A Educação financeira e os reflexos na construção da independência financeira das mulheres
Por Charys Oliveira, gerente de saúde financeira da Ahfin
No último ano, três
pesquisadores brasileiros da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing)
de São Paulo trabalharam para responder a uma pergunta: “o que prejudica as
finanças das mulheres?”. Eles analisaram
130 artigos científicos publicados entre 1990 e 2020 e
concluíram que muitos elementos familiares, individuais, comunitários e sociais
interferem nas finanças femininas.
Mas em destaque temos
o casamento como um desses elementos, que de modo positivo traz uma sensação de
bem-estar, de segurança financeira e soma de receitas. Contudo, outros
elementos que têm relação direta com o casamento afetam diretamente a prosperidade
financeira das mulheres. O primeiro é a maternidade. Sabemos o quanto esse
fator pode afetar a nossa garantia de empregabilidade e renda. E, se ainda não
bastasse, a pesquisa aponta que depois da maternidade os salários tendem a
reduzir em até 9%. Ou seja, se os salários já não são iguais entre homens e
mulheres, piora para mulheres mães. Violência doméstica e acúmulo de tarefas –
em média as mulheres realizam em torno de 21
horas semanais de trabalhos domésticos e os homens apenas 11 horas – completam
a lista.
Para os pesquisadores,
diante dessas diferenças e dificuldades atribuídas ao universo feminino, é
estratégico o desenvolvimento de projetos e políticas na área de finanças
voltados especificamente para mulheres. Dito isso, você pode estar com uma
pergunta: é realmente importante as mulheres consumirem conteúdos de educação
financeira voltados para elas?
Para começar, do ponto
de vista histórico a vida financeira da mulher é muito recente. No Brasil, ela só pôde abrir conta bancária a partir
de 1962. Antes disso, ela tinha de pedir autorização para o marido
ou para o pai. Assim, sempre que precisava fazer qualquer coisa, era o homem do
contexto social dela quem tomava conta, quem se responsabilizava. Se
observarmos atentamente, ainda hoje, por questões culturais e não mais de cunho
legal, é comum as mulheres delegarem para algum homem do seu contexto social a
tarefa de cuidar das finanças.
Curiosamente, isso é
muito contraditório, porque geralmente somos nós mulheres que cuidamos do
orçamento doméstico, do dinheiro do dia a dia na nossa família. Mas não
cuidamos do patrimônio. O resultado é que, em casos de divórcio, o padrão de
vida da mulher tende a cair. Em 67% dos
casamentos que acabam, o padrão de vida da mulher
diminui em até 70%, e muito porque ela até então via o casamento
como uma forma de segurança financeira.
Isso acontece porque,
apesar do direito de cuidar do próprio dinheiro, pouco ou quase nada se
ensinava a respeito do tema para elas. As mulheres cresceram sem o devido
preparo para ir além do orçamento doméstico. Por essa razão, é importante criar
políticas e conteúdo específico para o público feminino. Ao nichar, o assunto é
apresentado dentro da realidade feminina e em uma linguagem mais adequada.
Palestras, presenciais ou não, mas que reúnam apenas mulheres são uma forma de
fazê-las se sentirem mais à vontade, para perguntar o que pode parecer óbvio e
compartilhar erros.
No entanto, essa
separação não pode ser eterna. A educação financeira focada no feminino tem o
objetivo de inclusão, de mostrar o problema e dar à mulher o conhecimento
necessário para que ela seja bem-sucedida ao resolvê-lo sozinha. De participar
do mercado em igualdade de condições. Quando, no futuro, o cenário for outro,
claro que essa necessidade tenderá a ser menor. Ficar em uma bolha é importante
no começo, mas para crescer é preciso estourá-la.
Contudo, a dificuldade
maior está diretamente ligada à desigualdade salarial. De acordo com uma
pesquisa da Anbima, que ouviu 5,8 mil
pessoas de todas as classes sociais, as mulheres que não têm o
hábito de investir representam 72% da
população feminina. E não ter dinheiro é a explicação da maioria
para esse fato. Com salários 34%
menores do que os colegas homens, o desafio de esticar a renda é
mais uma tarefa estafante para as mulheres. Mas, uma boa educação financeira é
capaz de ajudar a melhorar essa realidade e otimizar a relação que elas têm com
o dinheiro para fazer boas escolhas e ganhar ainda mais confiança. Porém, só
consegue fazer isso quem tem conhecimento.
Falar sobre saúde
financeira é importante para todos, mas principalmente para as mulheres, que em
sua maioria ainda estão em desvantagem em relação aos homens. São muitas as que
abandonam seus sonhos por não terem uma vida financeira independente. E mesmo
para aquelas que trabalham fora, não ter uma vida financeira saudável é
extremamente prejudicial, pois o estresse causado por problemas relacionados à
falta de dinheiro afeta a produtividade, a concentração e a felicidade. Ter
renda própria importa, mas saber lidar com o dinheiro é um diferencial para uma
vida completa e saudável.
*Charys Oliveira é head de saúde financeira e branding da Ahfin, fintech RH com foco em saúde financeira – e-mail: ahfin@nbpress.com
Sobre
a Ahfin
Fundada em 2020, a Ahfin é uma fintech RH, incubada pela Ahgora Sistemas, com foco em saúde financeira. A empresa é um fruto de anos de observação de operações que não deram os lucros esperados e de como as preocupações financeiras individuais podem afetar o trabalho de toda uma equipe. Por isso, o conceito é de que, por meio do RH das empresas, o colaborador possa solicitar créditos financeiros de forma simples e livre de burocracias, ao mesmo tempo que a empresa zela pelo fim de suas preocupações – consequentemente fazendo com ele possa ter suas atenções novamente voltadas para o trabalho. Vale salientar que os benefícios oferecidos pela Ahfin não apresentam nenhum custo para a empresa – ahfin@nbpress.com
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