Brasil marca presença tanto na
importação quanto na exportação de itens como ração, brinquedos, roupas,
bebedouro, sanitário pet, casinhas, caminhas, focinheiras, pingentes e
coleiras, xampus, sabonetes, perfumes e até mesmo pasta de dente. Tudo para
deixar o pet feliz!
Saúde e higiene
A pandemia
aumentou muito a utilização de produtos de higiene como álcool em gel,
sabonetes e esterilizantes. Além desses, a demanda por máscaras e luvas também
cresceu consideravelmente (+ 85% apenas em vendas online).
A procura por itens de
ginástica também cresceu, isso porque pessoas estavam buscando formas de se
manterem saudáveis durante o isolamento social. Segundo a Netshoes o aumento da
busca por esses itens foi de 2500%.
Serviços
Com a
mudança nas formas de comunicação que obrigaram empresas a estarem presentes no
mundo digital, dois setores cresceram muito: a tecnologia e o marketing.
Empresas perceberam que não podem ficar isoladas do digital e precisam estar
conectadas: a competição entre a concorrência não é mais por preço e sim por
velocidade e qualidade no atendimento. Enquanto a tecnologia ajuda na
velocidade, o marketing ajuda nas estratégias de comunicação para um
atendimento excelente.
E, falando
de tecnologia, está na hora de falarmos de dados e como eles podem ser
transformados em inteligência para que empresas e profissionais consigam
identificar oportunidades.
Inteligência de Mercado
e Big Data no Comércio Exterior
Empresas
de todos os setores que citamos acima, para superarem a crise e aumentarem seus
números, ou manterem suas operações em plena pandemia, precisaram criar planos,
analisar tendências de mercado ou encontrar novos mercados para crescer. E é
isso que empresas de Comex e Logística também precisam fazer, mas esbarram na
impossibilidade de investir em um software especializado ou na falta de tempo,
ou simplesmente não possuem equipes que consigam pensar de forma criativa na
solução de problemas.
Ter inteligência
empresarial não é a tarefa do chefe, é uma cultura que toda empresa deve
possuir.
O que são dados e como
são transformados em inteligência?
Dados
isolados não significam muito, porém quando organizados, tratados e
interpretados podem ser transformados em informações valiosas para as empresas,
que as ajudam a identificar oportunidades e tomar decisões inteligentes, ou
seja, encontrar algo capaz de melhorar o estado atual.
O ciclo da
inteligência para uma empresa é a grande coleta de dados proveniente de dados
primários ( colhidos diretamente da fonte); ou dados secundários (já
publicados em algum lugar, como internet, consultorias, funcionários etc.).
Tais dados coletados
podem ser quantitativos (aqueles que podemos metrificar, como o número de
habitantes de um país) ou qualitativos (aqueles que não podem ser expressos em
números, como por exemplo, comportamento da população de um país).
A análise desses dados,
dentro de um contexto, os transforma em informação, a síntese de diversas
informações se torna conhecimento, a experiência e criação de estratégia para
ação torna-se a inteligência.
Quando empresas agem de
forma inteligente possuem capacidade de evoluir seus setores em diferentes
formas: na saúde financeira, nas tomadas de decisão, no controle de operações e
gerenciamento de riscos, na busca por clientes e fornecedores, no entendimento
das dores e desejos de seus clientes, no seu diferencial competitivo e no seu
relacionamento com stakeholders.
Muitas empresas não têm
controle nenhum sobre suas operações e têm gigantes custos de oportunidades
(aquele valor que você renuncia ao tomar ou NÃO uma decisão). Já outras, tentam
se organizar em planilhas realizadas manualmente, porém gastam um tempo enorme
ao organizar dados e muitas vezes os tomadores de decisão nem conseguem
analisar esses dados por falta de tempo ou simplesmente por não conseguirem
encontrar estratégias em uma planilha com diferentes informações.
Eu gosto de dizer que o
Comércio Exterior trabalha com detalhes e dados e todas as operações giram em
torno disso. São diversas informações que circulam entre os integrantes da
cadeia logística, as informações são recebidas e repassadas e muitas se perdem
entre as milhares trocas de e-mails. Agora imagine se todas as informações
estivessem organizadas e prontas para serem analisadas pelo tomador de decisão,
isso economizaria tempo, custos e traria mais inteligência para cada decisão
tomada.
