Ensino da administração e gestão pública no Brasil
Por Luiz Marcatti e Herbert Steinberg*
Herbert Steinberg
Crédito da imagem: Murillo Constantino
Traçar estratégias, direcionar recursos
e estabelecer objetivos são práticas pertinentes ao planejamento periódico de
qualquer empresa, e que levam em consideração sua capacidade de execução. É
possível extrapolar essa abordagem também para a administração pública — não
por acaso, especificamente no caso brasileiro, usa-se a expressão “choque de
gestão”, capaz inclusive de ajudar no enfrentamento de crises agudas em
organizações estatais.
Observando-se o cenário no Brasil sob
uma perspectiva histórica, fica evidente a repetição de dificuldades na
administração pública decorrentes de problemas passados não devidamente
resolvidos. Certamente os casuísmos de diversos governos reverberaram nas
políticas públicas e sociais ao longo do tempo, mas há um ponto nevrálgico
constantemente relegado a um papel secundário: a adoção de boas práticas de
administração pública, nos moldes do que já se faz há muito tempo no setor
privado.
Uma das origens dessa questão está
associada ao descompasso entre o que se ensina nos cursos superiores de
Administração quanto se trata de gestão pública e os conceitos mais atuais
aplicados às empresas privadas, lacuna que fica ainda mais visível quando se
comparam as realidades do Brasil e de países desenvolvidos como os Estados
Unidos.
Como destaca o consultor de empresas Stephen
Kanitz, o ensino de gestão pública na graduação e na pós-graduação nas escolas
brasileiras ainda carece de paradigmas alinhados com o que se faz de melhor no
exterior. Economista, ex-colunista da Revista “Veja” e ganhador do “Prêmio
Jabuti” pelo livro “O Brasil que dá certo”, Kanitz apresentou esse panorama em
sua participação como convidado de dezembro de 2021 do MESA AO VIVO, espaço de
debates no canal do YouTube da Mesa Corporate Governance.
Como relata Kanitz, não foi sem um certo
grau de animosidade que as primeiras escolas de Administração sugiram, ainda no
século 19. Houve resistências iniciais de outras instituições correlatas, mas
as escolas de gestão conseguiram se impor — mesmo diante da antipatia de
universidades renomadas, aos poucos foram formando uma nova classe profissional
de administradores e conquistando força política.
Um importante impulso, nos Estados
Unidos, veio da necessidade de profissionalização das famílias empresárias, já
no século 20, fator que evidenciou uma crescente valorização do ensino de
administração no país. Essa dinâmica levou, por exemplo, os profissionais
formados pela escola de Administração de Harvard (hoje uma das maiores
referências na área) a se equipararem, em termos de status social, a médicos e
advogados.
No Brasil, a evolução e o
desenvolvimento dos cursos de Administração que se vê hoje foram marcados por
um retrocesso inicial: a Lei 7.988, de 1945, que decretou a extinção dos cursos
superiores de Administração e Finanças no País. O intervalo foi longo, tendo as
escolas voltado a partir da década de 1990 (mais comumente associadas a
instituições de ensino de Economia e Contabilidade. O hiato cobrou seu preço
sob a forma de falta de atenção para a gestão pública, em contraste com a do
setor privado, avalia Kanitz. Foram décadas perdidas em termos de
desenvolvimento de pesquisas acadêmicas sobre administração pública brasileira,
que acabou sem subsídios suficientes para alterar os rumos das empresas e
organizações sob a alçada dos governos.
Por um erro histórico, portanto, ficou
faltando à gestão pública no País uma ligação fundamental com pesquisas
acadêmicas e práticas que poderiam ter sido levadas adiante por meio das
escolas de Administração. Seria extremamente salutar para a sociedade
brasileira que os gestores públicos pudessem, a cada dia mais, se valer das
experiências e atividades da esfera acadêmica que tanto beneficiam as empresas
privadas.
*Respectivamente, sócio e presidente e
sócio, fundador e presidente do conselho da MESA Corporate Governance.
Sobre a MESA Corporate Governance
A MESA Corporate
Governance trabalha a governança corporativa e familiar na dimensão humana do
poder, dinheiro e afeto. A empresa é constituída por uma equipe de consultores
especialistas e experientes que atendem às necessidades nos diferentes momentos
de modernização de empresas de origem familiar ou multissocietárias, quer sejam
de capital fechado ou com ações listadas em bolsas de valores. Também é filiada
às seguintes entidades e instituições: AMCHAM Brasil, IBGC – Instituto
Brasileiro de Governança Corporativa, ICGN – International Corporate Governance
Network, FBN – Family Business Network e NACD – National Association of
Corporate Directors.
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