Especialistas debatem ecossistemas sustentáveis e inovadores ao agronegócio do futuro
Produção
sustentável de alimentos frente às mudanças climáticas e inovabilidade também
foram tema do Fórum AgriFutura
Luciana Harumi Hashiba, Vice-Coordenadora do
FGVIN
Caio Cestari
Sustentabilidade foi a palavra que norteou as
discussões do Fórum AgriFutura como principal pilar aliado à inovação e
tecnologia para o avanço do agronegócio e da segurança alimentar mundial. O
evento, realizado pela Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de
São Paulo e pela Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), em 12
e 13 de março, no Instituto Biológico (IB-APTA), antecipou tendências,
problemáticas e soluções, com a perspectiva de oferecer mais alimento, com
maior produtividade e respeito à terra e aos ecossistemas.
Mudanças climáticas, segurança alimentar da população,
alternativas de produção, inovação e tecnologia tiveram amplo espaço de debate
durante o Fórum. O evento conectou várias pontas da cadeia produtiva, como
os setores de pesquisas, desenvolvedores de startups e o próprio mercado na
busca por tecnologias, processos e políticas públicas. Dessa conexão devem
surgir novos negócios, com impacto positivo para a sociedade, do campo ao
consumidor.
O primeiro painel do Fórum abordou os Ecossistemas de Inovação no
Agronegócio, com apresentações de iniciativas inovadoras do
estado em parcerias público-privadas, além de discutir a segurança jurídica e a
agilidade do sistema, com destaque para a importância da integração entre os
hubs de inovação do agronegócio e linhas de financiamento disponíveis para
pesquisa.
Para essa discussão participaram os especialistas
Luciana Harumi Hashiba, vice-coordenadora do FGVin – Centro de Inovação da FGV
EAESP e coordenadora de Inovação da Fapesp; Rafael Andery, subsecretário de
Ciência, Tecnologia e Inovação da Secretaria de Desenvolvimento Econômico do
Estado de São Paulo; José Augusto Tomé, CEO da AGTech Garage; e Sergio Tutui,
coordenador da APTA. Eles abordaram a inovação no setor, que ocorre por meio de
diversos agentes na cadeia de produção, como um fator preponderante para o
desenvolvimento sustentável do agro.
O financiamento da inovação do agro por meio de
iniciativas do Governo do Estado foi abordado pelos debatedores, que destacaram
os avanços alcançados com a Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (Pipe), um
programa da Fapesp que apoia a execução de pesquisa científica e tecnológica em
empresas no estado.
Rafael Andery, falou sobre a necessidade da transição
de uma agricultura industrial para digital, processo em pleno avanço no país.
Aliado a isso, as iniciativas do Governo do Estado de SP, por meio da
Secretaria de Agricultura e Abastecimento, fomentam cada vez mais a relação
entre o ambiente das universidades e as startups, junção que alavanca o
crescimento produtivo e melhora os indicadores sociais.
Mudanças
climáticas
Com foco na Produção
sustentável de alimentos frente às mudanças climáticas, o
segundo painel do AgriFutura trouxe ideias para alavancar soluções de curto,
médio e longo prazo para o setor produtivo, com a apresentação de alternativas
tecnológicas e de proteção ao meio ambiente que ajudam a garantir a segurança
alimentar da população.
Com a previsão de que a temperatura global aumente em
torno de 1,5 ºC a 2ºC neste século e os aumentos de eventos extremos, longos
períodos de estiagem, chuvas intensas e calor excessivo em diferentes partes do
planeta, os desafios para a agricultura são urgentes.
Uma projeção feita com este cenário no plantio de
soja, no centro-oeste do Brasil, onde se concentram as maiores produções, o
impacto causado pelas altas temperaturas será de seca extrema nessa região.
Este fato exigirá ter mais variedade de sementes resistentes ao estio, atrasar
e ou antecipar a semeadura em relação à época recomendada, gerando impactos
como a redução de produtividade e a dificuldade no planejamento de plantio nas
lavouras.
