Armazenagem: desafios de uma produção recorde em 2022
Paulo Bertolini*
“O Brasil é o celeiro
do mundo”. Essa frase foi um slogan nacional durante o governo de Getúlio
Vargas que ganhou mais força nas últimas décadas em virtude dos resultados
alcançados pelo nosso agronegócio, principalmente na produção de grãos.
Podemos afirmar que o Brasil
alimenta quase 1 bilhão de pessoas ao redor do mundo, o que é uma imensa
responsabilidade para garantir sua segurança alimentar. Essa responsabilidade
também é da cadeia logística pós-colheita, principalmente do setor de
armazenagem de grãos.
A capacidade estática
de armazenagem de grãos não tem acompanhado o crescimento da produção
brasileira, apesar de todos os esforços que existem dos governos que vem se
sucedendo em investir na área. O déficit tem sido crescente e alcançará 80-90
milhões de toneladas esse ano, um recorde negativo. Não fosse a frustração de
safra no sul do país, ele chegaria a mais de 110 milhões de toneladas, o que
poderia causar um verdadeiro caos logístico no país.
Estamos produzindo cada
vez mais, o que significa que os produtores brasileiros são competentes e que
há mercado para nossos produtos. Temos uma projeção de crescimento da produção
brasileira invejável para o mundo, apesar de nós só cultivarmos ainda 9% do
território nacional. Podemos dobrar a área agrícola ao longo dos próximos anos,
sem derrubar árvores, usando pastagens degradadas em regiões de possível
implantação da agricultura.
O Brasil não está em um
estágio de produção madura como, por exemplo, estão os Estados Unidos. Estamos
ampliando a produção. A cada ano produzimos, em média, 10 milhões de toneladas
de grãos a mais. Essa produção circulando demanda mais caminhões, rodovias,
portos, entrepostos logísticos e sistemas de armazenagem. O produtor está
ganhando eficiência e produtividade, apoiado pela pesquisa que lança novas
variedades e híbridos todos os anos, desenvolve biotecnologia, orienta a
correção dos solos e o plantio direto, sempre visando a sustentabilidade da
produção. O desafio do país é acompanhar essa onda oferecendo uma
infraestrutura mais racional e suficiente para essa produção crescente.
Hoje, a armazenagem de
grãos está muito concentrada em centros urbanos e pouco dentro de fazendas.
Segundo dados do MAPA, mais de 80% dos armazéns estão nas cidades, indústrias e
portos, e menos de 20% estão juntos às lavouras. Portanto, incentivar a
construção de armazéns de grãos na fazenda trará maior racionalidade ao
processo logístico pós-colheita, maior controle e economia para os agricultores
e maior segurança alimentar aos consumidores, pela distribuição da produção em
armazéns em todo o território nacional.
Para zerar o atual
déficit armazenagem, o Brasil precisaria investir em torno de R$ 80 bilhões, e
esse investimento deveria acontecer preferencialmente dentro das fazendas.
Portanto, a oferta de crédito em quantidade suficiente, prazo compatível e
juros fixos são fundamentais para que o produtor invista em armazenagem. O
crédito para construção de armazenagem tem sido o principal entrave para
mitigação do déficit crescente e uma análise sobre isso merece um artigo
específico.
O custo para construção
de um sistema de armazenagem varia de R$ 900 a R$ 1.100 por tonelada estática,
talvez hoje R$ 1.200 porque o aço subiu muito. Só que desse total, apenas
45-50% está destinada aos equipamentos (silos, secadores, limpadores,
transportadores etc), o resto são obras e serviços complementares ou de
infraestrutura para implantar a obra.
Os fabricantes
brasileiros de equipamentos de armazenagem estão preparados para o desafio de
reduzir o déficit de armazenagem. Têm tecnologia moderna, tanto é que essas
empresas também exportam seus equipamentos. A capacidade fabril brasileira de
equipamentos de armazenagem tem crescido, e pode crescer mais e rapidamente. As
estatísticas do setor feitas pelo Departamento de Estatística da Abimaq
mostram, inclusive, uma capacidade ociosa das fábricas que poderia ser suprida,
caso o mercado demande.
A melhoria dessa
infraestrutura de uma forma mais organizada e com uma visão mais estruturada,
vai causar um impacto de crescimento significativo da agricultura brasileira e
todo mundo vai ganhar com isso, principalmente os consumidores que terão
produtos mais baratos armazenados com segurança. Mais armazéns também
possibilitam “carregar” estoques para períodos de entressafra, garantindo o suprimento
de grãos e reduzindo a oscilação de seus preços.
*Paulo Bertolini é diretor da Granfinale Sistemas Agrícolas e presidente da Câmara Setorial de Equipamentos para Armazenagem de Grãos.
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