Diretor Roberto Lage leva vida de Pagu aos palcos da Oficina Cultural Oswald de Andrade no centenário da Semana de Arte Moderna de 1922
Monólogo escrito por Tereza Freire tem a atriz
Thais Aguiar no papel de Patrícia Rehder Galvão, a Pagu, e revela o resultado
de uma investigação dos destroços mais profundos e pouco conhecidos da história
da militante política e cultural, e uma das pioneiras do feminismo no Brasil
Thais Aguiar interpreta Pagu
Foto: Isabella Guslinski
No ano em que a Semana de Arte Moderna de 1922
celebra seu centenário, diversas homenagens revivem esse marco na história
política e cultural de São Paulo. Uma delas tem sido preparada há mais de dois
anos, com algumas pausas devido à pandemia, por Roberto Lage. O Diretor foi convidado pela
atriz Thais Aguiar
para materializar a musa modernista no espetáculo “Dos Escombros de Pagu”,
um texto de Tereza Freire.
O espetáculo começará sua trajetória na Oficina Cultural Oswald de Andrade,
parte de um programa da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do
Estado de São Paulo e gerenciado pela Poiesis, de 14 a 19 de fevereiro,
inaugurando a sala de espetáculos Patrícia Rehder Galvão.
“A Semana de Arte Moderna aconteceu após
o fim da 1ª Guerra Mundial, um momento de transformação em todo o mundo. Agora,
no seu centenário acontece exatamente quando atravessamos uma pandemia global
que, mais uma vez, está transformando nossa percepção da vida, das relações, da
cultura e da política”, destaca Roberto Lage.
É impressionante como a história de Pagu
ainda faz uma provocação extremamente atual sobre a luta por justiça social e
retomando uma cultura de papel transformador. As pessoas poderão vivenciar uma
jornada cheia de detalhes para entender toda a complexidade dessa
personalidade.
Texto baseado no livro
O texto é baseado no livro “Dos
Escombros de Pagu”, resultado de uma tese de mestrado de Tereza Freire. A
pesquisa, que durou quatro anos, resgata a vida e a obra dessa importante
precursora de comportamentos político-sociocultural brasileiros de uma
feminista, militante política, ilustradora, comunista e crítica literária e
teatral. Ela marcou a história do Brasil, revolucionando e chocando a sociedade
dos anos de 1930, com suas ações e pensamentos inovadores.
“Tenho uma enorme admiração por Roberto
Lage há muito tempo. Em uma conversa manifestei a vontade de ser dirigida por
ele, foi quando ele me apresentou esse texto. Eu fiquei extremamente apaixonada
por Pagu e por tudo o que ela representa para o feminismo no Brasil, levantando
essa bandeira em um período no qual as mulheres tinham pouco espaço para se
expressar. Eu me agarrei a essa história que, como mulher, sinto que também é
minha”, conta a atriz Thais Aguiar.
A encenação de Roberto Lage propõe uma
Pagu conectada ao tempo presente, num depoimento livre de dores e rancores de
sua história. Veremos no palco uma mulher que expõe a sua vida e a sua relação
com Tarsila do Amaral, Oswald de Andrade e os modernistas, com seus filhos,
amores, amigos, família, viagens, descobertas, alegrias, tristezas. A concepção
cênica se propõe a repensar a linguagem de como o teatro narrativo nos foi
apresentado, através dos estudos de Walter Benjamin e o teatro épico
desenvolvido por Brecht.
No espetáculo “Dos Escombros de Pagu”, a
personagem volta para narrar sua trajetória de vida com todos os
acontecimentos vividos e superados, sem qualquer sentimento de culpa e
vitimização dos fatos. Uma interpretação que mergulha nas memórias da personagem
e emociona pela veracidade dos acontecimentos vivenciados, deixando o público
livre para interpretar a história como quiser e com isso a narração atinge uma
amplitude para além da informação.
Sobre Patrícia Redher Galvão (Pagu)
Nasceu em São João da Boa Vista
(09/06/1910), morreu em Santos (12/12/1962). Foi autora do primeiro romance
proletário brasileiro (Parque
Industrial) e a primeira presa política deste país. Casada com
Oswald de Andrade, destacou-se significativamente no movimento Modernista de
1922. Ainda jovem, trabalhou em fábricas e militou pelo Partido Comunista.
Escreveu contos policiais publicados
pela revista Detective,
dirigida pelo dramaturgo Nelson Rodrigues, que depois (1998) foram reunidos na
obra Safra Macabra.
Em trabalhos, junto a grupo teatrais, revelou e traduziu grandes autores, até
então inéditos no Brasil, como James Joyce, Eugène Ionesco, Arrabal e Octavio
Paz.
Fundou um jornal de esquerda com Oswald
de Andrade, empastelado pela policia repressora da época. Foi perseguida pela
ditadura Vargas. Militou na França, foi presa e deportada para o Brasil. Antes,
presenciou a coroação do Imperador Pu Yi, da Manchúria. Presa em 1935,
permaneceu encarcerada por 5 anos. Foi torturada e, somente libertada por
motivos de doença, pesando cerca 40kg.
Tentou suicídio por conta de um
tratamento de câncer mal sucedido. Em Santos, tornou-se uma das grandes
incentivadoras do teatro amador, responsável pela descoberta de Plínio Marcos.
Morreu aos 52 anos, vítima de câncer no
pulmão. Seu último marido foi Geraldo Ferraz, crítico do jornal “A Tribuna”
(Santos), em que também foi colaboradora. Caiu no esquecimento da história
oficial até que Augusto de Campos publicou sua antologia poética e “gritou”:
Quem resgatará Pagu?
