Ódio do bem X Amor do mal
Foto por: Laisa de Souza
*Beatriz Breves
Ao migrar da
visão Newtoniana de universo, aquela que compreende a natureza e a humanidade,
pela ótica materialista e mecanicista, para uma visão vibracional, o ser humano
passa a ser compreendido como um complexo vibracional uno, inteiro e
indivisível.
A partir dessa visão, baseando-me na
Ciência do Sentir, os sentimentos são compreendidos como a experiência
vibracional que a pessoa sente da própria vibração que é enquanto ser humano e
daquela que resulta da sua interação com o meio. Acrescenta-se que são mais de
500 possibilidades de sentimentos que, interagindo entre si, constituem uma
complexidade impossível de ser separada, onde se um sentimento é ativado, a
imagem de um efeito dominó, vários outros são ressoados.
Assim, no nomeado “ódio do bem”, a confirmação
de que o sentimento de ódio estará a serviço do bem vai depender dos outros
sentimentos que juntos estarão sendo ativados e, também, de como serão usados
pela pessoa que o sente. Um possível uso construtivo do ódio, que poderia
servir de alicerce para uma atitude de garra, seria quando, ao ativar o
ódio, a pessoa fizesse ressoar dentro de si a força e, assim, ela decidisse
investir na coragem, ousadia, persistência.
Entretanto, um possível uso destrutivo
do ódio, que poderia se revelar em atitudes de tirania, seria quando,
ao ativar o ódio, a pessoa fizesse ressoar dentro de si a vingança e, assim,
ela decidisse investir na crueldade, desprezo, dominação, entre outros. No que
tange ao “ódio do bem”,
se este sentimento é usado em nome de um ideal que se propõe a benefícios, ele
estaria ativando o sentimento de amor naquela pessoa que o sente. Todavia,
a questão que se apresenta é que o amor também pode, assim como o ódio,
ter um uso construtivo ou destrutivo.
Um possível uso construtivo do
amor, que poderia se revelar em atitudes de autonomia, seria quando,
ao ativar o amor, a pessoa fizesse ressoar dentro de si a confiança e, assim,
ela decidisse investir na esperança, no otimismo ou na prosperidade.
Entretanto, um possível uso destrutivo
do amor, que poderia se revelar em atitudes intransigentes, seria
quando, ao ativar o amor, a pessoa fizesse ressoar o ciúme e, assim, ela
decidisse investir na posse, no apego, no orgulho, etc. Sendo assim, o que irá
determinar se os sentimentos de uma pessoa estarão a favor do que é ou não
construtivo será o uso que, de modo a nortear as suas ações, ela irá fazer
deles.
O que tem sido observado na prática do
“ódio do bem” são
agressões que, se iniciando em diversos xingamentos desrespeitosos, podem
chegar a atitudes de violência tanto física quanto moral, muitas vezes até
extremadas. Fato é que o “ódio
do bem” tem se apresentado com uma prática impregnada de
intolerância, arrogância e prepotência.
Acrescenta-se ainda que é uma prática
que se valida ao espelho, ou seja, as pessoas só aceitam a existência dos pares
iguais, devendo, a qualquer preço, ser banido o que se apresenta diferente.
Desta forma, não fica difícil considerar que esse tipo de ódio se afina pelo
amor narcísico e, juntos, formam uma complexidade afetiva ódio-amor.
Complexidade ódio-amor que impõe o
funcionamento robótico, ou seja, aquele que, enquadrando as pessoas em um único
programa de pensar, elimina as diferenças e anula a individualidade. Em sendo
assim a prática do “ódio do
bem” objetiva transformar as pessoas em cópias espelhadas umas das
outras, a desumanizar o humano e a promover, ao impedir a expansão pelas
diferenças, a atrofia pessoal.
Portanto, entendo o “ódio do bem’’ como sendo o
reflexo em espelho do "amor
do mal”, ou seja, daquele amor que agregado ao ódio, juntos e
misturados, formam uma complexidade que incorpora a tonalidade narcisista.
Tonalidade essa que leva a pessoa a sentir-se ferida por aquele que não lhe é
igual, a arrojar-se em um ideal que, de forma autoritária, investe
na transformação das pessoas em réplicas humanoides, ou seja, na anulação do
ser humano como ser sensível, criativo e pensante.
*Beatriz Breves é psicóloga, psicanalista, física e psicoterapeuta. Sua especialidade é a Ciência do Sentir e os mais de 500 sentimentos listados durante 35 anos de pesquisa.
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