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O empreendedorismo feminino volta a crescer e os velhos desafios permanecem

Divulgação - Literare Books International

Patrícia Mello (*)

 

Março, maio e novembro são meses nos quais, inevitavelmente, os assuntos relacionados ao universo feminino ficam em alta em todos os tipos de mídia. Dia Internacional da Mulher, Dia das Mães e Dia do Empreendedorismo Feminino são datas importantes e que nos convidam a celebrações, mas também a ações que vão além do comercial.

Os desafios das mulheres são diários e muitos são velhos conhecidos. Nos últimos cem anos tivemos muitos avanços. As mudanças culturais popularizadas pelas artes, as invenções que vieram para facilitar o dia a dia e principalmente a chegada de novos métodos contraceptivos deram a um grupo de mulheres maior poder de escolha sobre o que fazer com a sua vida e como utilizar seu próprio tempo.

E, graças a muitas mulheres que foram e que são incansáveis em fazer as vozes femininas serem ouvidas, em 2022 o Brasil pode se orgulhar de ter 30 milhões de mulheres empreendedoras. Os dados são do SEBRAE e apontam que ocupamos o 7º lugar no ranking internacional de países com maior número de empreendedores do sexo feminino!

Precisamos celebrar cada uma dessas conquistas históricas sem perder de vista o fato de que ainda há muito a ser feito para garantir que as futuras gerações vivam num mundo com equidade. E que, ainda que cada vez mais mulheres consigam enxergar dentro de si as habilidades necessárias para empreender e que estejam indo em busca de melhor qualidade de vida por meio do empreendedorismo, os desafios que elas enfrentam perduram na longa duração da história do nosso país.

E o principal deles continua sendo a dupla jornada. Isso se deve a dois fatores que demandam a nossa atenção para uma tentativa de solução.

Hoje, em pleno século XXI, o machismo estrutural ainda existe e o peso do patriarcado recai sobre as costas das mulheres. Isso impõe limites a muitos negócios femininos. Para a sociedade, as mulheres são livres para empreender, mas o desde que continua existindo. A norma velada continua sendo: a mulher é livre para empreender desde que seja uma boa mãe e dê conta da casa.

Será que a pandemia trouxe alguma mudança para o empreendedorismo feminino?
Pequenos negócios, sobretudo os que surgiram na realidade pandêmica e puderam se beneficiar da normatização das estruturas e de equipes remotas permitem que as mulheres possam empreender sem perder o privilégio de acompanhar de perto o crescimento dos filhos.

Digo privilégio porque é muito comum ver mães se sentindo tristes e culpadas ao deixar seus filhos para cuidar de seus negócios ou carreiras. Esse é o outro lado da moeda do patriarcado.

Não se trata apenas de empurrar para a mulher a responsabilidade exclusiva do cuidado com a casa e com a família e ela aceitar. Se trata também desse sentimento de culpa e da autocobrança por uma perfeição inatingível em todos os papéis que essa mulher desempenha.

É inegável que os modelos de negócios surgidos na pandemia e a crescente popularização dos negócios digitais, permitem que a mulher que empreende em home office possa dispor de liberdade de tempo para estar presente na vida dos filhos. O grande desafio aí é não deixar que as demandas da casa e dos filhos consumam a maior parte do seu tempo.

As dinâmicas familiares que existiam antes do negócio surgir podiam funcionar, mas certamente precisarão ser revisadas. Empreender com o tempo que sobra só é aceitável num estágio muito inicial, quando se ainda está fazendo a transição da CLT para o empreendedorismo. Ou quando se empreende para complementar renda.

Além de ser um formato exaustivo, para um negócio crescer e dar suporte ao seu estilo de vida, é preciso dedicação de tempo e energia, planejamento e cuidado, ação e revisão dos resultados para possíveis ajustes, foco e disciplina. A rotina e a mentalidade de uma empreendedora fazem toda a diferença no sucesso do negócio.

O que fazer para contornar essa situação?
Não tenha medo de pedir ajuda, de assumir que você não dá conta de tudo sozinha nem de revisar os acordos familiares. Faça uma lista de responsabilidades que cada um tem dentro de casa e negocie o que pode ser redistribuído entre os membros da família para que você possa abrir espaço na sua agenda para cuidar do seu negócio.

Quando for revisar os acordos e estabelecer os novos, lembre-se de usar uma comunicação empática ao invés de culpar os outros ou só reclamar. Quando nos comunicamos com críticas não conseguimos a colaboração que tanto esperamos, apenas resistência e autodefesa. Então, seja congruente com a sua intenção e deixe isso refletir na sua fala e no seu comportamento.

Se você não tem uma rede de apoio, abra mão do perfeccionismo e entenda que, por algum tempo, determinadas tarefas de casa ficarão inacabadas. A casa terá um pouco mais de poeira e de bagunça. A pilha de roupa suja demorará mais a ficar limpa e passada. A louça vai dormir suja na pia e você não vai perder o sono por isso.

Lembre-se que isso é temporário e que quando seu negócio crescer você poderá investir numa rede de apoio, contratando profissionais e serviços para facilitar o seu dia a dia, permitindo que você descentralize algumas tarefas.

E, o mais importante, escolha se dar amor e acolhimento ao invés de se dar críticas e punições. Empreender não é uma jornada fácil para ninguém. E, para nós mulheres, o ponto de partida é sempre diferente.

Você vai errar no seu caminho. Você vai ter que deixar algumas coisas em segundo plano. Você vai ter que aprender a dizer não. Você, infelizmente, vai ser julgada e questionada. Mas não permita que esse julgamento e esse questionamento partam de você.

Seja você a sua rede de apoio e o seu porto seguro. Celebre cada uma de suas conquistas, mesmo as pequenas. Afirme sempre que você está fazendo o melhor que você pode com aquilo que você tem hoje. Inclua pequenos gestos de autoamor e autocuidado na sua rotina. Separe um tempo só para você. O tempo para o relacionamento e o tempo para os filhos não são um tempo para você, por mais que isso seja prazeroso e essencial. Lembre-se sempre do seu porquê. Assim você se sentirá mais feliz e confiante e verá o quanto a sua culpa e a busca pela perfeição ficarão bem disciplinadas.


(*) Patrícia Melo - Empreendedora Digital, Especialista em Empreendedorismo Feminino, Palestrante e Mentora de Empreendedoras que querem ter resultados financeiros nos negócios sendo autênticas nas Redes Sociais. Coautora do livro “Todo mundo merece um coach”, pela Literare Books International

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