Na esteira da inovação, setor financeiro se prepara para a nova moeda digital brasileira
O setor financeiro tem experimentado de perto o universo da
tecnologia. No Brasil, enquanto a população acostumava-se com nova a ferramenta
de pagamentos instantâneos (PIX), o Banco Central do Brasil (BC) inovava mais
uma vez com o Open Banking -- e sua evolução, o Open Finance. Embora esta
última esteja em um momento de aceitação e aprendizagem por parte dos
correntistas, os números relacionados ao PIX demonstram que os brasileiros
estão propensos a inovações tecnológicas. Segundo dados do BC, em dezembro de 2021, já eram mais
de 380 milhões de chaves cadastradas na ferramenta. Subsequente a estas
soluções tecnológicas, o próximo lançamento do setor será, provavelmente, a
moeda digital do Banco Central.
Nos últimos dois anos os investimentos em moedas digitais têm
batido recordes. De acordo com a pesquisa realizada pela Hashdex, em parceria com
a FGV EESP, 50% dos investidores de criptomoedas iniciaram os investimentos
entre 2020 e 2021, motivo pelo qual o setor financeiro tem demonstrado cada vez
mais interesse neste modelo de negócios.
As diferenças entre as moedas digitais e as criptomoedas
Para que se entenda, a moeda digital, também conhecida como
E-money, é qualquer moeda, dinheiro ou ativo semelhante a dinheiro, que seja
gerenciado, armazenado ou trocado em sistemas de computador digital e criada
com o intuito de ser utilizada para compra de produtos ou serviços pela
Internet. Desta forma, as criptomoedas podem ser consideradas moedas digitais.
No entanto, nem todas as moedas digitais são criptomoedas.
As moedas digitais dos Bancos Centrais, também conhecidas como
CDBC’s (Central Bank Digital Currency), são moedas que sofrem regulação desses
bancos, enquanto as criptomoedas são utilizadas em ambiente sem regulação de
nenhum órgão oficial, sendo esse um princípio para a sua existência.
Mas, afinal, o que é a nova moeda digital do Brasil?
Denominada Real Digital, a nova moeda está em fase de testes pelo
Banco Central do Brasil. Com a garantia do BC, há menos risco em utilização
dessa moeda como meio de pagamento, se comparada às criptomoedas, uma vez que o
BC utilizaria uma versão privada do blockchain, o que possibilitaria a
rastreabilidade das transações. Neste sentido, entendemos que a segurança
necessária para as transações estaria garantida, tendo em vista que o blockchain
já se mostrou eficiente nesse aspecto.
Em maio de 2021 o BC divulgou as diretrizes do Real Digital, com a
intenção de disponibilizá-la para uma parte dos brasileiros em 2023. Em um
contexto geral, o Real Digital será idêntico ao real que existe hoje, no entanto,
ele não existirá fisicamente. Não será possível, por exemplo, utilizar o caixa
eletrônico para transformá-lo em papel-moeda. O Real Digital ficará guardado em
bancos
ou carteiras digitais e só poderá ser utilizado em transações eletrônicas
via internet.
Em um exemplo prático, um vendedor poderá ter o QRCODE da sua
carteira digital e o comprador apontará seu smartphone, que contará com um
aplicativo que realizará a leitura desse QRCODE, debitando o dinheiro da
carteira digital do comprador e creditando na carteira digital do vendedor.
A estrutura de funcionamento do Real Digital
Os bancos centrais têm demonstrado preferência por modelos de
CBDC’s com arquitetura em dois níveis. Nesse desenho, o BC é o emissor da moeda
digital e pode ser também o administrador do sistema de liquidação das
transferências. Entretanto, são as instituições financeiras autorizadas que
abrem contas para o público.
Na China, o projeto do yuan digital, oficialmente chamado
Pagamento Eletrônico por Moeda Digital, está sendo desenvolvido em conjunto
pelo BC Chinês, bancos comerciais e gigantes da tecnologia.
Essa divisão de funções permite que seja aproveitada a
capilaridade e as estruturas que as instituições financeiras já possuem para
atender o público, reduzindo o peso administrativo que recai sobre o próprio
BC.
A receptividade como desafio para as moedas digitais
Como toda novidade que envolve o bolso do brasileiro, a implementação
do Real Digital precisará de tempo para que ganhe a confiança do consumidor.
Ainda estamos vivenciando a crise econômica causada pela pandemia e apenas após
a recuperação econômica é que novidades como essa ganharão força.
Diferentemente do PIX, que é mais um meio de pagamento eletrônico,
o Real Digital certamente vai contar com a desconfiança, principalmente, do
grande público, que não está totalmente engajado no universo do mercado
financeiro.
O aspecto da rastreabilidade poderá assustar inicialmente, dado
que 100% das informações de operações em Real Digital vão estar à disposição da
Autoridade Monetária. Isso certamente será uma barreira a ser vencida e só com
o tempo o mercado irá se adaptar e depositar a sua confiança nessa nova
realidade. Entretanto, as empresas, assim como os cidadãos, terão no Real
Digital mais um elemento de movimentação bancária à disposição. A implementação
certamente virá acompanhada de facilidades para operacionalização com
observância da experiência do cliente.
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Reginaldo Santos é Diretor
Executivo da Provider IT, uma das principais consultorias e
provedoras de serviços de TI do país.
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