A diretora da Unidade de Agricultura e de Meio
Ambiente do Instituto Biosistêmico, Priscila Terrazzan, explicou, em sua
palestra, que a agricultura do planeta terá que viabilizar soluções para
problemas cada vez mais complexos, como produções a céu aberto sob a influência
de um clima que não é controlado; restrições de produtividade que ampliam o
desafio de ofertar mais alimentos; gastos com energia, insumos e mão-de-obra
cada vez mais altos; necessidade de assistência técnica; custos com
equipamentos e infraestrutura; falta de sucessores nas propriedades rurais e
pressão para os ajustes no mercado.
Segundo Priscila, existem hoje tecnologias que podem
contribuir para reduzir a emissão de CO2, um dos grandes diferenciais do setor
para a adaptação e enfrentamento das mudanças climáticas. Ela aponta para a
necessidade de implantar essas medidas, como a redução do desmatamento,
implementação de ILPF, plantio direto, agricultura regenerativa, biodefensivos,
aumento da escala de qualidade e eficiência, e fazer a mensuração de emissão de
CO2, como forma de mitigar os problemas que se avizinham.
Inovabilidade
O terceiro e último painel do AgriFutura discutiu a Inovabilidade. Mediado
por Cyntia Curcio, líder de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da Fundepag
contou com debatedores e palestrante que apresentaram projetos de sucesso, que
já geram importantes resultados para o agronegócio.
João Ceridono, da Quintessa, Gestor de Programas em
Parcerias, trabalha com inovação sustentável desde 2009, e ressaltou que o
grande desafio está na mudança de mentalidade nos negócios: “As inovações têm
que ser inevitavelmente sustentáveis”.
A palestra de Ceridono esteve recheada de exemplos, cases sobre a
inovabilidade, elucidando pontos, como redução de custos, geração de receitas,
diminuição de impacto ambiental e inovações de startups que possibilitam bater as
mais variadas metas de sustentabilidade. “É olhar a sustentabilidade de forma
transversal, em todos os lugares da empresa, e podendo gerar dinheiro.”
A debatedora Renata Branco Arnandes, diretora do
Departamento de Gestão Estratégica da APTA e pesquisadora do Instituto de
Zootecnia (IZ-APTA), expôs sobre a sustentabilidade na pecuária e tecnicamente
desmistificou muitas informações que circulam atualmente. “Apesar de causar
certo desconforto quando se aborda o tema, posso dizer que não há nada mais sustentável
que a pecuária. A pecuária é parte da solução.”
O Brasil assumiu um compromisso de reduzir em 30% as
emissões de metano. E os trabalhos científicos mostram que as tecnologias
geradas conseguem trabalhar para o sequestro do gás. “A pesquisa mostra que a
pecuária pode ser uma aliada na redução das emissões de metano, pois no
ruminante é cíclico – o animal consome capim verde e gramínea seca, e
transforma de novo em proteína de alto valor biológico”, destaca Renata. Ela
ainda salienta para quem deseja inovar e empreender no agro, a visitar um
Instituto de Pesquisa, para estabelecer o elo neste ecossistema da inovação.
Para Natália Zanon Carvalho, empresária e
sócio-fundadora da ZanonAgro, o maior desafio é integrar a pesquisa com o
empreendedor e as iniciativas de inovação existentes. “Para empreender de forma
sustentável e inovadora, basta buscar e torna-se o elo nesse meio”, destacou.
O diretor de Pesquisa de Novos Negócios do Grupo
Jacto, Tsen Chung Kang, falou sobre a Convergência Biodigital 1.0, com três
cadeias - do agro, alimento e saúde -, e refletiu sobre a escada do
empreendedorismo. “Temos que construir essa carreira de empreendedor, iniciando
na base, desde muito cedo, já descobrir quem são os diamantes da área. A
sustentabilidade da inovação passa por um processo de desenvolvimento de
empreendedores, e vocacionar essa pessoa é importante para o Brasil”.
Sobre o AgriFutura
Além do Fórum, o AgriFutura promoveu a competição
entre startups, proporcionando um espaço para que as agtechs, foodtechs, biotechs e
fintechs apresentem seus projetos, ideias e produtos, em
formato de pitches, para uma banca julgadora, com representantes do agro e um
investidor.
Confira mais informações no site www.agrifuturaoficial.com.br
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