Tensão entre Rússia e Ucrânia: impactos na bolsa americana e na importação brasileira
De um lado, especialista da Stake afirma que
investidores brasileiros precisam estar preparados para volatilidade do
mercado. Do outro, caso o conflito acarrete na redução de suprimentos
importantes, agronegócio brasileiro deve sentir grandes impactos
Segundo levantamento realizado pela Stake - plataforma que conecta pessoas de
diferentes países a oportunidades de investimentos, principalmente o mercado de
ações americano - nesse período, o petróleo WTI saltou para US$83,87 e o barril
para US$93,95 em seus contratos futuros, uma alta de 12,02%. Já o ouro, tradicional
seguro para crises e guerras, saiu de US$1.790,50 por onça-troy para US$1.903,50,
também se beneficiando do aumento do medo da inflação nos Estados Unidos.
Para os mercados russos a situação foi
ainda mais devastadora: o MOEX e o RTSI, dois dos principais índices do país,
saíram de 4.155,24 pontos para 3.036,88 e de 1.838,95 pontos para 1.207,50
pontos, respectivamente, baixas de -26,91% e -34,34% no período.
“Os GDRs do Sberbank e da Gazpro (duas
das maiores companhias do país) negociados em Londres caem -47,03% e -27,94% em
um dia em que não houve negociação nas bolsas americanas devido ao feriado de
President’s day. Enquanto isso, o rublo flerta com novas mínimas históricas
contra o dólar, sendo cotado a US$0,1254, amargando queda de -11% no período”,
avalia Rodrigo Lima, analista de investimentos e editor de conteúdo da Stake.
Desde 2014, quando ocorreu a invasão da
região da Crimeia, tanto as reservas cambiais quanto de ouro do Banco Central
Russo aumentaram vertiginosamente: nos últimos oito anos a autoridade monetária
russa expandiu suas reservas de ouro em mais de US$100 bilhões, somando cerca
de US$132 bi atualmente. Isso parece indicar que a Rússia se preparou para uma
ocasião como essa, tentando criar robustez monetária para enfrentar eventuais
sanções do ocidente.
“Ainda é cedo para saber como a crise
irá terminar, mas enquanto não houver maior clareza no cenário político
internacional é muito provável que investidores adotem uma perspectiva de “risk-off” e “flight to quality”, com
empresas ainda pouco lucrativas sendo penalizadas em detrimento de nomes mais
tradicionais. Esse movimento também pode fazer com que muitos investidores
busquem refúgio no ouro e nos títulos do tesouro americano, o que pressionaria
as taxas de juros para baixo, em um momento no qual o mercado especulava sobre
qual deveria ser a elevação a ser realizada pelo FED para conter a inflação nos
EUA”, comenta Lima.
Ainda segundo o analista, independente
do que aconteça, é importante que o investidor esteja preparado para bastante
volatilidade até que a poeira abaixe, o que pode gerar boas oportunidades para
operações no VIX, o índice de volatilidade implícita das opções de curto prazo
da bolsa de opções de Chicago, a CBOE.
“Por meio de ETFs é possível assumir
tanto posições compradas quanto vendidas no índice, o que permite apostar tanto
na alta da volatilidade quanto na sua redução, caso se acredite que o pior da
crise já passou. Desde o início da crise na Ucrânia, o VIX sobe mais de 50%, se
encontrando atualmente em 28,15, nível que muitos analistas consideram
elevado”, orienta Rodrigo.
Impactos do embate no comércio exterior
Em 2021, segundo dados da Logcomex - startup focada em Big Data para
Comércio Exterior - a Rússia foi a principal fornecedora de cloreto de potássio
para o Brasil em valor transacionado, com US$ 1.444.217.232,45 (34,11% do
total), e a segunda em peso transacionado com 3,84 mil toneladas (29,11% do
total).
“Quando falamos em comércio exterior, a
Rússia, sem dúvidas, é um dos principais parceiros comerciais brasileiros ao
longo dos últimos anos. Só no ano passado, o país estava em décimo lugar entre
os países que o Brasil mais importou”, comenta Helmuth Hofstatter Filho, CEO da
Logcomex.
Entre os principais produtos estão os
insumos para a produção de fertilizantes. Segundo Helmuth, isso é motivo de
alerta. “Se analisarmos os principais produtos importados da Rússia, vemos
cloretos de potássio, amônio e uréia, que são componentes importantes para a
produção de fertilizantes. Dessa maneira, caso o conflito acarrete na redução
do fornecimento desses suprimentos, a tendência é o setor do agronegócio sofrer
com isso”, avalia Hofstatter Filho.
Além disso, a Rússia é um dos principais
produtores de trigo e milho do mundo, o que poderia acarretar diretamente na
vida do produto e consumidor brasileiro. “Caso o conflito faça com que o
fornecimento dessas commodities seja freado, o produto brasileiro ganha, já que
o preço delas deve encarecer. Por outro lado, o consumidor perde, já que com as
mercadorias sendo vendidas para o exterior a oferta no Brasil fica mais
escassa”, explica Helmuth.
Confira os 10 produtos russos mais
importados pelo Brasil em 2021:
Cloretos de potássio -
US$1.444.217.232,45;
Diidrogeno-ortofosfato de amônio -
US$889.095.810,39;
Uréia - US$ 514.303.474,02;
Hulha betuminosa - US$ 411.738.423,17;
Nitrato de amônio - US$ 397.119.747,44;
Adubos (fertilizantes) minerais ou
químicos, que contenham os três elementos fertilizantes: Nitrogênio (azoto),
fósforo e potássio - $354.633.490.25;
Alumínio - US$138.708.682,55;
Hulha antracito - U$66.084.187,48,
Malte - $64.032.076,51;
Produtos laminados planos de ferro ou aço - $54.417.823,68.
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