O que podemos aprender com 2021, ano marcado por diversos casos de vazamentos de dados
Luiz Ricardo de Castilho é advogado,
especialista em Direito Penal e Processual Penal e atua no escritório Rücker
Curi Advocacia e Consultoria Jurídica na área de Seguros.
Divulgação
Em 2021, o Brasil
foi o 6º país mais atingido por vazamentos de dados de acordo com um
levantamento da empresa Surfshark, que atua na área de ferramentas de
privacidade e segurança online. No âmbito empresarial não foi diferente. Só no
primeiro semestre de 2021, pelo menos 69 instituições brasileiras foram alvo de
ataques de vazamento e sequestro de dados, conforme dados da Apura Cyber
Intelligence. E, embora muito tenha sido noticiado e comentado a respeito,
grande parte da população ainda desconhece a gravidade desses vazamentos.
A descrição sobre o
que é um dado pessoal está prevista na Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais
(LGPD), especificamente em seu artigo 5º, na qual considera toda informação
relacionada a uma pessoa natural. A LGPD define, ainda, como informações sensíveis
aquelas “sobre origem racial
ou étnica, convicção religiosa, opinião política, filiação a sindicato ou a
organização de caráter religioso, filosófico ou político, dado referente à
saúde ou à vida sexual, dado genético ou biométrico, quando vinculado a uma
pessoa natural”. Neste sentido, podemos entender como
vazamento de dados a quebra da segurança dessas informações, a exposição sem a
permissão da pessoa titular desses dados que, consequentemente, viola a
confidencialidade dos dados pessoais que estão sob os cuidados do encarregado
por essa segurança.
Em 2021, os
brasileiros foram surpreendidos com uma sequência quase interminável de
incidentes de segurança tanto no setor público, com o ConecteSUS, Ministérios
da Saúde, da Economia e do Trabalho, Polícia Rodoviária Federal e Controladoria
Geral da União, quanto no setor privado, com os vazamentos da Experian,
Magazine Luíza, Mercado Livre, Shopee, Amazon e Americanas.
Estima-se que mais
de 220 milhões de dados pessoais tenham sido expostos, os quais provavelmente
estão sendo vendidos neste exato momento de forma ilegal. A vulnerabilidade na
segurança de informação ficou marcada para sempre, deixando comprovado que o
setor de cibersegurança está longe de ser seguro.
Mesmo com a
existência do Marco Civil da Internet e a LGPD, tais vazamentos jamais serão
revertidos. Mesmo na iminência de uma contenção ou recuperação rápida do banco
de dados pelo encarregado, as informações copiadas provavelmente ficarão para
sempre na web.
Muitos destes
incidentes de segurança foram causados por software
malicioso (malware),
um sistema desenvolvido para infectar o computador de um determinado usuário. O
mais utilizado nos casos de vazamentos de dados é o Ransomware, responsável por
criptografar (bloquear) banco de dados, exigindo-se resgate, normalmente com
pagamento em criptomoedas.
Ocorre que, muitos
dos vazamentos ocorridos em 2021 eram evitáveis, ou seja, ocorreram devido ao
erro humano, descuido e inobservância dos procedimentos de segurança
estabelecidos pela empresa pública ou privada. Um incidente de segurança passou
de ser apenas uma simples planilha. Hoje, na era da informação, qualquer dado o
mais simples possível se torna uma moeda valiosa. Não por acaso o direito à
proteção dos dados pessoais foi elevado como uma garantia fundamental em nossa
carta magna (art. 5º, LXXIX, CF/88).
Exige-se, portanto,
uma responsabilidade ainda maior por parte dos responsáveis pelo tratamento de
dados e uma intensificação nas fiscalizações por parte da Autoridade Nacional
de Proteção de Dados (ANPD), não esquecendo que a segurança não depende
exclusivamente do ente governamental ou da equipe de tecnologia de determinada
empresa. A segurança das informações deve funcionar como um núcleo, uma
organização viva, na qual cada etapa, da coleta ao armazenamento e o tratamento
desses dados, possua um fluxo rigoroso e que esteja em constante fiscalização e
aprimoramento.
*Luiz Ricardo de Castilho é advogado, especialista em Direito Penal e Processual Penal e pós-graduando em Privacidade e Proteção de Dados. Atua no escritório Rücker Curi Advocacia e Consultoria Jurídica na área de Seguros.
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