Imposição de metas agressivas pode gerar fraudes e processos trabalhistas
Prática cria ambiente tóxico e aumenta
ocorrência de fraudes, diz especialista
A imposição de
metas muito agressivas e inatingíveis vem causando problemas jurídicos e de
relacionamento que provocam prejuízos incalculáveis às empresas. O advogado, especialista em Compliance e
autor do livro Entrevista Forense Corporativa, André Costa,
explica que, além de processos por gestão por injúria e fraudes, a prática pode
até resultar em ações de rescisão indireta.
Segundo ele, a
Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) é clara ao prever, no artigo 483, a
possibilidade de rescisão indireta quando forem exigidos serviços superiores às
forças do colaborador e alheios ao contrato de trabalho. “A rescisão indireta é como uma demissão
por justa causa, mas acontece de forma invertida. Quando as cláusulas
contratuais não são respeitadas e tornam a relação de trabalho insustentável, é
possível pleitear na Justiça uma indenização que dá direito a todas as verbas
rescisórias como se o trabalhador houvesse sido demitido”,
afirma o especialista.
O especialista
explica que conflitos gerados por metas inatingíveis têm se tornado cada vez
mais comuns desde o retorno às atividades presenciais e podem provocar uma
série de danos. “Sempre
que é colocada uma meta ou um prazo inatingível as chances de os colaboradores
cometerem fraudes ou agirem de maneira desonesta é potencializada, porque ficam
desesperados para entregar o resultado a qualquer preço. Além disso, quase
sempre geram um ambiente de trabalho tóxico afetando a saúde e o bem-estar de
todos”, pontua Costa.
Conflitos gerados por metas agressivas têm se
tornado
cada vez mais comuns
(Foto: Freepik)
Gestão por
injúria
O advogado
conta que nem sempre cobranças relacionadas à produtividade são caracterizadas
como assédio moral. “Nem
sempre o líder é um assediador. Esse tipo de cobrança exagerada para obter
resultado a qualquer custo acontece pela falta de maturidade de quem está
liderando a equipe, que não tem condição de se levantar em uma sala de
executivos, por exemplo, e falar que a meta exigida é impossível de ser
atingida. Geralmente, essa pessoa fica quieta, acata e começa a ter condutas
totalmente ilegais tentando entregar o que sabe não ser possível com os
recursos que tem”, diz.
Costa, que
também atua como entrevistador forense há mais de 10 anos investigando fraudes
e outras condutas inadequadas nas empresas, conta que casos de gestão injuriosa
são comuns em seu dia a dia. “Atendi
um caso em que o líder trancou os funcionários na empresa com cadeados, pediu
pizza, refrigerante e não os deixou sair enquanto não terminassem o serviço. Em
outra situação, o líder criou uma planilha para controlar quantas vezes os colaborares
iam ao banheiro, o tempo que demoravam e compartilhava o arquivo com toda a
empresa, como justificativa para a produtividade baixa de cada colaborador.
Isso pode gerar um problema jurídico para a empresa”, fala.
Atenção aos limites
Para
evitar ultrapassar os limites da lei, da ética e da moral, o especialista
orienta estabelecer metas baseadas em análises. “A empresa precisa dosar essas metas com
base em um estudo técnico e responsável e ouvir todos os setores para entender
o que é possível ser aplicado. É fundamental ter conhecimento sobre a realidade
econômica do país, de seu segmento, da quantidade de membros na equipe, do
volume que o maquinário aguenta e o orçamento disponível, por exemplo”,
orienta.
Crescimento da judicialização
O Superior
Tribunal do Trabalho (TST) registrou um aumento de 13,27% nos pedidos de
rescisão indireta no primeiro grau nas Varas do Trabalho do Brasil no ano
passado. O número saltou de 118.736 em 2020 para 134.503 casos em 2021.
André Costa é advogado especialista em compliance
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