O que é Big Data e como
pode ser aplicada no Comércio Exterior?
Chamamos
de Big Data os dados que são grandes demais para serem analisados da forma
convencional e manual, pois possuem grande variação, volume e velocidade, por
isso a necessidade do Big Data no Comex, uma vez que lidamos com os esses 3vs
diariamente.
Informações
estruturadas são aquelas que possuem um padrão. Já as não estruturadas são
aquelas que não possuem um formato padronizado para a leitura, como por exemplo
um e-mail, áudios do WhatsApp, documentos em PDF, documentos em planilha do
Excel, vídeos de treinamentos. Os semiestruturados são uma variação de ambos.
Os dados não
estruturados são um grande desafio para as empresas, pois a análise é mais
difícil, imagine em uma operação onde se quer localizar o responsável pela
multa aduaneira e nesse processo foram trocados documentos por e-mail, áudios
no WhatsApp e outras informações no sistema da empresa. Ou imagina uma busca
por clientes em outros países, mas as informações demográficas estão no website
do governo, informações legais em outro e algumas informações você capturou
viajando até o país e anotou.
O investimento em um
software de Big Data e Inteligência Artificial resulta em coleta, captura,
tratamento e organização de dados sem interferência humana e ainda conta com a
possibilidade de automatizações e dashboards que tornam a informação mais intuitiva
e criam diferentes possibilidades. Empresas de tecnologia, normalmente, sempre
estão buscando inovação e aprimoramento, querem ouvir seus clientes cada vez
mais para oferecerem ainda mais soluções que impulsionam ainda mais a sua
empresa.
Vale se atentar que,
como todos os investimentos, é necessário definir objetivos para cada análise
que pode ser descritiva, quando são analisadas situações passadas, a fim de
identificar tendências, padrões ou anomalias. Análise preditiva: o objetivo
dessa análise é prever situações futuras. Análise prescritiva: análise de
diferentes possibilidades a serem tomadas em um cenário futuro.
A Inteligência de
mercado e o crescimento da empresa
Empresas
que possuem inteligência de mercado dificilmente não crescem. Isso porque elas
têm a compreensão de segmentos, dos clientes e da concorrência. Elas não atuam
apenas com os dados gerados por si, elas atuam com dados disponíveis no
mercado, como novos mercados potenciais e oportunidades de negócios; as
necessidades, dores e preferências do cliente; os produtos disponíveis no
mercado, organização de vendas, plano de marketing e preços da concorrência;
monitoramento das tendências e o impacto delas; tamanho do mercado, crescimento
do mercado e participação de mercado nos mercados existentes.
Atualmente, empresas
conseguem coletar informações úteis em diversas plataformas gratuitas, como
WorldBank, Trading Economics, Relatório Focus do BACEN, International Trade
Center, The observatory of Economic Complexity (OEC), GAP Minder, OMC, Visual
Capitalist, Comexvis e Euromonitor (grátis para estudantes, consulte na sua
instituição de ensino)
Mesmo assim, sabe-se
que investir em um software especializado na sua área traz ainda mais
facilidade e benefícios, por isso não espere para começar. Entenda logo como
transformar dados em lucro.
O que diz a Lei Geral
de Proteção de Dados (LGPD) em relação ao Big Data?
A Lei
Geral de Proteção de Dados Pessoais, Lei 13.709/2018 – legislação brasileira
que regula as atividades de tratamento de dados pessoais baseada no europeu
General Data Protection Regulation (GDPR) – é nova e ainda território
desconhecido por muitos, por esse motivo, para não ser multado, antes de
coletar, armazenar dados de terceiros e tomar qualquer ação é necessário buscar
ajuda do seu setor jurídico ou de uma consultoria especializada no assunto.
Lembre-se que esse é um assunto que players do Comex devem ter muita atenção,
não apenas para inteligência de mercado, mas para diversos outros setores que
envolvem dados sensíveis.
*Kauana Pacheco é diretora da assessoria de marketing e comunicação para
Comércio Exterior, a ComexLand, e ajuda
empresas e profissionais da área a se posicionarem no ambiente digital. O
grande diferencial da assessoria é entendimento em Comex e o atendimento que
compreende a necessidade e o deadline de cada cliente. Kauana é formada
em Negócios Internacionais e é especialista em Big Data & Market
Intelligence..
Nenhum comentário