Transtornos psiquiátricos catalisados pelo luto de vítimas de COVID-19
Médico psiquiatra comenta a situação exclusiva de pessoas que perderam parentes queridos durante a pandemia; A ansiedade e o transtorno de humor são os mais prevalentes nesses casos
Crédito: Canva
São Paulo, abril de
2022-
A pandemia, gerada pela COVID-19, está longe de acabar, justamente quando
"parece" estar na UTI. A aceleração e eficácia das vacinas têm dado
segurança, fazendo com que países adotem medidas menos rígidas em relação
ao vírus. Segundo os levantamentos da pesquisa constante do Our World in Data, proposta
pela universidade de Oxford no Reino Unido, mais de 6 milhões de pessoas em
todo o mundo já morreram devido a Covid-19, sendo que no Brasil, o número se
aproxima de 700 mil.
Enquanto as mortes
prosseguirão por um longo período, especialistas alertam para uma consequência
da COVID-19: a saúde mental pós luto. De acordo com um manual “ Processo de
Luto no Contexto da Covid-19”, elaborado pelo Instituto Fiocruz, a pandemia
traz impactos para a saúde mental que pode envolver perdas e dores profundas.
Diante disso, faz-se necessário pensar em alternativas que possam ajudar a
lidar com aspectos novos das perdas na era do coronavírus, uma vez que os
rituais em torno da morte, tão importantes para o luto, precisam ser
redesenhados e ressignificados nesse contexto.
Para o Dr. Ariel
Lipman, médico especialista em psiquiatria e diretor da SIG Residência
Terapêutica, a dor da perda nesse caso, em especial, pode vir a ser diferente
de outros. “Um dos motivos para tal, é porque a situação colocada pelo vírus é
nova em relação a outras doenças. As mudanças no cenário causadas pela pandemia
foram extremamente repentinas, o que possibilitou confusão e insegurança entre
as pessoas, sentimentos que podem vir a gerar estresse”, explica.
De acordo com o
levantamento da clínica, com base nos pacientes atendidos, os transtornos que
mais foram desenvolvidos por indivíduos de luto são os de humor e ansiedade. O
transtorno de humor se caracteriza por alterações emocionais durante um longo
período de tempo, alternando entre tristeza profunda e exaltação excessiva. Já
a ansiedade é um distúrbio na saúde mental que consiste em extrema preocupação
a ponto de interferir na vida cotidiana do indivíduo que a obtém. Dependendo do
grau da ansiedade, há a possibilidade em alguns casos dela proporcionar ataques
de pânico e até transtorno obsessivo compulsivo.
“Nós sabemos que os
transtornos psiquiátricos têm origem multifatorial. Fatores estressantes
costumam representar um forte catalisador para o adoecimento psíquico, e, sem
dúvida, essa pandemia foi um dos fatores mais estressantes que as últimas
gerações já vivenciaram. Quando junta a pandemia em si, aliada ao luto da perda
de parentes, pudemos notar um aumento expressivo da demanda de pacientes com
transtornos psiquiátricos.”complementa.
A explicação de tudo
isso pode ser justificada pela existência da pandemia, excesso de notícias prós
e contras, a “culpa” por não tomar todos os cuidados possíveis e ter um parente
nas estatísticas da pandemia. “Isso pode servir de gatilho, e a constante
lembrança do ente querido pela referência que se faz da doença o tempo todo,
nas mídias, redes sociais, etc”. finaliza o médico.
Sobre a Sig
Fundada em 2011, no Rio de Janeiro, a Sig Residência Terapêutica, surgiu com o propósito de trazer um novo olhar em transtornos de saúde mental, com um tratamento humanizado, inclusivo e visando a ressocialização do paciente. Conta com 3 unidades, sendo duas na cidade do Rio de Janeiro e uma em São Paulo. Atualmente é gerida pelos sócios Dr. Ariel Lipman, Dra. Flávia Schueler, Dra.Anna Simões, Elmar Martins e Roberto Szterenzejer.
Nenhum comentário