A importância do chamado à paternidade ativa
Cynara Monteiro Mariano (*)
Por ocasião das
comemorações ainda relativas ao Dia Internacional das Mulheres, realizadas em
março, é importante destacar, para além da celebração das conquistas, que os
desafios que perduram no tocante à igualdade não se encontram superados com as
sucessivas ondas do feminismo.
Isso pode fazer crer
que as demandas devem se voltar apenas às questões relacionadas à esfera
pública, como a cobrança de políticas públicas destinadas a corrigir os
desníveis salariais, a ocupação desigual das vagas de gestão e decisão nas
corporações ou a participação feminina na política ainda tímida.
A primeira onda do
feminismo, de fins do século XIX e início do século XX, nos fez romper as
barreiras do ambiente doméstico e dos cuidados com o lar e com os filhos, ao
qual éramos confinadas no passado, para ganhar o espaço público e nossas
liberdades políticas, evoluindo depois para a conquista de direitos sociais e
econômicos. Duplicamos ou triplicamos a nossa jornada de vida, vendo-nos
obrigadas ao exercício constante, dolorido e exaustivo do equilíbrio entre as
esferas pública e privada.
Ao contrário do que
muitos podem pensar, esse não foi o preço da liberdade. Esse foi o resultado de
uma revolução que se fez incompleta, sem que os homens abdicassem ou fossem
forçados a renunciar aos seus privilégios, permanecendo ausentes dos cuidados
com a família.
Segundo Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios Continuada do IPEA (2019), nós, mulheres,
gastamos em média mais de 61 horas por semana em trabalhos não remunerados no
Brasil, voltados aos cuidados com os filhos e com familiares idosos ou doentes.
Por sua vez, conforme o
Relatório “Os afazeres domésticos contam” do IBGE (2019), esse trabalho
não remunerado com os cuidados corresponde a 11% do PIB, o que supera qualquer
indústria e significa o dobro que todo o setor agropecuário produz no país.
Os homens também fazem
esse trabalho, mas com uma participação ainda pouco expressiva, quando
comparada à participação das mulheres. A ausência masculina nos cuidados, além
de ser fruto de uma reprodução secular da divisão sexual do trabalho doméstico,
provoca dor, sofrimento e adoecimento indistintamente em mães, filhos e nos
próprios pais.
Portanto, precisamos
revigorar nosso chamado aos homens em direção à paternidade ativa, dividindo
conosco essa difícil arte, que combina delícias e dores, do equilíbrio entre as
esferas pública e privada. Não superamos ainda a desigualdade dos papéis
desempenhados por homens e mulheres no ambiente doméstico e precisamos falar
disso, não apenas para fins da igualdade de gênero, mas também para educar
filhos, filhas e todes de forma saudável, aptos a desenvolverem competências
socioemocionais, imprescindíveis em uma sociedade que cada vez mais desafia e
demanda a todos.
(*) Cynara Monteiro Mariano - Advogada, professora da UFC e autora do livro “O Pai de Carlinhos: uma história sobre economia do cuidado e paternidade ativa”.
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