Sobre Tereza Freire
É mestre em História Social pela PUC/
SP. Atuou como atriz do grupo Ornitorrinco, nas peças "O Doente
Imaginário" e "Sonho de uma noite de Verão", direção de Cacá
Rosset. Autora dos livros "Dos Escombros de Pagu" e "Selvagem
como o Vento", adaptada para o teatro por Denise Stoklos, com Carolina
Ferraz. Roteirista e apresentadora do programa "Diário de Viagem"
(Sesc TV). Apresentadora de programas da TV Cultura, entre eles: Lanterna Mágica, Trinta Anos Incríveis e Contos da Meia Noite.
Dirigiu o documentário "Caminhos do Yoga", na Índia, sobre os
caminhos em busca de iluminação espiritual. Formou-se em Yoga, com Pedro Kupfer
e, desde então se dedica a transmitir o milenar conhecimento em aulas e
palestras.
Sobre Roberto Lage
Roberto Lage, São Paulo, 1947. Diretor.
Prestigiado encenador paulista com vasta
atuação nos diversos gêneros do teatro, alternando trabalhos em grupos
experimentais e produções comerciais que lhe renderam 36 prêmios ao longo da
carreira, dentre eles o de melhor direção pela Associação Paulista de Críticos
de Artes (APCA) e o Prêmio Moliere.
Iniciou sua carreira como ator em 1962.
A partir de 1969 começa a dirigir no teatro amador e logo a seguir no teatro
universitário, em 1970, com a peça “Chico Rei”, de Walmir Ayala (1933-1991).
Nos anos seguintes, dedica-se a grupos profissionais, amadores e estudantis,
solidificando sua carreira por meio de um repertório variado. Hoje, já soma 169
espetáculos dirigidos.
Em 1993, em Portugal, monta Para Tão
Longo Amor, de Maria Adelaide Amaral (1942), no Teatro D. Maria II, repetida no
Brasil em 1994. No ano seguinte, dirige um espetáculo circense, “Uma Noite e
Tanto”, com o grupo acrobático Fratelli, com grande sucesso em São Paulo,
percorrendo festivais no Brasil e no exterior.
De volta a Portugal, encena “Beijo no
Asfalto”, de Nelson Rodrigues (1912-1980), e “Ópera do Malandro”, de Chico
Buarque (1944), no Teatro Carlos Alberto, na cidade do Porto, em 1996.
Na Oficina Oswald de Andrade, em 1998,
realizou um importante projeto com a Secretaria da Cultura chamado “Didática da
Encenação”. A iniciativa promovia a inclusão de jovens profissionais da vida
teatral no mercado de trabalho por meio da capacitação de cenógrafos, figurinistas,
sonoplastas, diretores e atores. Muitos nomes importantes das artes cênicas
começaram lá, como o ator Dan Stulbach.
Em 1999, fundou com Celso Frateschi
(1952) o Ágora - Centro para o Desenvolvimento Teatral, que promove desde então
seminários e outras atividades para o aperfeiçoamento do ator e reflexões sobre
o fazer teatral.
Entre os anos de 2000 a 2019 dirige
diversos espetáculos adultos e infantis com textos de Tatiana Belinky, Pier
Paolo Pasolini, Luis Alberto de Abreu, Dostoiévski, Yukio Mishima, dentre
outros. Com quase 60 anos de carreira, Roberto Lage figura entre os diretores
mais ativos do teatro brasileiro da atualidade com 169 trabalhos no currículo.
Dos Escombros de Pagu
Datas: 14 a 19 de fevereiro de 2022.
Horário: Segunda a Sexta 20h e Sábado
18h.
Local: Oficina Cultural Oswald de
Andrade – Sala Patrícia Rehder Galvão.
Endereço: Rua Três Rios, 363 – Bom
Retiro – SP/SP.
Gênero: Drama.
Duração: 70 minutos.
Classificação: 14 anos.
Ficha Técnica
Texto: Tereza Freire
Direção: Roberto Lage
Assistente de Direção: Mariana Muller
Atuação: Thais Aguiar
Cenário e Figurinos: Livia Loureiro
Costureira: Quitéria Pereira
Iluminação e operação de luz: Tomate Saraiva
Trilha Sonora e operação de som: Paulo Gianini
Fotografias: Isabella Guslinski
Design Gráfico: Heron Medeiros
Assessoria de Imprensa: Antonio Montano
Direção de Produção e Administração: Maurício Inafre
Realização: Roberto Lage Produções Artísticas
SINOPSE
"Dos Escombros de Pagu", texto
de Tereza Freire, trata da riquíssima vida de Patrícia Galvão. Muito além de
homenagear esta brasileira que foi uma mulher à frente de seu tempo, a peça dá
voz a Pagu, musa dos modernistas, militante das grandes causas da humanidade,
amante da vida, inquieta, lúcida, mãe, filha, poeta, jornalista...
No texto, a "personagem Pagu"
apresenta sua história com a generosidade que sempre a acompanhou e relembra
tudo o que viveu, desde a infância até o final de sua vida. Passa por sua
relação com Tarsila do Amaral e os modernistas, fala de seus filhos, amores,
amigos, da família, das viagens, das descobertas, da menina irreverente que foi
e da mulher guerreira em que se transformou. Neste relato emocionante, poético
e muito bem-humorado, Pagu nos leva a conhecê-la, entendê-la, amá-la.
SINOPSE CURTA
"Dos Escombros de Pagu", apresenta a estória de Patrícia Redher Galvão com a generosidade que sempre a acompanhou e relembra tudo o que viveu, desde a infância até o final de sua vida. Muito além de homenagear esta brasileira que foi uma mulher à frente de seu tempo, a peça dá voz à Pagu, musa dos modernistas e militante das grandes causas da humanidade.
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