Mulher na Medicina - desafios, dedicação e conquistas
Por Dra. Camila Baumann Beteli
O Dia Internacional da Mulher, criado em
1910 e oficializado pela ONU em 1975, teve como objetivo homenagear a luta de
130 operárias que morreram carbonizadas no dia 8 de março de 1857, enquanto
reivindicavam por melhores condições de trabalho nos Estados Unidos, como a
redução da carga horária, a igualdade salarial e o tratamento digno no ambiente
de trabalho. A data representa um símbolo de luta e de autoafirmação da mulher
nos mais diversos âmbitos sociais.
Na área da Medicina, o ofício da cura
era exclusivamente masculino, até 1849, quando a americana Elizabeth Blackwell
tornou-se a primeira mulher a receber o título de médica no mundo, após dez
universidades terem rejeitado sua admissão. Trinta anos depois, Maria Augusta
Generoso Estrela foi a primeira brasileira a se graduar em medicina, nos
Estados Unidos, uma vez que era vedado às mulheres o acesso ao ensino superior
no Brasil.
A primeira médica diplomada em
universidade brasileira foi Rita Lobato Lopes, em 1887. A partir dessa data,
observamos uma crescente participação feminina na área médica, culminando com o
observado atualmente: a maioria dos graduandos em Medicina é mulher.
Apesar desse número progressivamente
maior de mulheres na Medicina, as especialidades cirúrgicas permanecem como um
nicho predominantemente masculino em todo o mundo.
A cirurgia é, de longa data, uma
especialidade essencialmente masculina, devido à ideia de estar mais associada
à necessidade de maior força e resistência física, formação mais demorada,
exigência de maior disponibilidade de tempo e dificuldade de coordenar práticas
profissionais com a vida familiar.
No campo da Cirurgia Vascular,
atualmente nos Estados Unidos, as mulheres correspondem a apenas 14,6% dos
profissionais atuantes. Disparidade semelhante pode ser observada no Brasil,
onde os homens representam 78,8% dos cirurgiões vasculares no estado de São
Paulo.
Além disso, proporcionalmente, as
cirurgiãs vasculares ocupam menos espaço nos cargos de liderança e na produção
acadêmica, evidenciando que, a despeito do aumento no número de cirurgiãs, seu
avanço nas posições influentes e de maior prestígio permanece limitado.
No que diz respeito à remuneração, em
estudo recente publicado pela FMUSP, as mulheres médicas ganham 77% de renda em
comparação com os homens. A desigualdade salarial foi explicada unicamente pela
questão do gênero; um paradoxo, levando em conta que no Brasil há um número
crescente de mulheres exercendo a profissão de médica ou que estão nas escolas
de Medicina.
Nesse processo de feminização da Medicina,
destacam-se a melhor relação médico-paciente o envolvimento dos pacientes nas
tomadas de decisão, a eficácia das ações preventivas, a otimização de recursos,
o melhor atendimento às populações em contexto de vulnerabilidade e o respeito
às preferências individuais dos pacientes.
Um longo e árduo caminho foi percorrido
pelas mulheres que nos antecederam para que hoje pudéssemos escolher nossa
profissão e nossa amada especialidade, a Cirurgia Vascular. Seguiremos
trilhando esse percurso que nos levará ao direito das mulheres de protagonizar
a tomada de decisões em todas as áreas da vida, com remuneração igualitária,
divisão de trabalho doméstico e de cuidados não remunerados, e o fim de todas
as formas de violência contra a mulher.
Dra. Camila Baumann Beteli
Angiologista e cirurgiã vascular
Membro da Comissão de Varizes da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular – Regional São Paulo (SBACV-SP)
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